28 de dezembro de 2006

SIC Comédia out, Seinfeld in

O espectro televisivo português, cada vez mais sombrio, vai perder o seu sorriso mais contagiante. É que a SIC Comédia, um dos canais da estação de Carnaxide na TV Cabo, termina as emissões regulares no próximo dia 31 de Dezembro - sendo substituída pela Al-Jazeera em inglês ou France24, ambos informativos -, uma vez que a Impresa e a PT Multimédia não chegaram a acordo para prorrogação do contrato.

Presumo que a SIC Mulher e a SIC Radical tenham o mesmo destino num futuro próximo. Depois de ter deixado escapar os Gato Fedorento para a RTP, aquela que outrora revolucionou a maneira de fazer televisão em Portugal já viveu melhores dias. Adeus Allo Allo, Benny Hill, Late Night with Conan O'Brien, Tonigh Show with Jay Leno, Everybody Loves Raimond e Seinfeld.

Por falar nele, parece que o saudoso Jerry estará de volta em 2007, nove anos depois da comédia com mais êxito na história da televisão americana ter saído de cena. Segundo a revista norte-americana Newsweek, o comediante tem investido na vida familiar - casou-se em 1999 e tem três rebentos -, mas passou os últimos três anos a escrever e a produzir um filme animado para a DreamWorks.

A película chama-se Bee Movie e Jerry Seinfeld dá voz à personagem principal, Barry B. Benson, uma abelha que deixa a colmeia onde vive e descobre que os humanos lhe têm andado a roubar o mel. Uma vez cá fora, Barry apaixona-se por Vanessa, florista da cidade de Nova Iorque, interpretada por Renée Zellweger. Aguardamos ansiosamente a chegada do dito...

22 de dezembro de 2006

É hoje...

... o dia do orgasmo global sincronizado pela Paz! (Ler post...) Como ouvi um arrumador dizer, há anos atrás, depois de me ter ajudado a estacionar o carro ao pé do Bairro Alto: Adivirtem-se!

«And now for something completly different!». Logo de férias é que me acontecem estas coisas! Estou de novo contactável depois de na quarta-feira ter estado sem telemóvel (perdi-o em casa - é favor não gozar 'fáchavôr'!) e na quinta sem Internet.

Não gosto da dependência que estas ferramentas nos criam, mas dá que pensar o facto de que há pouco mais de uma década vivíamos calmamente sem elas. E talvez fôssemos mais felizes...

19 de dezembro de 2006

E a Pessoa do Ano sou Eu... e Tu

Nem queria acreditar quando tomei conhecimento da notícia, ainda para mais não me tendo candidatado recentemente a qualquer prémio. É que, segundo a Time, a Pessoa do Ano para esta prestigiada publicação norte-americana, que pretende distinguir os protagonistas de 2006, sou Eu... e Tu (assim mesmo, com direito a maiúscula e tudo!) - neste preciso momento a ler este texto -, ou, na versão original, Você, pronome, relativo à segunda pessoa do singular.

"Sim, você. Você controla a sociedade de informação. Bem-vindo ao seu mundo", justifica a revista em três curtas frases escritas na capa, citando depois, nas páginas interiores, como exemplos desta comunidade de partilha feita numa escala nunca vista, o compêndio de conhecimento que constitui a
Wikipedia, verdadeiro serviço público, o meteórico êxito do YouTube ou o MySpace.

A imagem na capa da última edição do ano sugere o facto de comparticiparmos os mais variados assuntos com um sortido leque de desconhecidos, bastando para tal utilizarmos o computador que temos à nossa frente. A engenhosa ideia de colocar material reflector no ecrã, para vermos a nossa própria cara, está genial. Façam a experiência de pegar num exemplar e olhar para a dita, pois isto das novas tecnologias ainda não dá para tudo. E já agora não deixem de ler o editorial e o artigo principal que ilustra a história.

14 de dezembro de 2006

Querem lá ver o desplante!

Chegou de mansinho, noite dentro, sem causar alarido. Apanhou-me embrenhado em trabalho e a dar atenção a vários assuntos ao mesmo tempo, mas depois de ouvir o sinal sonoro de aviso, a anunciar que chegara nova mensagem ao meu correio electrónico, a curiosidade de ver quem me escrevera àquela hora revelou-se mais forte.

