23 de dezembro de 2009

A lista

Ou o cabaz literário de Natal resultante do postado anterior, além do excitante e instrutivo Cozinho a Dobrar e Congelo:
A Ira de Deus, Edward Paice
A Sombra do que Fomos, Luis Sepúlveda
Barroco Tropical, José Eduardo Agualusa
Caim, José Saramago
Cemitério de Pianos, José Luís Peixoto
Jesusalém, Mia Couto
O Segredo de Cibele, Juliet Marillier
O Símbolo Perdido, Dan Brown

A ler:
A Lâmpada de Aladino, Luis Sepúlveda
O Espião de D. João II, Deana Barroqueiro

Irresistíveis (novos, a preço de segunda mão):
Deixem Passar o Homem Invisível, Rui Cardoso Martins (5€)
Depois de Morrer Aconteceram-me Muitas Coisas, Ricardo Adolfo (7,5€)

Desejados:
A Ilha, Giani Stuparich
A Morte de Bunny Munro, Nick Cave
Invisível, Paul Auster
O Mundo Branco do Rapaz-Coelho, Possidónio Cachapa
Os Espiões, Luis Fernando Verissimo
2666, Roberto Bolaño
Saber Perder, David Trueba
Trilogia Millennium de Stieg Larsson

7 de dezembro de 2009

Importa-se de repetir?

Como habitualmente, Dezembro, por ser o último do ano, é o mês para gastar 150 euros na compra de livros “técnicos”, gentilmente oferecidos pela empresa. Neste caso, porque também têm ciência, abrangeram o romance histórico, a ficção, a fantasia e… a culinária.

Ora, depois de aturada pesquisa, ela lá encontrou o título que andava à procura para poder poupar algum tempo na cozinha.

Cercámos a funcionária do balcão e eu perguntei:
- Queria saber se tem o livro Cozinho a Dobrar e Gongelo?

A coitada da criatura esboçou um leve sorriso pudico, matreiro e, depois de pedir delicadamente para repetir, respondeu:
- Nem vos vou dizer o que percebi…

Ninguém conseguiu evitar a gargalhada. Sem ofensa para os adeptos da modalidade não é difícil saber o que terá entendido a rapariga. Eu disse aquilo tão rápido e de tal maneira cortando o som à última sílaba (situação em que os portugueses são exímios) que deve ter soado qualquer coisa como "cuzinho a dobrar e com gel"…

1 de dezembro de 2009

O feriado religioso

Como acontecia de quando em vez naquela empresa, Javier, responsável ibérico da organização e natural de Madrid, telefonou a pedir tudo-e-mais-alguma-coisa completamente a despropósito. Lá fora, as nuvens carregadas do céu irromperam num pranto pardacento como o Outono invernal.

– Nunca mais é feriado, lamentou ela num grito mudo, bufando por cima da mão que tapava o bocal do aparelho para não ser ouvida. Do lado de cá da linha, o rosto da interlocutora, cujo carácter primava pela serenidade e discrição, exasperava num desatino de fazer dó, a tentar explicar que as coisas não podiam, nem deviam, ser feitas assim.

– Então envia-me isso amanhã logo cedo!, exigiu ele lá do meio da península.
– Amanhã é feriado aqui em Portugal, por isso só na quarta-feira.
Conformado, quis saber mais e peguntou:
– Ai sim? E o que é se festeja?

Após alguns segundos de hesitação, preferiu não lançar mais achas naquela fogueira e, lembrando-se do imberbe mimado que, séculos atrás, os tinha colocado naquela embaraçosa situação, arremessou:
– Acho que é religioso…

A mão apaziguadora da igreja calou o outro lado e, vencido, desligou.