29 de março de 2007

Chamem-lhes tolos!

«(…) Num país de pequenas dimensões, o facto de existir proximidade com a água (Atlântico a Ocidente, Mediterrâneo a Sul), aliado ao clima temperado pelo cruzamento dos ventos quentes do Norte de África e de temperaturas mais baixas provenientes das brisas atlânticas, constituiu aliciante para a fixação de povos nesta área.»

«Da análise do mapa português torna-se fácil perceber isso. Em primeiro lugar, a maior parte da camada populacional concentra-se nas zonas de litoral, onde a pesca foi, desde tempos antigos, o principal meio de subsistência; em segundo lugar, curiosamente, existe, nos dias de hoje, sobreposição das zonas onde o cultivo da vinha é o produto principal com os antigos domínios da Ordem dos Templários e da posterior Ordem de Cristo: Alto Douro, Nordeste Transmontano, Ribatejo, Alto Alentejo e Sudeste Algarvio.»

«(…) Todas estas áreas eram de fundamental importância para a protecção de Portugal ante invasões marítimas, castelhanas ou muçulmanas.»

in Templários em Portugal: A Verdadeira História, de Pedro Silva

28 de março de 2007

Sons da lusofonia

Cara bonita, voz doce, canções melodiosas e ritmos suaves. Sara Tavares, nascida em Portugal mas de ascendência cabo-verdiana, encheu de público o São Jorge, na noite de terça-feira, para ouvir o concerto de encerramento da digressão do seu mais recente álbum, Balancê, editado em Novembro de 2005 e Disco de Ouro. A diferença é abismal relativamente a 1994, em que, com apenas 16 anos, venceu o programa Chuva de Estrelas da SIC e o Festival RTP da Canção.

Além do bom concerto, é sempre bom voltar a uma das mais emblemáticas salas de cinema do país, tão ligada ao imaginário de meninice de tantos lisboetas. As portas da entrada estão sempre escancaradas, num convite expresso a subir a escadaria e tomar um café no bar ou na esplanada sobranceira à Avenida da Liberdade. Não deixem de (voltar a) visitar esta pérola da Lisboa de outros tempos, antes que desapareça. É que também são as pessoas que dão alma aos lugares e os mantêm vivos. E, claro está, não deixem de ouvir o excelente disco da cantora lusófona.

27 de março de 2007

A inutilidade de Lobo Antunes

Os comentários ao texto Onde é que isto vai parar? fizeram-me lembrar algumas palavras do escritor António Lobo Antunes, completamente avesso às novas tecnologias, por alturas do lançamento do seu último livro, Ontem Não te Vi em Babilónia, em Novembro de 2006. «Não tenho cartão multibanco, não sei abrir um computador ou um DVD... Sou uma criatura completamente inútil. Só sirvo para escrever livros».

Uns fazem-no directamente no computador, outros ditam simplesmente o texto a outra pessoa para esta o teclar, poucos usam ainda a máquina de escrever e alguns rabiscam palavras com a sua própria letra, quase ilegível, em folhas de papel. É o caso de Lobo Antunes, autor de As Naus, livro onde coabita «gente conhecida de há muitos séculos, personagens distantes das aventuras históricas, marítimas e muitas vezes trágicas, e que por artes literárias acabam na dimensão de humanos que um dia lhes pertenceu», conforme se lê na lombada. Deixo um pequeno excerto para abrir o apetite...

«(...) Era uma vez um homem de nome Luís a quem faltava a vista esquerda, que permaneceu no Cais de Alcântara três ou quatro semanas pelo menos, sentado em cima do caixão do pai, à espera que o resto da bagagem aportasse no navio seguinte. (...)»

«(...) Ao segundo almoço conheceu (...) um maneta espanhol que vendia cautelas em Moçambique chamado Dom Miguel de Cervantes Saavedra, antigo soldado sempre a escrever em folhas soltas de agenda e papéis desprezados um romance intitulado, não se entendia porquê, de Quixote (...).»

26 de março de 2007

Substituto à altura

Sábado passado foi dia de limpezas lá em casa. Para iniciar as hostilidades, a parte traseira dos aposentos: marquise, cozinha e casa de banho, esta última da minha inteira responsabilidade. Após anos a querer distância do cubículo das ablações diárias, nos dias que correm não sinto qualquer náusea em limpá-lo (a fundo, diga-se) mesmo sem a ajuda de luvas apropriadas.

Tempos houve em que até me recusava a lavar loiça se não tivesse tais apetrechos a envolverem os meus delicados e aquilinos dedos, com os quais embalava amores platónicos ao som de bossa nova. Está visto, à medida que avançamos na idade vamos ficando mais exigentes numas coisas e bastante menos noutras.