Endereçado da Edimpresa, proprietária do semanário Expresso a revista Visão, entre outros órgãos de comunicação social, o assunto não deixava margem para dúvidas: "JOSE (assim mesmo, sem acento e em caixa alta), é a última vez que ela lhe faz esta proposta!". Querem lá ver o desplante! No texto da mensagem prossegue o repto: "A FHM ainda lhe dá três seguidas! - Assine a FMH por três meses e receba três meses grátis... por apenas nove euros".

Apesar da tentadora oferta publicitária para assinar a dita publicação, e de a mensagem vir ilustrada com a imagem de uma escultural menina vestida em trajes menores, consigo resistir à provocação e vou dormir em paz, não sem antes apagá-la dos e-mails recebidos neste dia. Se ela ainda me tivesse escrito uma carta em papel perfumado, à maneira antiga e como reza a letra da música...

Resquícios imperialistas

A notícia saiu há dias no diário espanhol El Pais: 88 anos depois de ter perdido o acesso ao mar, na sequência da derrota do Império Austro-Húngaro na I Guerra Mundial (1914-18) e da consequente assinatura do Armistício de 11 de Novembro de 1918, que pôs fim ao conflito e desmembrou o domínio imperialista, a Áustria renunciou à Marinha.

Num país que deu ao Mundo homens do mar e navegadores destemidos como Mozart, Schubert, Beethoven, Strauss ou mesmo Freud, rodeado de terra por todos os lados, embora situado em posição estratégica no centro da Europa, o facto não deixa de merecer referência e a devida vénia.

12 de dezembro de 2006

Florença vista do outro lado

A ténue luz do entardecer realça o amarelo-toscano (cor inventada, claro) dos edifícios e torna ainda mais bela a paisagem, já de si magnífica. Convida a saboreá-la sentados na escadaria que deita para o Arno.

Pena é que os gelados do café que serve a esplanada da Piazzale Michelangelo não façam jus à vista, nem tão pouco aos restantes consumidos um pouco por essa Itália fora. De facto, quanto a sorvetes, estamos conversados - italians do it better!

11 de dezembro de 2006

Orgasmo pela Paz

A iniciativa até parece boa e a causa meritória, por isso marquem já nas vossas agendas. No próximo dia 22 de Dezembro, sexta-feira, de modo a coincidir com o Solstício, está marcado o primeiro clímax sexual sincronizado pela Paz à escala planetária. Apesar de ser dirigida principalmente aos países em guerra de possuidores de armas de destruição massiva, a ideia, segundo os organizadores do Orgasmo Global, é que "todos os participantes concentrem os seus pensamentos na Paz durante e depois do orgasmo", pois "a combinação da alta energia orgásmica e uma intenção mental dirigida pode ter mais efeito do que a meditação e orações em massa".

Ora toma! É intenção dos promotores da acção que a mesma se realize todos os anos até ao Solstício de 2012, altura em que termina o calendário Maia e começa uma nova era.
Assim, sozinhos(as) ou acompanhados(as), com pessoas do mesmo sexo ou oposto, pouco importa, o que interessa mesmo é participar nesta gigantesca orgia. Pela minha parte, apesar de me considerar pacifista por natureza, prometo contribuir, na medida do possível.

Nesta particular sincronização, "em qualquer hora e local, e com a privacidade desejada", os homens talvez partam em vantagem relativamente às mulheres, pois com um simples toque de magia conseguem atingir o auge da satisfação e fazer disparar, em poucos segundos, a sua espingarda de carne. Para as companheiras de armas com maior dificuldade em atingir o êxtase, o sexólogo Alessandro Littara e o cirurgião plástico Gianfranco Barnabei, italianos de nascença, apresentaram no passado dia 28 de Novembro, em Milão, uma cirurgia cujo objectivo é aumentar o prazer sexual com um retoque a laser nesse obscuro local denominado de Ponto G.

Criada pelo médico norte-americano David Matlock, a operação G-Spot Amplification perde efeito num ano, mas nos Estados Unidos há notícias de 840 intervenções com 79 por cento de êxito. Convenhamos que até é uma boa percentagem, mas depois das operações para reconstituição do hímen feminino, só nos faltava mesmo mais esta! Ele há com cada coisa, como dizia o outro!

