29 de agosto de 2007

Voos abençoados

Certamente impulsionado pelo facto de estar a perder cada vez mais adeptos e com olho para o negócio, o Vaticano apostou na comercialização de viagens de baixo custo entre vários pontos de fervor religioso do mundo católico. A abençoada viagem inaugural, entre Roma e Lurdes, em França, decorreu na passada segunda-feira e contou com a presença do Cardeal Camillo Ruini, vigário do Papa na Diocese da capital de Itália.

No entanto, nem isso evitou as autoridades aeroportuárias francesas de, no regresso, confiscarem a miraculosa água do santuário mariano gaulês, devido às normas que interditam o transporte de líquidos em embalagens com mais de 100 mililitros. Além de Fátima, os romeiros poderão venerar in loco, em 2008, locais como Santiago de Compostela (Espanha), Czestochowa (Polónia), Terra Santa (Israel e arredores), ao Monte Sinai (Egipto) e à Virgem de Guadalupe (México).

A iniciativa, que prevê o movimento anual de cerca de 150 mil passageiros, é da responsabilidade da Obra Romana de Peregrinações, organismo da Santa Sé cuja tarefa consiste, conforme nos conta a Ecclesia, agência de notícias da Igreja Católica em Portugal, em "promover a pessoa e a sua evangelização através da pastoral do turismo e do ministério da peregrinação".

Os aviões são fretados à Mistral Air, companhia aérea propriedade do correios transalpinos e fundada pelo actor Bud Spencer, guarda pretoriano em Quo Vadis mas mais famoso pela participação em western spaghettis. Nascido em Nápoles como Carlo Pedersoli, há 78 anos, mudou de nome a partir de 1967, numa sentida homenagem a Spencer Tracy e à cerveja americana Budweiser.

Segundo informou a ANSA, correspondente à Lusa cá do burgo, o pessoal de bordo será "especializado em viagens de carácter religioso". Por isso, é de esperar que, a partir de agora, passe a haver padres pilotos e freiras hospedeiras, devidamente vestidos a rigor para a ocasião. Se dúvidas houvesse, ficaram desfeitas: viajar de avião é cada vez mais seguro!

24 de agosto de 2007

A Amélie caiu!

Nunca gostei de casas com paredes completamente despidas e, por isso, nos tempos em que vivia sozinho emparedado de branco tratei de decorar a sala, a divisão mais agradável do aposento, com posters e postais de cinema e música, além de outros objectos.

Hoje, o escritório do apartamento que habito com a Mónica guarda algumas das memórias dessa altura. Um dos posters, o que acompanha esta prosa, está colocado mesmo por cima da secretária onde temos o computador.

Trata-se do cartaz do filme Le Fabuleux Destin de Amélie Poulain, de Jean-Pierre Jeunet, preso por aquelas borrachas amarelas auto-colantes que fazem lembrar a infantil plasticina. Volta e meia, lá despegam da parede.

Ainda ontem constatara que estava perto de baquear, mas nada fizera para o evitar. Hoje de manhã, tinha eu acabado de despertar, grita a Mónica mesmo antes de sair porta fora para o trabalho:
- A Amélie caiu!

Pobre criatura que não merecia ser assim tratada.

21 de agosto de 2007

Operação mãos limpas

Conheci a Isabel quando andávamos na escola secundária, eu na área de Humanísticas, ela na de Ciências. Depois de ambos termos feito parte da Associação de Estudantes, ficámos amigos para sempre, embora as vicissitudes das vidas de cada um nos mantenham, nos dias de hoje, algo afastados.

Certo dia, vivia ela ainda em casa dos progenitores, viu-me passar as mãos por água e sabonete, e disse-me mais ou menos assim:
- Pareces o meu pai. Esfregas bem entre os dedos, lavas os pulsos e dás voltas e mais voltas...

Não me lembro da minha resposta, mas o que interessa nesta história é o facto de a pessoa a quem ela se referia ser, actualmente, ministro da Saúde.

Lembrei-me disto ao ler uma notícia, da semana passada, a qual contava que o facto de "ter as mãos desinfectadas conseguiu reduzir as infecções no Hospital de São João, no Porto, de 19% em 2005 para 12,5% este ano".

Para tal, "bastou avançar com uma medida já aplicada em várias unidades pelo mundo fora: colocou dispensadores de solução alcoólica desinfectante ao pé de cada cama e apostou na formação dos funcionários" no que diz respeito às normas básicas de higiene.

Às vezes, as medidas mais insignificantes - ou que assim nos parecem - têm resultados espantosos. E algumas são tão fáceis de tomar.

20 de agosto de 2007

Arte quê?

Aproveitando o domingo solarengo, rumei ontem à tarde a Belém para tentar ver a exposição da World Press Photo, no Museu da Electricidade. Como havia fila para entrar - e todas as que tenham mais do que duas pessoas à porta fazem-me logo perder a vontade - orientei a bússola noutra direcção.

Encaminhei-me então para o Centro Cultural de Belém, onde está patente a mostra de arte moderna e contemporânea da colecção do magnata madeirense José Berardo. Conclusão: por mais voltas que dê continuo a ter bastantes dificuldades em considerar objectos artísticos muitas das instalações, esculturas e pinturas expostas.

