29 de janeiro de 2007

Os brandos costumes

Leio e nem acredito. De acordo com o semanário Sol, António de Oliveira Salazar e Álvaro Cunhal, por esta ordem, lideram as preferências quanto à eleição do melhor português de sempre (na lista da última edição da revista Sábado ocupavam a quarta e oitava posições, respectivamente). Se bem que ache uma eleição deste tipo perfeitamente idiota, ainda que tenha o mérito de pôr os nativos em confronto com a sua história e as personagens que a fizeram, o facto é, por si só, assustador. Transcrevo dois excertos de prosas sobre o assunto escritas por dois ilustres colunistas cá da praça:

«Salazar governou em ditadura durante quarenta e tal anos; Cunhal só não o fez porque foi impedido pela parte sã da nação. Salazar fez de nós o país mais retrógrado e subdesenvolvido da Europa; Cunhal fez o que pôde para nos transformar numa Albânia. Ainda hoje pagamos a factura, económica e intelectual, das suas heranças. Que grande parte dos portugueses ache que eles são os maiores portugueses de sempre entre nós explica a razão pela qual somos actualmente o mais atrasado país da Europa». Miguel Sousa Tavares, in Expresso (20/01/07)

«Estranho caso o de um país que se revê em Salazar e Cunhal. Um e outro conseguiram arrasar e perverter tudo em que tocaram e estão na origem da maior parte dos problemas de hoje». Vasco Pulido Valente, in Público (28/01/07)

Este último vai mesmo ao ponto de afirmar que o país pensado por ambos «não deixou ainda de existir na cabeça dos portugueses». Também penso assim, embora ninguém o admita publicamente. Parafraseando o grande Eça de Queiroz em 1871, noutras circunstâncias, «o país perdeu a inteligência e a consciência moral». Quando lhe perguntaram a opinião sobre Portugal, o distinto escriba respondeu: «Um país geralmente corrompido – em que aqueles mesmo que sofrem não se indignam por sofrer". As palavras são tão espantosamente actuais que começo a interrogar-me se alguma vez teremos emenda...

2 comentários:

triss disse...

É mesmo assustador zé, concordo em absoluto contigo, e com o Miguel
:-)
Também li a coluna dele no sábado, e li também a daquele tipo que vai defender o Salazar no debate da RTP. Disse barbaridades do tipo "político honesto" e mais um chorrilho de disparates....

W. V. D. disse...

Como tenho a fama de reacionário não posso fazer comentários
:)