7 de dezembro de 2006

Anjos da lama

Passear à beira-rio nas margens do Arno e contemplar a Ponte Vecchio - a mais conhecida de todas, por albergar as famosas ourivesarias florentinas e, curiosamente, a única que não foi destruída durante a II Guerra Mundial (1939-44) - são alguns dos prazeres que Florença tem para oferecer. Mas bem diferente era o cenário há 40 anos, naquele fatídico dia 4 de Novembro de 1966.

Dois dias de chuva ininterrupta fazem o rio galgar as bordas que o oprimem e subir, em alguns locais, 11 metros acima do nível normal. Torrentes de lama e água inundam museus, bibliotecas e igrejas da cidade-berço do Renascimento, danificando muitas obras de arte. Os prejuízos são incalculáveis, mas em vez dos lamentos e fatalismos, tão próprios das horas adversas, a população local arregaça as mangas e mete mãos à obra, gerando uma onda de solidariedade espontânea e desinteressada que faz deslocar até Florença gente de toda a Itália e de várias partes do Mundo, cujo intuito é, unicamente, salvar o património artístico e arquitectónico da cidade.

O drama é retratado em La Meglio Gioventù (A Melhor Juventude, 2003), de Marco Tullio Giordana, filme de seis horas (!) - e por isso disponível em dois DVD's - que atravessa a vivência de uma família italiana desde o Verão de '66 e na qual a personagem Nicola, um dos irmãos que centralizam a acção, então no estrangeiro, regressa ao país natal quando toma conhecimento da tragédia.

A foto que encima esta prosa foi tirada no final de Setembro de 2006. Poucas semanas depois assinalam-se precisamente quatro décadas sobre o dilúvio que se abateu sobre o belo burgo da Toscana, causando danos artísticos, económicos e humanos sem precedentes. Entre as inúmeras efemérides para evocar a data há a recente edição do livro intitulado 4 Novembre 1966 - L' alluvione a Firenze, no qual se presta homenagem aos magotes de anónimos que ajudaram a reerguer a cidade e ficaram conhecidos pelos "anjos da lama". Um exemplo a seguir de abnegação, espírito de luta, responsabilidade cívica e, sobretudo, amor pela arte e pela cidade.

Sortes diferentes

FC Porto na Liga dos Campeões, Benfica na Taça UEFA e Sporting em... Belém. Não existe qualquer intuito provocatório nesta frase, nem tão pouco a terra atrás mencionada se refere ao local onde nasceu o Menino Salvador, apenas achei piada ao que vem estampado nas primeiras páginas dos jornais desta quinta-feira.

Um dia depois de ter sido afastado das competições europeias e horas antes dos embates dos outros dois rivais, uma comitiva constituída pelos mais altos signatários do Sporting tomou o disfarce do preto Baltazar, do jovem louro Gaspar e do ancião Melchior, os três Reis Magos, e, guiada pela estrela-guia, deslocou-se ao Palácio de Belém, em Lisboa, para presentear o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, com a medalha comemorativa do centenário do emblema fundado em 1906 pelo Visconde de Alvalade. José, por sinal.

5 de dezembro de 2006

Paixão pela Ribeira

Cumpriram-se esta terça-feira dez anos desde que a UNESCO classificou o centro histórico do Porto como Património Mundial. Sou alfacinha de gema, mas nutro pela Antiga, Mui Nobre, Sempre Leal e Invicta Cidade do Porto um sentimento especial, nomeadamente pela zona da Ribeira.

Tão assolapada é a paixão que nunca me despedi do Porto sem antes deambular por esse mágico local situado na margem direita do rio Douro. Conterrâneos meus, ponham de lado as estéreis querelas entre Norte e Sul, tão estupidamente exacerbadas pelo futebol, e partam à descoberta dessa misteriosa cidade tão diferente de Lisboa, a cidade branca.

29 de novembro de 2006

"The best view on the house"

Apesar das peripécias para sair de Veneza, o Sol brilha à chegada a Florença. Mas os planos iniciais para a primeira tarde passada na outrora capital do Reino de Itália - despachar a visita aos Uffizi, o maior museu de arte do país - saem furados, pois sem compra antecipada de entrada espera-nos mais de hora e meia na fila. Torci logo o nariz.

Para quem nem sequer visitou a Expo'98 durante o dia, tal era a falta de paciência para aturar gentes aos magotes em espera, a alternativa passou por comprar o ingresso antecipado para dali a dois dias, mediante o pagamento de uma sobretaxa, claro está, e aproveitar o simpático convite proporcionado pelas condições meteorológicas e começar a explorar o histórico centro florentino, elevado a Património Mundial pela UNESCO desde 1982.