Ainda no que toca às limpezas, nada melhor do que fazê-las acompanhado por música. Mas, desta vez, como emprestei o mini-aparelho para ouvir CD’s que habitualmente está na marquise, vi-me obrigado a recorrer ao pequeno televisor que estaciona por ali perto de modo a dar ambiente à cena.

Impossibilitado de ouvir o programa Radar 20 Anos (97.8 FM), no ar de segunda a sexta-feira, entre as 20 e as 23 horas – «a música que marcou uma geração 20 anos depois...», dizem eles – o VH1 revelou ser um substituto à altura. Senão, vejam algumas das pérolas dos eigthies que passaram no dito canal da TV Cabo: Duran Duran, Rio; Peter Gabriel, Sledgehammer; Michael Jackson, Bad; A-Ha, Take on Me; New Order, Blue Monday; Maddona, Like a Prayer; Chris Isaak, Wicked Game; REM, Loosing my Religion; Guns N’ Roses, November Rain; Beastie Boys, Sabotage...

23 de março de 2007

Onde é que isto vai parar?

Segundo um estudo realizado a nível ibérico pela empresa CPP, no segundo semestre de 2006, cerca de 71 por cento dos portugueses afirmaram não escrever uma carta há vários anos. Além disso, 53 por cento envia apenas SMS quando está de férias, em vez de postais, enquanto oito em cada dez prefere aquele modo para desejar feliz aniversário ou bom Natal. Em Espanha, os números são ligeiramente inferiores: 43 e 36 por cento, respectivamente.

O estudo revela outros dados, igualmente interessantes, como o facto de o telemóvel ser utilizado para evitar conversas indesejadas. Neste aspecto, 46% dos portugueses (contra 54% dos espanhóis) confessaram ter desligado algumas vezes o aparelho e atribuíram o corte à perda de sinal, para não terem de manter uma conversa aborrecida.

Ouçamos Peter Hall, responsável da CPP: «O telemóvel converteu-se na ferramenta perfeita para decidir com quem queremos e não queremos falar, bastando para tal olhar para o visor, ver quem está do outro lado e aceitar ou rejeitar. Enquanto forma de contacto é inclusive uma ferramenta que mudou consideravelmente os canais de comunicação: escrever cartas e postais passou à história, agora a moda é escrever SMS, que podem ser enviados a qualquer momento e a partir de quase todos os locais». Elucidativo. Qualquer dia não sabemos escrever com a nossa própria mão, apenas teclar...

22 de março de 2007

Os Templários, Tomar e Gualdim Pais

Falar de Tomar e da região envolvente não é possível sem mencionar a Ordem dos Templários, que aí fixou sede a partir de 1160, sob o comando de Gualdim Pais, e seria posteriormente denominada de Cristo por D. Dinis, quando aquela foi extinta, em 1312.

Existem referências ao passado por toda a cidade, cujo auge aconteceu no período em que o Infante D. Henrique por lá viveu, altura em que Tomar era local importante, encaixado entre Lisboa e Porto, a meio caminho da Ibéria.

Homem culto e empreendedor, juntou a sua fortuna pessoal às imensas posses da Ordem de Cristo, da qual seria nomeado regedor em 1420, para impulsionar a expansão marítima portuguesa. Muito da turba turística é impulsionada pelo facto de o conjunto arquitectónico constituído pelo Castelo Templário e o Convento de Cristo ter sido classificado pela UNESCO como Património Mundial em 1983, mas o local vale bem a visita. Aqui fica alguma informação sobre o assunto:

Criada em 1120 por cavaleiros instalados em Jerusalém, para incarnar duradouramente a ideia das cruzadas – proteger os peregrinos a caminho da Terra Santa –, a Ordem do Templo desenvolveu-se em todo o Ocidente e estendeu-se na defesa dos Estados Latinos do Oriente e depois até à Península Ibérica. Vítima de um processo fabricado pelo rei de França Filipe, O Belo, e seus conselheiros, viria a ser suprimida em 1312.

Em Portugal, D. Dinis salvou os Templários da aniquilação ao criar a Ordem de Cristo, que herdou todo o seu património e vocação, e viria a ter papel fundamental na afirmação do país e na expansão marítima. Segundo o historiador José António Saraiva, em O Crepúsculo da Idade Média em Portugal, "(…) tem sido descurado em Portugal o papel desempenhado pelos Templários e pelos seus sucessores, os freires de Cristo. A Ordem dos Templários (...) tomou parte na tomada de Santarém, em 1147 [a que se seguiu, no mesmo ano, a conquista de Lisboa], sendo por isso bem recompensada por D. Afonso Henriques (…)".

