23 de fevereiro de 2007

Descanso precisa-se...

Não digam nada a ninguém, mas já só falta um dia para ter dois de descanso, após 20 seguidinhos sem folgar (fins-de-semana e feriado de Carnaval incluídos).

Este sábado e domingo desforro-me. Oxalá os deuses estejam do meu lado e ao invés de chuva mandem sol, por pouco que seja, só para poder contemplar o azul do mar...

22 de fevereiro de 2007

As Vidas dos Outros

"You know what Lenin said about Beethoven’s Appassionata? If I keep listening to it, I won’t finish the revolution. Can anyone who has heard this music, I mean truly heard it, really be a bad person?"

in Das Leben der Anderen (The Life of Others), 2006

Alemanha de Leste, 1984. Cinco anos antes da queda do Muro de Berlim, a população é mantida debaixo de controlo pela STASI, a polícia secreta da República Democrática Alemã (RDA). A sua missão é apenas uma: saber tudo sobre a vida de todas as pessoas, através de uma vasta rede de informadores/denunciadores. O filme acompanha a gradual desilusão do Capitão Gerd Wiesler (Ulrich Mühe, ele próprio nascido na RDA), um oficial altamente credenciado da STASI, cuja missão é espiar um famoso escritor, George Dreyman (Sebastian Koch), e a sua mulher, a actriz Christa-Maria Sieland (Martina Gedeck).

Segundo o realizador, Florian Henckel von Donnersmarck – que por acaso nasceu no mesmo dia que eu –, “cada personagem coloca questões com as quais nos confrontamos todos os dias: como é que lidamos com o poder e as ideologias? Seguimos os nossos princípios ou os nossos sentimentos?"


As Vidas dos Outros é um drama sobre a bondade inerente ao ser humano, sobre fazer o que está certo e arrepender-se depois de ter trilhado o caminho errado. E sobre a capacidade de perdoar. Notável interpretação de Mühe, sempre em estado de contenção emocional. Nomeado para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro. Uma das películas europeias mais surpreendentes dos últimos tempos, digo eu.

P.S. Completamente deslocada, idiota e sem sentido é uma das frases que aparece no cartaz original do filme em inglês e é tirada da revista Entertainment Weekly: "A nail-biter of a thriller!". Na versão portuguesa está escrito qualquer coisa como: "Um thriller que o vai deixar sem unhas para roer!"

14 de fevereiro de 2007

Coincidências

Aviso prévio. Sou contra as comemorações de qualquer tipo de dia, mas não sei se repararam que o de hoje assinala duas datas: o Dia dos Namorados e o Dia Europeu da Disfunção Eréctil. Espero que seja apenas coincidência.

Por falar nisso, para quem não é adepto de efemérides como o Dia de São Valentim, mais uma invenção do Ocidente consumista, partilho convosco uma curiosidade que parece ter sido feita mesmo de propósito para as pessoas como eu.

Quiseram os deuses que a minha relação amorosa com a Mónica tivesse principiado precisamente num dia 13 – dizem ser o número do azar –, por sinal sexta-feira e aniversário da nossa amiga Catarina.


A noite fatal começou com um jantar a dois e prolongou-se madrugada adentro. O primeiro beijo, esse momento em que tudo anda à roda, aconteceu já depois das 12 badaladas que anunciaram o 14 de Fevereiro. Não acredito em bruxas, pero que las hay, las hay...

12 de fevereiro de 2007

Esta Lisboa que eu amo!

Aproveitando o evento do Dia dos Namorados, que se assinala no dia 14 de Fevereiro, a revista dominical do diário espanhol El Pais deixou 50 propostas relacionadas com a referida festividade.

Avesso a qualquer tipo de comemorações do género, aniversários incluídos – a começar pelo meu –, apenas menciono o facto por se tratar de uma das sugestões do jornal mais lido no país de nuestros hermanos, como carinhosamente nos tratávamos em ambos os lados da fronteira no tempo dos ditadores Franco e Salazar.

E sabe sempre bem ouvir um elogio. O texto da publicação é ilustrado por uma foto do amarelo da Carris que percorre a mítica carreira 28 (não a que ilustra esta prosa).

«Próxima, inspiradora, melancolicamente decadente, inundada por cores e odores do Ultramar. Assim é Lisboa, uma cidade para passear em boa companhia, com um livro de Fernando Pessoa num bolso e uma reserva para jantar à luz das velas num restaurante do Chiado no outro. Lisboa é uma das cidades mais românticas do mundo, é o eléctrico a escalar até ao Bairro Alto, o entardecer no miradouro de Santa Luzia, a bruma do Atlântico a pousar sobre Alfama e o Castelo de São Jorge, e o mapa-mundo numa fachada de azulejos em Belém. Uma cidade para desfrutar enamorado». Sozinho ou acompanhado!

2 de fevereiro de 2007

Terreiro do Paço, a mais bela praça da Europa (III)

«(...) Devolvam-nos o Terreiro do Paço. Corram com os tapumes dali (...) e voltem lá a pôr o Cais das Colunas. Dez anos depois, é o mínimo exigível». Miguel Sousa Tavares, in Expresso (20/01/2007)

A 20 de Setembro de 1540, no Terreiro do Paço, Lisboa assiste ao primeiro auto-de-fé, autorizado por D. João III. Nesse dia, há vinte acusados, mas somente seis sobem à fogueira: três suspeitos de bruxaria - duas mulheres e um homem - e outros tantos cristãos-novos. Verdadeira expressão da dramaturgia do Barroco, o auto-de-fé torna-se o acontecimento mais grandioso e popular da vida lisboeta. Os cadafalsos, autênticas obras-primas da carpintaria, chegam a atingir quarenta metros de comprimento e vinte de largura.

É daquela bela praça que a multidão se despede de D. Sebastião quando ruma a Marrocos, com escala em Lagos, para a louca demanda africana e é lá que o povo se junta depois para lamentar a morte d'O Desejado e o desaparecimento dos entes chegados, pois não há em Lisboa uma única casa em que não se chore a morte de um marido, de um pai ou de um irmão. É lá, ainda, que a turba se acotovela para saudar o desembarque do rei Filipe III, de Espanha, e na altura também de Portugal.

Reconquistada da independência aos espanhóis - o domínio filipino durou sessenta anos, de 1580 a 1640 -, o Terreiro do Paço recebe os festejos em honra da duquesa de Mântua, Margarida de Sabóia, nomeada para governar Portugal, bem como as festas de casamento da infanta Catarina de Bragança, filha de D. João IV e D. Luís de Gusmão, com Carlos II de Inglaterra (1662) e de D. Pedro II com Maria Sofia de Neuburgo (1687), devidamente assinalados com duas touradas, acontecimentos bem ao gosto dos lisboetas - até à construção da praça da Junqueira, para os lados de Belém, a mando de D. Maria, o Terreiro do Paço será o local privilegiado dos espectáculos tauromáquicos.

Adaptado de História de Lisboa, de Dejanirah Couto