Planeada naquele instante, arriscamos por nova rota, não tão audazes quanto os bravos e destemidos navegadores portugueses que deram a conhecer novos mundos ao Mundo no séc. XVI - muitas vezes mareando completamente rumo ao desconhecido -, embora talvez imbuídos da mesma carga onírica.

Com o céu azul e o horizonte limpo, nada melhor do que começar por ver o ex-líbris da cidade, a Duomo (catedral), ladeada pelo respectivo Campanile (campanário). Subir ao ponto mais alto custa seis euros e não é para todos, pois não há elevadores - à entrada existem mesmo avisos que desaconselham as pessoas com problemas cardíacos a subir a escadaria.

São 463 e 411 degraus, respectivamente. A dobrar, é bom de ver. Optamos pela primeira opção, sempre se atinge um ponto mais elevado e é verdadeiramente imponente. Após alguns minutos a escalar por entre as entranhas daquela magnífica obra de engenharia alcançamos finalmente o topo da cúpula.

No último lanço íngreme das escadas de acesso ao terraço circular cruzamo-nos com um pequeno grupo de americanos, tal como em Veneza nos dias anteriores, a verdadeira praga nesta altura do ano em Itália, pior mesmo que os pombos, as motoretas e a confusão do trânsito. Um deles vira-se para nós e dispara:
- The best view on the house!
Engana-se, pois, tal como nós, provavelmente ainda não viu Florença desde o miradouro da Piazzale Michelangelo - uma vista sublime num local a condizer, principalmente ao entardecer...

24 de novembro de 2006

Efemérides e transições...

No final de uma semana atribulada, que me deixou pouco tempo para as lides bloguistas, não quero deixar de assinalar, esta sexta-feira, os 100 anos sobre o nascimento de Rómulo de Carvalho, professor de Físico-Química, divulgador científico, humanista, ou António Gedeão, heterónimo do poeta das coisas simples, como preferirem, e o desaparecimento, no dia anterior, do actor francês Phillippe Noiret, aos 76 anos.

Sem menosprezar a personagem de Pablo Neruda interpretada em Il Postino (O Carteiro de Pablo Neruda), na minha memória perdurará para sempre a comovente figura do imortal Alfredo nessa verdadeira ode ao cinema, ao amor, ao amor pelo cinema, ao cinema do amor, que constituiu o tocante filme Nuovo Cinema Paradiso (Cinema Paraíso). E pensar que a película data de 1988...

17 de novembro de 2006

«Non c'è il motorista!»

Após dois dias na Rainha do Adriático, eis-nos a caminho de Florença, a jóia da Renascença. Vamos de comboio, o Eurostar da Trenitalia (intercidades), mas temos de o apanhar em Mestre, povoação onde pululam hotéis, residenciais, pensões e outros sítios para dormir, situada nos arredores de Veneza, apenas a dez minutos de distância. Ir de Mestre a Veneza, e vice-versa, não constitui problema, pois as ligações ferroviárias entre ambas as estações são espaçadas por poucos minutos. Bom, nem sempre.

Tomámos assento no primeiro comboio que, supostamente, saía da estação - um edifício austero, a fazer lembrar os tempos da II Guerra Mundial -, mas à hora marcada o veículo permaneceu imóvel. Dispúnhamos de alguma margem de segurança relativamente ao horário e por isso ficámos sentados. Os poucos passageiros entreolhavam-se. Ao nosso lado víamos sair outras composições. Começámos a ficar impacientes e preocupados, uma vez que o tempo corria e nós quietos. Resolvi sair para ver o que se passava e quando interpelei uma senhora dos caminhos-de-ferro italianos, que andava pela plataforma de walkie-talkie na mão, ouvi dela uma explicação perfeitamente plausível para o mistério:
- Non c'è il motorista!, disse.

«Elementar, meu caro Watson», como dizia o outro, sem condutor a máquina não anda. O sucedido fez-me recordar a nota de abertura do livro À Noite Logo se Vê, do escritor Mário Zambujal: «Todo o mistério tem explicação. A explicação é que pode ser inexplicável». Voilà!
Por fim, muito a custo, lá seguimos caminho noutro trem, não sem antes termos primeiro visto partir aquele que acabáramos de abandonar. Percebemos depois o que se passara - havia greve de comboios nesse dia. E foi o que nos valeu, porque em Mestre o Intercidades atrasou mais de meia-hora, chegando a Florença muito depois do previsto.