Paladino do primeiro rei de Portugal, o qual se intitulava irmão da Ordem, Gualdim Pais nasceu em Amares (1118) e morreu em Tomar (1195), lugar que fundou em 1157. Combateu os mouros ao lado de Afonso Henriques, tendo sido feito cavaleiro pelo soberano, em Ourique (1139). Partiu depois para a Palestina, onde esteve durante cinco anos, mas de volta ao reino seria ordenado quarto Grão-Mestre da Ordem em Portugal (1157), então ainda com sede em Soure. Três anos mais tarde fundou o Castelo de Tomar e o Convento de Cristo, passando a partir dessa altura e ser a sede dos Templários em solo lusitano.

Obra também consultada: A Grande Aventura dos Templários: da Origem ao Fim, de Alain Demurger

20 de março de 2007

As coisas que eu fiquei a saber...

Sempre que chego a um lugar ou uma região que não conheço, ou me é pouco familiar, seja em Portugal ou no estrangeiro, procuro tomar-lhe o pulso através dos jornais locais, um pouco à maneira do que faziam os escritores e viajantes nos séculos XIX e princípios de XX, quando assentavam poiso em território novo e indagavam sobre as tricas do momento.

Assim, recém-chegado a Tomar, depois de pernoitar em Constância, comprei os dois semanários disponíveis nas bancas, O Templário e Cidade de Tomar, fundados respectivamente em 1925 e 1934, o último dos quais assinalou o 72º aniversário precisamente no dia 17. As coisas que eu fiquei a saber...

Fiquei a saber que Ana da Conceição, a Anita, como é carinhosamente conhecida a popular natural de S. Miguel, freguesia da Madalena (Tomar), festejou, no dia 12, um século de vida junto da família em plena forma física.

Fiquei a saber que o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, de visita à barragem de Castelo de Bode e arredores, dormiu de 12 para 13 na Estalagem de Vale Manso, em Martinchel, e deixou a seguinte mensagem escrita no livro de honra do estabelecimento: "Bela vista, tranquilidade absoluta e bom serviço".

Fiquei a saber que, no dia 10, abriu em Ourém mais um centro comercial, o Vila Shopping, que agrupa quatro marcas do grupo Mosqueteiros (Intermarché, Stationmarché, Vetimarché e Bricomarché) e inclui 22 lojas.

Fiquei a saber que o Museu dos Fósforos, situado no Convento de S. Francisco, em Tomar, único do género em Portugal e cuja colecção exibe mais de 40 mil caixas e carteiras de amorfos de todo o mundo, registou um aumento do número de visitantes na ordem dos sete por cento em 2006, ano durante o qual compareceram no local 17024 pessoas, 15204 de nacionalidade portuguesa, 1820 oriundos do estrangeiro.

Fiquei a saber que a Sinagoga de Tomar, o templo hebraico mais antigo existente no nosso país, recebeu pela primeira vez, em 2006, mais visitantes portugueses do que estrangeiros, num total de 26951 entradas, divididas entre 13958 lusitanos e 12993 forasteiros.

Fiquei a saber que os tomarenses queixaram-se da fraca divulgação dada pela Câmara Municipal à presença na cidade, durante o fim-de-semana de 10 e 11, da estrutura organizativa do concurso "Sete Maravilhas de Portugal", cuja lista de 21 monumentos finalistas contém dois da região, o Castelo de Almourol e o Convento de Cristo.

Fiquei a saber que o Fátima, líder destacado da Série C da II Divisão, voltou a conhecer o sabor da derrota, após 17 jogos sem perder, na deslocação ao sempre complicado terreno do Sporting da Covilhã, numa partida da 19ª ronda.

Fiquei a saber que o árbitro rebentou com a equipa do Cartaxo, segundo as palavras do treinador Jorge Peralta, perdedor na visita à Madeira para defrontar o Santana, por 2-1, em jogo da 20ª jornada da Série E da III Divisão.

Fiquei a saber que a indígena Catarina Godinho, do Clube de Atletismo de Ferreira do Zêzere, sagrou-se campeã nacional de estrada em marcha, ao vencer a prova disputada em Ferreira do Alentejo.

19 de março de 2007

Cheirinho a Verão!

O calendário anuncia ser ainda Inverno. Mas falta pouco para chegar a Primavera e o fim-de-semana passado trouxe consigo um bocadinho dos cheiros e da agitação do Verão!

Seguindo o conselho do pregão "Vá para fora cá dentro", aproveitei para rumar até ao Ribatejo e conhecer, como deve ser, o Convento de Cristo, em Tomar, bem como os arredores da cidade.

