18 de dezembro de 2007

Aconteceu há 86 anos

Difícil reunião

"Estamos no ano de 1921. É Dezembro e pouco falta para o Natal. A Europa tenta recompor-se dos efeitos causados pela I Guerra Mundial (1914-18) e Portugal, a viver os instáveis anos iniciais da Primeira República, saída de Revolução de 5 de Outubro de 1910, não foge à regra.

A intervenção portuguesa no conflito acentua a instabilidade política, agrava a situação económico-financeira e faz aumentar a agitação social. A moeda desvaloriza, a inflação e a dívida pública aumentam. O descrédito interno é geral, o crédito internacional não existe.

É neste contexto histórico que a finalmente recém-formada selecção nacional de futebol parte de comboio para Madrid, a fim de disputar com a Espanha o seu primeiro encontro internacional. Os espanhóis não são pêra doce, pois há pouco mais de um ano alcançaram o segundo lugar nos Jogos Olímpicos de Antuérpia, na Bélgica, onde, entre outros, sobressaíra um jovem guarda-redes de apenas 19 anos, Ricardo Zamora.

À dificuldade em encarar tão valoroso adversário junta-se a complicação da escolha da equipa portuguesa. Devido à elevada preponderância de atletas de Lisboa, jogadores e treinadores do Porto boicotam o encontro marcado para o dia 18 de Dezembro. Artur Augusto, do FC Porto, não acata a decisão e é o único jogador não lisboeta a viajar.

Com Carlos Vilar a liderar a Comissão Técnica e Cândido de Oliveira, do Casa Pia, como capitão de equipa, Portugal não se sai mal na estreia. Perde por 3-1, com o tento lusitano apontado perto do final pelo benfiquista Alberto Augusto de grande penalidade.

O traquejo espanhol vinga sobre a inexperiência dos portugueses, mas ainda assim para a história fica a agradável imagem deixada no maltratado pelado do Atlético de Madrid.

A chegada da comitiva à estação do Rossio, em Lisboa, constitui, por isso, motivo de júbilo e é presenciada por dezenas de pessoas.

Embirrações antigas
As quezílias dos clubes em relação às convocatórias para a selecção nacional são muito antigas. Vêm de longe, mais precisamente desde o primeiro encontro internacional e antes do boicote dos jogadores e treinadores do Porto, já em Lisboa se discutia a justificação da chamada de Francisco Pereira, do Belenenses.

Confrontado pela Imprensa, o jogador preferiu não participar no encontro, o que levou os companheiros de equipa Artur José Pereira – seu irmão e considerado na altura o melhor jogador português – e Alberto Rio a recusarem igualmente o convite, por solidariedade.

Infelizmente, a questão perdurará por muitos e muitos anos, abatendo-se sobre a selecção nacional como uma verdadeira praga."

Nota: Retirado dessa portentosa obra denominada A História dos Campeonatos do Mundo de Futebol, dada à estampa em Março de 2006 pela editora Ideias & Rumos, precisamente antes da demanda lusitana por terras germânicas no Verão desse ano.

17 de dezembro de 2007

MILF

Ontem, a fazer zaping na televisão, enquanto preparava o gravador para fazer aquilo que é suposto fazer, detive-me por momentos perante o seriado emitido pela SIC Mulher de nome As Autênticas Donas de Casa, The Real Housewives of Orange County no original.

O programa mostra o dia-a-dia, conversas, anseios e preocupações de cinco mulheres e das respectivas famílias numa das comunidades mais ricas dos Estados Unidos, concretamente no sul da Califórnia.

No quinteto, que ultrapassou já a ternura dos quarenta, abunda o botox, a silicone, a plástica, o sapato, o vestido, o anel, a pulseira, as unhas de gel, o cabelo, a piscina, o cão, e algumas parecem até Pamelas Andersons.