De tal forma que, para minimizar o transtorno causado, a própria companhia informou os passageiros que podiam solicitar a restituição de metade do preço dos bilhetes. Preenchida a papelada, pode ser que daqui a algum tempo haja, algures em Lisboa, um repasto guloso com o alto patrocínio da Trenitalia.

16 de novembro de 2006

Direito ao Ferreira Fernandes

Não sou comprador habitual do Correio da Manhã, mas sempre que apanho um por aí vou logo direito à última página. À procura do Ferreira Fernandes.

A pequena coluna que este experiente jornalista assina nas costas daquele diário, de segunda a sábado, é um dos pequenos prazeres que não dispenso. Mesmo se, muitas vezes, a ela tenha acesso apenas através da Internet e não possa sentir o inconfundível cheiro do papel de jornal, nem sujar as minhas mãos de tinta com o seu manuseamento, duas coisas que, estranhamente, me causam deleite.

Não são mais de 140 palavras ou 800 caracteres. Dizer tanto em tão pouco espaço só está ao alcance de alguns. Fazê-lo da forma talentosa, culta, inteligente, mordaz, irónica, atenta, perspicaz e directa como ele consegue é brilhante. Aqui fica o elogio. (Em 133 palavras e 794 caracteres, com espaços, claro.)

15 de novembro de 2006

Veneza lá do alto

Custa seis euros e demora escassos segundos de elevador mas vale a pena subir ao Campanile da Praça de São Marcos para ver Veneza, a lagoa e os canais que a serpenteiam lá do alto. Em dias de horizonte limpo enxerga-se os Alpes, não muito longe dali.

A praça é o sítio mais emblemático da cidade e palco do desfile das máscaras do segundo mais famoso Carnaval do mundo, a seguir ao do Rio de Janeiro, no Brasil. (Em terceiro na lista de preferências vem, com certeza, o do Funchal, com o inefável Alberto João Jardim a desfilar!)

É lá também que se situam três cafés à moda antiga que nos remetem para memórias de outras eras e onde se pode descansar a cabeça, o olhar, o espírito e o físico ao som de música de câmara, não apenas clássica, todos eles com esplanadas na praça e de preços proibitivos ao comum dos mortais. À esquerda fica o Florian, o mais conhecido; do lado direito o Caffé Lavena e o Gran Caffé Quadri. Virado para o Palácio Ducal, ao pé das colunas de São Marcos e São Teodoro, existe ainda outro, o Gran Caffé Chieggia.

14 de novembro de 2006

Aos beijos em Paris, ou talvez não...

Paris, a cidade do amor e do romantismo, já viveu melhores dias. Pelo menos a julgar pelas poucas pessoas que se juntaram na capital francesa para imitar o apaixonado par na imortal fotografia de Robert Doisneau - datada de 1950 e cujo título é Le Baiser sur l'Hotel de Ville - e tentar bater o recorde mundial de beijos na boca no mesmo local.

Segundo deu eco a Imprensa, foram apenas 1188 aqueles que se dignaram a participar na iniciativa promovida na quinta-feira passada, 9 de Novembro, pelo Guinnes Book of Records, de modo a assinalar o Dia dos Recordes. Rezam as crónicas que a escolha do local onde decorreu a osculação poderá ter influenciado o desfecho, pois a zona de escritórios de La Defense não é propriamente o lugar mais poético da Cidade Luz.

Outra das acções do dia aconteceu em pleno Estádio da Luz, em Lisboa, onde aquela entidade certificou o Benfica como o maior clube do Mundo em número de sócios activos, 160.398, marca que constitui novo recorde planetário. Lanço daqui um apelo: benfiquistas de todos os cantos, uni-vos para bater o máximo de 11.570 criaturas que, no ano passado, em Budapeste, na Hungria, quebraram a barreira que os pobres parisienses não conseguiram superar! Como não sou sócio, talvez aparecesse como simpatizante e adepto. Do Glorioso e do roçar dos beiços, claro…

13 de novembro de 2006

Silêncio no Grande Canal

Os vaporettos, como são conhecidos os barcos que fazem as vezes dos autocarros em Veneza, proporcionam o único meio de transporte acessível às depauperadas bolsas lusitanas numa cidade como esta, onde a água é rainha.

