3 de janeiro de 2007

O país das SMS e dos telemóveis

De acordo com os dados divulgados ontem pelas três operadoras móveis portuguesas, foram processadas 996 milhões de mensagens escritas nos telemóveis, vulgo SMS (do inglês Short Message Service), entre os dias 22 de Dezembro e 1 de Janeiro.

O assustador número representa um aumento de 400 milhões relativamente ao mesmo período de 2005, tendo o pico de tráfego acontecido entre as 00:05 e 00:35 do primeiro dia do novo ano, altura em que foram enviadas ou recebidas 1250 SMS por segundo. Isto sem contar com as versões imagem, áudio, vídeo ou texto animado, as MMS (Multimedia Message Service), que na TMN atingiram cinco milhões e na Optimus 1,5 milhões (a Vodafone não disponibilizou informação relativa a este dado).

Num país viciado em telemóveis – no total existem 11,5 milhões de aparelhos activos –, é natural que a febre na sua utilização seja massiva. Com as abreviaturas e caracteres em código a ganharem expressão nas mensagens enviadas através deste sistema, não faltará muito para que não saibamos escrever num português correcto, coisa que, infelizmente, nesta altura, está apenas ao alcance de poucos.

Além de não ter enviado qualquer SMS nesta quadra festiva, confesso ter recebido somente um cartão de boas festas no Natal. Escrito com caneta e pela própria mão de quem o enviou, situação que parece cada vez mais rarear. Porque o feito único merece referência, louvo a minha amiga Patrícia que, ainda para mais, despachou-o bem cedo e a tempo de evitar a oportuna greve dos trabalhadores dos CTT.

Mas, voltando aos telemóveis... Noutro dia, calhou não ter o meu durante algumas horas (estava perdido algures em casa). Como não possuo rede fixa em casa, comprei um desses cartões da PT para poder telefonar e utilizei para o efeito uma cabina, essa preciosidade inaugurada no ano de 1938 em Portugal e que, nos dias de hoje, é maioritariamente utilizada pelos estrangeiros que habitam nesta porção de terra banhada pelo Atlântico.

A experiência durou pouco, até porque o dito logo apareceu, e provavelmente não se repetirá num futuro próximo. Para mal dos 16 mil postos de telefone públicos espalhados pelo país que ainda resistem à doença dos telemóveis.

8 comentários:

Catarina Delduque disse...

louvo o teu esforço... infelizmente, telefonar das cabines deste país é um esforço heróico que merecia uma medalha de louvor. telefonar só mesmo de cartão, porque a maioria das cabines (ou sou eu quem tem muito azar) engole as moedas e não deixa fazer chamadas, e os cartões estao concebidos para deixarem sempre um ou dois cêntimos, que nao sao gastos... somos um país de comunicadores, é o que é...

José Nuno Pimentel disse...

Ah pois... É a PT a fazer-nos passar por parvos, mais uma vez. Mas para comer moedas já bastam os parquímetros...

triss disse...

:-)

Tou contigo Zé, não enviei uma única sms no período das festas. Ou se telefona, ou se escreve!

Anónimo disse...

Embalado pelo elevado número de mensagens que este ano recebi por sms, decidi elaborar um 'top' das melhores. Aqui vai:

12º lugar: "Um santo Natal e um feliz Ano Novo."
A tradicional mensagem natalícia, enviada por pessoas de bom coração, que se comovem genuinamente com o Natal. Boa para enviar às avós.

11º lugar: "Desejo que este Natal seja como a Matemática: amigos a somar, inimigos a subtrair, alegrias a multiplicar e tristezas a dividir."

As quatro operações básicas da aritmética, aplicadas com metodologia. Tem um fundo de bondade encantador, embora demasiado lógico.

10º lugar: "Mãe, se é a cegonha que traz os bebés, e o Pai Natal que traz os presentes, o que é que o pai está a fazer cá em casa?"

Ora aqui está uma mensagem ideológica! A irmandade feminina gosta destas coisas, com dose de crueldade sobre os homens.

9º lugar: "A sua mensagem para... enviada a 24.12.06, às 18.40 não foi entregue".

É a mensagem mais perturbadora de todas. Mas quem é que, no seu juízo perfeito, desliga o telemóvel no Natal? Angustia um pouco, leva-nos a pensar se terá acontecido alguma coisa à pessoa. Se calhar era esse o efeito pretendido.