O tema de conversa num dos irresistíveis diálogos versou sobre os jovens filhos das amigas - alguns não tão petizes quanto isso -, os quais, ao que parece, incluem estas sinistras figuras na categoria das MILF, nova expressão que aprendi e não resisto a partilhar: Mother's I'd Like to F***!

As outras, as verdadeiras Desperate Housewives, que se cuidem, pois esta versão vai na terceira série. Deliciem-se aqui.

Votos para o novo ano

Tido como o paradigma de tudo o que acontece neste mundo novo, pode ser que a greve dos guionistas dos Estados Unidos, cuja paralisação está praticamente a atingir os dois meses e ameaça fortemente em termos económicos as principais cadeias de televisão generalista do país - ABC, CBS, Fox e NBC -, venha a mudar o abuso sem escrúpulos, no que diz respeito aos direitos de autor, reinante na comunicação social e no meio audiovisual.

Como dizia hoje de manhã a escritora Alice Vieira, na habitual revista de imprensa matinal da SIC Notícias, trata-se da «força da palavra». Imaginem o prejuízo que não seria, em termos comerciais, se toda a gente - e falo em termos globais - cujo mester é escrever ou criar conteúdos originais em qualquer suporte decretasse gazeta ao mesmo tempo?

A principal reivindicação prende-se com o facto de os argumentistas quererem receber direitos de autor por conteúdos originais criados para telefones móveis ou para a Internet. Eu sei bem do que eles estão a falar...

Está bem, mas não chega...

«Lisboa terá o único aeroporto sem proibição total de fumar», titula o jornal Público de hoje.

No meio da histeria generalizada e da que por aí vem, primamos pela diferença nalguma coisa. O pior é o resto...

E digo eu que nem fumo e até começo a ter sentida compaixão relativamente aos fumadores.

P.S. Ao contrário do que mentes perversas possam pensar, a última frase não contém pingo de ironia!

13 de dezembro de 2007

Mudança de ramo

Pelo canto do olho, percebi, da janela, a chegada apressada da carrinha de mercadorias.

Estacionou onde havia lugar, em cima do passeio, mas surpreendeu-me a inscrição que tinha pintada: Frida, especialista em massas congeladas.

Não era pintora a defunta senhora? É no que dá confiar o legado aos herdeiros da família - a massa congelada também deve ser uma arte...

12 de dezembro de 2007

Contra a ASAE, marchar, marchar...

O fundamentalismo da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) está a atingir limites intoleráveis e de fazer perder a paciência.

Entre as exigências que ouvi recentemente, ditas pelo meu sogro, dono de um excelente restaurante em Lisboa que emprega 20 pessoas, esta é das melhores:
- Agora proibiram-nos de fazer as sobremesas com ovos frescos, apenas podemos utilizar ovos em pó!

Certamente adeptos da secular e tradicional doçaria portuguesa, os trabalhadores da ASAE vão entrar em greve às horas extraordinárias a partir de dia 20 de Dezembro e por tempo indeterminado, como convém.

Reclamam não ter sido ainda regulamentado o seu horário de laboração e, por isso, passarão apenas a trabucar de segunda a sexta-feira das 9:00 às 12:30 e entre as 14:00 e as 17:30. Mas será que ninguém fiscaliza a ASAE?

Era engraçado ver as musculadas incursões dos coletes azuis escuros pelas próprias instalações a selar e empacotar aquilo tudo, talvez também devido aos seus empregados cuspirem para o chão, falarem com a boca cheia, não lavarem os dentes ou cheirarem mal dos pés...

Pessoal da ASAE, toca a fazer denúncias anónimas às autoridades competentes sobre a vossa entidade patronal para ganharem ordenado sem trabalhar durante alguns meses e deixarem os pequenos prazeres da vida em paz!

Era de letra...

11 de dezembro de 2007

Drawning by Numbers

Nas cantigas de maldizer, segundo nos elucida a Arte de Trovar, incluída no provecto Cancioneiro da Biblioteca Nacional, «entrã palavras que queren dizer mal e nõ aueran outro entendimento senõ aquel que queren dizer chaãmente».