Além disso, andar a pé sempre pode ser umas boas formas de conhecer a fundo os locais citadinos e que melhor passeio pode haver quando não se ouve a confusão e o barulho ensurdecedor dos motores dos carros e das motorizadas, verdadeiras pragas neste país.

Numa dessas caminhadas, a vista do Grande Canal a partir da Ponte della Accademia constitui ponto de passagem obrigatório. Ao fundo, a impressionante igreja barroca de Santa Maria della Salute. Terminada em 1687, constitui um dos imponentes marcos arquitectónicos de Veneza.

10 de novembro de 2006

O estado da blogosfera

Recentemente iniciado nestas andanças deixo alguns números sobre a crescente profusão dos blogues, segundo o estudo norte-americano State of the Blogosphere, October, 2006 divulgado no passado dia 6 de Novembro.

De acordo com a análise, existem mais de 57 milhões de blogues registados, estando 55 por cento destes activos, o que significa que foram actualizados pelo menos uma vez nos últimos três meses.

A blogosfera continua a aumentar com vivacidade, pois segundo o relatório foram criados três milhões de blogues por mês durante o terceiro trimestre de 2006 e 100 mil diariamente, o que faz com que a blogosfera duplique todos os 234 dias. Impressionante!

9 de novembro de 2006

YouTube é a invenção do ano

O site YouTube foi a principal invenção do ano de 2006 segundo a revista norte-americana Time, que lhe dedica extensa prosa na sua última edição.

Visitado por 27,6 milhões de utilizadores durante o mês de Setembro, o site de partilha de vídeos, recentemente comprado pelo Google por 1300 milhões de euros, começou timidamente com um pequeno filme de uma viagem ao jardim zoológico, em Abril do ano passado.

Nesta altura contém cerca de 100 milhões de vídeos, aos quais são acrescentados mais 70 mil todos os dias.

8 de novembro de 2006

Grissom, Oscar Wilde e a ambição

Terminado o visionamento das duas primeiras séries do Lost na RTP e depois ter devorado sofregamente em casa a primeira, em DVD, virei-me quase exclusivamente para os episódios da sexta série do CSI (Las Vegas), actualmente em exibição às terças-feiras e sábados no AXN.

Apesar das passadas em Miami com Horatio Cane e Nova Iorque com Mac Taylor, honestamente interpretadas por David Caruso e Gary Sinise, respectivamente, não há amor como o primeiro e quem bata o desconcertante Gil Grissom (William Petersen).

Num destes novos episódios, o Grissom resolve um complicado caso ao xerife de Las Vegas, numa altura em que se aproximavam eleições estaduais e este, reconhecido, interpelou o chefe do laboratório forense no sentido de saber as suas ambições, se aspirava a algum cargo de maior responsabilidade, até político, ou a qualquer promoção.

Depois de dizer que se tinha atrasado a escrever o relatório de avaliação do pessoal, fundamental para desbloquear as verbas para o laboratório prosseguir o trabalho - e que o xerife se prontificou a solucionar - a resposta do Grissom foi elucidativa:
- You know... Oscar Wilde once said: ambition is the last refuge of failure. I'm fine thanks!
Brilhante!

7 de novembro de 2006

Jogo de espelhos

Depois da chuva e do céu cinzento, o sol apareceu para dar as boas-vindas.

Veneza é assim, bela e única, principalmente quando a acqua alta invade a Praça de São Marcos e afasta a praga dos pombos, permitindo ver o reflexo dela própria.

O fenómeno acontece com alguma frequência a partir de Setembro e o espectáculo vale bem a pena...

Os vassourinhas do curling

Não, não vou falar de futebol e muito menos do Benfica! A honra da primeira referência ao desporto nestas humildes páginas cabe ao curling, essa nobre modalidade de Inverno, olímpica desde 1998 e, segundo consta, engendrada pelos escoceses no séc. XVI.

O curling é jogado por equipas de quatro elementos e consiste no lançamento de pedras chatas de dimensões razoáveis e impecavelmente polidas sobre uma pista de gelo em direcção a um alvo marcado no chão. Simplificando, ganha quem conseguir colocar as ditas mais perto do centro.