8º lugar: "Feliz Natal. Boas entradas, um 2007 em grande. Feliz aniversário, bom carnaval e uma páscoa feliz. Um óptimo 25 de Abril, dia do pai e da mãe. Goza bem o S. João, o Santo António e os restantes feriados. E excelentes férias. Pronto, já está tudo despachado."

Longa demais, mostra a falta de paciência, perfeitamente compreensível, para estes rituais sociais.

7º lugar: "Venho por este meio informar que já me encontro disponível para receber presentes de Natal. Aceito cheques, dinheiro vivo, transferências bancárias, roupa de marca, telemóveis topo de gama, automóveis Maserati, Volvo ou Austin Martin, e até vivendas de luxo. Atenção, não aceito nada da loja dos chineses!"

É a mensagem mais honesta, pois na verdade fala de tudo o que gostaríamos de ter, mas não vamos ter como presente. Pode parecer gananciosa, ou mesmo cínica, mas é só à superfície. A nota final sobre os chineses é muito oportuna.

6º lugar: "Antigamente, o Feliz Natal desejava-se mesmo no dia, mas eu inventei "Feliz Natal um dia antes", e eles "enaaa pá"! Depois inventei "Feliz Ano Novo uma semana antes" e o pessoal "é pá, cum catano!" e eu "vai buscar!". E quando todos perceberam que este sms era só para amigos fixes, aqueles mesmo fixes disseram: "é pá, não mexas mais", e eu "pudera!""

É a mensagem típica deste ano, que se pendura num conhecido 'gag' dos Gatos Fedorentos. Não é muito original, mas parece que pegou.

5º lugar: "Não penses no passado porque não o podes mudar, não penses no futuro porque não o podes prever, não penses no presente porque não o comprei!"

Excelente. Enganadora, com um começo a embalar-nos na metafísica e de repente, zás, uma chamada à realidade e uma rejeição à bruta!

4º lugar: "Se hoje à noite vires um homem com barbas brancas, vestido de vermelho, já sabes, volta para a cama e para o ano bebe água."

Desencantada, mas divertida.

3º lugar: "Olá, sou o Pai Natal, e tenho presentes para te dar. Mas, como não tenho saco, vais ter de levar no pacote."

Ora aqui está a verdadeira alma subversiva da nação lusa a vir ao de cima! Não é fácil meter na mesma frase o Natal e o sexo anal, mas os portugueses são capazes de tudo.

2º lugar: "Nunca desistas de um sonho. Se não houver numa pastelaria, vai a outra."

Notável. Início poético, directo ao coração, e imediato salto desconstrutivista para a realidade. Por outro lado, fala em comida, em bolos, o que é muito certeiro nesta época.

1º lugar: "Boas festas (de preferência pelo corpo todo)."

Embora já venha do ano passado, mantém-se no primeiro lugar. É uma mensagem que mistura um adequado sentido da época, usando uma expressão tradicional lusitana, o "boas festas", e lhe acrescenta uma referência sexual oportuna e sofisticada. Repare-se no pormenor do "de preferência". Como quem diz, é melhor se for, mas se não for, também não há azar! Muito bem conseguida, sem dúvida.

Anónimo disse...

Eu foi mais Cartões de Natal via net.
Mas ainda enviei dois postais via CTT, com um presente bastante agradável lá dentro: a foto do meu lindo petiz!!!

José Nuno Pimentel disse...

dannybgood, até estou atordoado com o teu extenso comentário... Assim até dá gosto escrever, se depois temos comentários ao nosso texto com esta categoria (e extensão)! (Acho que devias fazer um blogue, pois jeito para a escrita e ideiais não te faltam.)

W. V. D. disse...

nem um único SMS de Natal.
nem um único SMS de Fim de ano.

Mas o meu pensamento esteve com todos, quase todos.
:))

José Nuno Pimentel disse...

Pessoal, eu também não enviei nem uma SMS. Mas já estou na dúvida se isto não se tratará de uma cabala e foi tudo inventado, pois as gentes que conheço disseram-me todas que não enviaram nem uma... Ou então, alegra-me pensar que não fazemos parte da carneirada!