A música, neste caso, é outra, mas lembrei-me disto a propósito da obra escultórica Love & Numbers e dos dez monumentais números feitos em aço, da autoria de Robert Indiana, que agora enfeitam o Rossio, a Avenida da Liberdade e o Marquês de Pombal.

Não discuto os méritos do artista, um dos expoentes da Pop Art americana - certamente os terá. Questiono, a fazer fé no que vi escrito, os 100 mil euros gastos pela Câmara Municipal da minha cidade em tal espalhafato.

A arte pode ser contemplada até final de final de Fevereiro nas ruas de Lisboa. Confesso que só me ocorre sensação semelhante a esta, do tipo náusea, quando ouço falar no bizarro, inenarrável e incompreensível mundo da moda.

Resumindo: merecia uma boa cantiga de maldizer - grosseira mesmo -, pois as de escárnio, por se basearem em trocadilhos e ironias, são menos directas...

Nota: o inspirado título do post, bem a propósito, é o nome de um filme do fantástico Peter Greenaway.

6 de dezembro de 2007

Byblosmania

Era para abrir hoje ao público, mas apenas o fará no dia 14 de Dezembro, sexta-feira. Fica situada no edifício Amoreiras Square e já está disponível na Internet em http://www.byblos.pt/.

Entre as novidades tecnológicas desta nova e imensa casa da cultura, conta-se o facto de todos os livros terem um chip que os localiza rápida é facilmente através do sistema GPS.

Os números e as soluções impressionam:
- 3300 metros quadrados de área comercial;
- 150 mil títulos de fundo editorial, aos quais se juntam um conjunto de CD, DVD e jogos de computador;
- Quiosque com 206 metros quadrados;
- 36 ecrãs tácteis, onde cada utilizador pode pesquisar um título ou autor e descobrir a sua localização exacta;
- Estantes robotizadas com capacidade para 65 mil exemplares;
- 11 montras com plasmas e possibilidade de consulta a partir da rua;
- Auditório com 137 lugares;
- 4 milhões de euros de investimento.

Definitivamente, a merecer visitas regulares em vez das cada vez mais desorganizadas e confusas FNAC's...

5 de dezembro de 2007

Do baú

Chegado a Londres com dois comparsas numa viagem de Interail, logo o meu amigo Kieran, sabendo da minha paranóia pelos extintos Marillion, me avisou que o Fish, vocalista da banda que, entretanto, seguira carreira a solo, ia dar uma série de concertos na Escócia.

Informou-me que o manos Bryan e Paul tinham passado a viver em Edimburgo e, se quisesse, ligava-lhes para lá irmos. Ele ligou, eu falei com eles e, claro, lá fomos, mas éramos para ficar apenas um dia ou dois e abancámos durante uma semana! (Um dia prosarei sobre esta estonteante aventura...)

A dupla que me acompanhou desde Portugal era também fã assumida e assim que pusemos o pé na bela capital escocesa, não descansámos enquanto não fomos à industrial e eterna cidade rival de Glasgow comprar os bilhetes para o concerto, num local parecido com o saudoso salão de festas lisboeta Rock Rendez-Vous - a foto que encima o texto é mesmo o papelinho mágico!

Vem isto a propósito do concerto do Fish, hoje, na Aula Magna, integrado na digressão que serve para assinalar os 20 anos passados sobre a edição do álbum Clutching at Straws, de 1987. Escusado será dizer que, tal como os dois cúmplices dessa excitante jornada, estarei a abanar a carola logo à noite no concerto.

P.S. Conforme lembrou o tocante post do w. v. d., a determinda altura da minha humilde existência era conhecido na escola secundária como "o gajo do blusão dos Marillion", devido a um pequeno rectângulo bordado nas costas do dito com o nome do grupo.