Mas o problema dever ser meu.

17 de agosto de 2007

Adivinha quem voltou

Começa hoje mais uma edição do campeonato português. Mesmo a propósito, ontem, à hora de jantar, ligo a televisão e está a dar um documentário sobre Pinto da Costa, o eterno presidente do FC Porto, com o sugestivo título de O Bom, o Mau e o Vilão.

A peça conta a história do responsável máximo do clube da «Antiga, Mui Nobre, Sempre Leal e Invicta Cidade do Porto» há 25 anos, intercalada por curtos apontamentos de entrevista a várias personagens, queridas ou não gratas do comandante da nação portista, cujo percurso de vida, pessoal, íntimo ou desportivo, se cruzou com o visado.

O rol é imenso mas retenho apenas uma das passagens, esta dita por Fernando Madureira, líder da claque Super Dragões.
- O que estava disposto a fazer pelo presidente do seu clube?
- Matar ou morrer (risos). Mas em sentido figurado...

A emoção do futebol lusitano está volta. Em sentido figurado.

13 de agosto de 2007

Melomania

Chegados de constantes viagens de carro e estadias mais ou menos prolongadas fora do lar, invariavelmente acompanhadas por muita música, resolvemos meter mãos à obra na catalogação da imensidade de CD's que abundam no hulmide aposento, de modo a evitar a aparente desordem em que andam.

Aparente porque os chatos círculos com buraco no meio estão devidamente organizados, em estantes, por estilo (Independente/Pop/Rock, Portugal, Espanha, Brasil, PALOP's, África, América do Sul e Central - Argentina, Cuba, Peru, etc. - Jazz, Soul, Celta, Clássica e Bandas Sonoras) e ordem alfabética de artista - e, dentro desta, pelo ano de edição do disco.

Só assim é possível saber onde está o quê. Mas a tarefa afigura-se morosa e complicada. É que, para além do pó em que navegam as caixas, e muito dificulta a empresa, a coisa ainda vai a meio da letra F da secção Independente/Pop/Rock, a primeira contemplada da aventura, e a conta já chegou a 150.

O espaço para aconchegar estes objectos preciosos em peças apropriadas começa a escassear. Na minha casa ideal, haverá sempre uma divisão para guardar estes prazeres ou outros, como livros e filmes, mas confesso que ainda não perdi a esperança de ver as ditas embutidas na parede.

Igual à que está, por trás do "disk jockey", no Incógnito, esse antro benigno das noites musicais e dançantes de Lisboa, que, por sinal, costuma sempre fechar para férias no mês de Agosto.

8 de agosto de 2007

Tou xim? É o Reininho!

As minhas férias de Verão incluem normalmente alguns dias, ainda que poucos, passados com a Mónica, sogros, cunhada e sobrinho numa praia do Algarve. Este não fugiu à regra.

- Aquele ali não é o Rui Reininho?, pergunta ela.
- Parece, mas não sei...
Sem a ajuda dos óculos não consigo enxergar quase nada, apenas vultos. Mas, realmente, o ar efeminado e a figura esguia e meio desengonçada, por causa dos mais de 1,90m de altura, pareciam denunciá-lo.

O homem estava à beira-mar e tomava conta de dois irrequietos miúdos que teimavam em não sair da água, apesar do estado agreste do mar, bandeira vermelha, coisa rara por aquelas bandas. A dada altura foram banhar-se para outro lado e passaram mesmo em frente a nós. As dúvidas ficaram desfeitas. Tratava-se mesmo do Reininho.

- Telefona ao Tiago a dar-lhe os parabéns e diz-lhe que vimos o Reininho aqui na praia.
O meu amigo festejava o aniversário nesse dia e tinha como um dos ídolos da juventude precisamente a personagem e o grupo de que ainda é vocalista, os GNR. Por isso, respondi de pronto:
- Não, vou fazer melhor. Quando o Reininho voltar vou pedir para ser ele a dar-lhe os parabéns...
- Estás a falar a sério?
- Claro!, lancei eu confiante do alto da minha timidez.

Sempre de olho nele, interpelei-o finalmente, cara a cara e com a mão estendida para um aperto de mão caloroso.
- Olá Rui! Chamo-me Zé Nuno e tenho um amigo que faz anos hoje e é um grande fã teu e dos GNR. Vou tentar telefonar-lhe daqui a pouco para lhe dares os parabéns. Pode ser? Ele ia gostar... (Assim mesmo, a tratá-lo por tu...)
- Força! Traga lá isso, disse o cantor da Invicta, com pronúncia do Norte, surpreendido mas sorridente. (Assim mesmo, a tratar-me por você...)

Uns minutos depois, fiz a ligação.
- ... encontrei aqui na praia uma pessoa conhecida que te quer falar...
E passei prestes o telemóvel ao mestre.
- Estou, Tiago? É o Reininho... Rui... Reininho! 'Tou?... Muitos anos de vida!
- ...

O vento forte e o barulho das ondas do mar quase deitavam tudo a perder, mas a prenda, original, estava dada. E eu que até nem sou de dar presentes em dias de aniversário.