Mais do que a precisão e estratégia do lançador, o que sempre me impressionou foram as enérgicas varridelas dos outros três elementos da equipa de modo a manterem impecavelmente limpo o caminho. Certamente dispõem de vassouras especiais, mas eu nunca fui na conversa. Limpar e varrer têm a sua arte, e é por isso que nunca me aventurei muito em tal mester.

No entanto, não posso deixar de sentir alguma compaixão por essas simpáticas figuras que esfregam o piso antes da passagem da pedra. Quantas horas treinarão? Seguirão o Cantiflas como modelo? Como estarão inscritas nas Finanças? Com que código? E como descontarão para a Segurança Social?

Confesso que o curling, ao contrário do digno ofício dos trabalhadores da Câmara Municipal de Lisboa que calcorreiam de lés-a-lés a cidade onde nasci e habito, me desperta o mesmo interesse e curiosidade que a vida do inenarrável José Castelo Branco. Mas ainda bem que em Portugal reina o sol e a neve e o frio escasseiam, pois certamente estas personagens seriam votadas ao ostracismo.

Imaginem só a cena passada numa qualquer repartição pública deste país. Na parte dos impressos para preencher a actividade profissional alguém escreveria: vassourinha do curling. À boa maneira portuguesa, o receptor dos documentos tentaria desfazer a dúvida esboçando um sorriso gozador e maquiavélico.
- Sim, mas o que é faz realmente na vida?
- (...)
Convenhamos que desmoraliza qualquer um...

6 de novembro de 2006

Bem-vindos a Itália!

Confesso que me delicio sempre a ver a pressa das pessoas em sair dos aviões logo que estes aterram, embora compreenda essa vertigem de pisar terra firme, depois de algumas horas fechadas a desafiar a lei da gravidade. Mal a aeronave se imobiliza na pista e é vê-las ansiosas em busca dos pertences que normalmente atafulham os compartimentos situados por cima dos assentos, apenas para depois esperarem carregadas, de pé, no corredor. É certinho e não falha, e pude confirmar isso mesmo, uma vez mais, na chegada a Veneza.

Abençoados pela forte chuva oblíqua que caía do céu carregado, decidimos abandonar o pássaro pela escada dianteira ao invés da traseira, pois íamos sair directamente para a pista, sem qualquer protecção (cobertura, guarda-chuva ou impermeável), e aquela era a única que dispunha de coberta. Mas como estávamos na cauda do bicho, tivemos de esperar que saíssem todos os incautos prestes a ficarem encharcados de modo a podermos retomar o caminho corredor adentro. Connosco ficou também uma velhota americana, de andar vagaroso, cujo conhecimento sobre Lisboa se limitava, conforme testemunhei depois numa breve conversa, ao voo de escala efectuado pelo seu avião, vindo dos Estados Unidos, em direcção a Itália.

Chegados finalmente à porta da frente, uma falha de comunicação hilariante entre a italiana que gesticulava energicamente no comando das operações de desembarque, na pista do aeroporto, e uma das hospedeiras da TAP, fez com que a primeira desse ordem de marcha antes de tempo ao autocarro que esperava os últimos cinco passageiros - eu, a Mónica, a americana e uma senhora aparentando cerca de 40 anos, deficiente de cadeira de rodas, que aguardava pacientemente juntamente com o marido a chegada do ambulatório.
Perante o caricato mal-entendido, a aeromoça logo vociferou:
- Estes italianos são mesmo estúpidos!

Depois de saber que se travava da primeira vez que estávamos, segundo ela, na confusão das terras transalpinas, virou-se para nós, incrédulos a assistir àquele pitoresco quadro surrealista, e disparou com um sorriso irónico:
- Bem-vindos a Itália!
Pouco depois, entre sonoras gargalhadas provocadas pela inusitada recepção de que fomos alvo, lá pusemos o pé firme em solo italiano levados todos pelo veículo ambulatório.

Mergulho

Passada a relutância inicial mergulho de cabeça na blogosfera com o objectivo de contar o primeiro episódio engraçado no início de 15 dias passados com a Mónica às voltas em Itália, deambulando por Veneza, Florença e pela bela região da Toscana, entre final de Setembro e início de Outubro de 2006.

Seguir-se-á a partilha de outras histórias, anseios, dúvidas, desabafos, devaneios e emoções sobre os mais variados assuntos...