Enquanto não prossegue o relato da epopeia a Itália (Veneza, Florença e Toscana) – por enquanto a marinar –, ficam prometidas algumas estórias sobre o roteiro lusitano da Ordem dos Templários, posteriormente de Cristo, e da sua importância para o nosso país.

13 de março de 2007

Típico humor britânico

A capacidade que uma pessoa ou um povo tem de conseguir gozar consigo próprio, pondo a nu os seus defeitos e as suas fraquezas, continua a fascinar-me. Por isso, sempre admirei o refinado e inspirador humor britânico. Os exemplos são muitos, mas tenho para mim que nunca ninguém – reparem na dupla negativa para reforçar a ideia – superou os fantásticos Monty Pythons.
Até a sisuda Margaret Thatcher, a primeira mulher a chefiar o Governo do Reino Unido, entre 1979 e 1990, não se imiscuiu pelos terrenos das irónicas tiradas humorísticas. Ou não tivesse sido, ela própria, a fonte de onde vários comediantes beberam inspiração.

A cena ocorreu no final de Fevereiro durante a inauguração da estátua em bronze da baronesa que passou a adornar os corredores da Câmara dos Comuns, em Londres. A obra precede uma outra, exposta em local diferente, feita em mármore e decapitada em 3 Julho de 2002 com uma barra de metal por Paul Kelleher, produtor de teatro, condenado a três meses de prisão em Fevereiro do ano seguinte pelo acto tresloucado.

No discurso de ocasião, a Dama de Ferro – actualmente com 81 anos e assim chamada pela forma determinada como levou a cabo reformas económicas que geraram forte contestação social – afirmou perante a gargalhada geral:
"I might have preferred iron but bronze will do"
"It won't rust. And, this time I hope, the head will stay on"

9 de março de 2007

Efeméride

Faz hoje precisamente 507 anos que zarpou com pompa e circunstância de Lisboa, mais propriamente de Santa Maria de Belém, a armada comandada pelo navegador Pedro Álvares Cabral e composta por dez naus e três caravelas. Nomeado capitão-mor pelo rei D. Manuel I para liderar a primeira expedição à Índia após o regresso de Vasco da Gama, Cabral desviou-se da costa do continente negro e avistou o Brasil a 22 de Abril de 1500, 43 dias após iniciar a epopeia.

Cientes de que havia terra defronte a África, conforme atesta a transferência do meridiano de divisão do mundo entre os reinos de Castela e Portugal no Tratado de Tordesilhas, em 1494, a frota perseguia objectivos mais abrangentes e integrava homens experientes como Bartolomeu Dias, o primeiro navegador a dobrar o Cabo da Boa Esperança – ou das Tormentas, assim chamado pelas dificuldades que impunha aos marinheiros –, o irmão deste, Diogo Dias, e Nicolau Coelho, um dos comandantes da expedição do descobridor do caminho marítimo para a Índia, além de Pêro Vaz de Caminha, cronista real.

Cabral nasceu no interior do país, presumivelmente em Belmote, na Beira Alta, mas foi o mar que o tornou famoso ao descobrir aquela a chamou terra de Vera Cruz.

8 de março de 2007

E Barcelona aqui tão perto...

Sempre tive alguma aversão a concertos de estádio e confesso que apenas numa ocasião paguei para assistir a um. Aconteceu com o do Sting no longínquo dia 1 de Agosto de 1993, em Alvalade. Ainda guardo religiosamente o bilhete – do tempo em que estes eram bem coloridos e não os papeis sensaborões de agora – que me permitiu o acesso ao relvado, bem perto do palco e da estrela.

Não sou muito dado a reuniões jurássicas, no que diz respeito aos grupos de música – parece que o Roger Waters disse que também não se importava de reunir mais vezes os Pink Floyd, depois da experiência do Live 8 –, mas confesso que aguardava com alguma expectativa a possibilidade de ver os Police ao vivo em Portugal. Isto depois de Sting ter anunciado o regresso aos palcos da mítica banda inglesa no início da actuação do trio, completado pelo divino Stewart Copeland e o cerebral Andy Summers, na festa anual dos Grammys, realizada a meio de Fevereiro deste ano, em Los Angeles, nos Estados Unidos. "Senhoras e senhores, somos os Police e estamos de volta!", atirou surpreendentemente o vocalista e baixista antes de cantarolar o Roxanne.

Soube-se agora que a digressão europeia incluída nas comemorações do 30º aniversário do aparecimento da turma, separada em 1986, não passará pelo mais ocidental país daquele que é conhecido como o Velho Continente. O périplo pela Europa começa a 29 de Agosto, em Estocolmo, na Suécia, e termina em Cardiff, no País de Gales, a 19 de Outubro, estando o concerto mais perto de nós marcado para Espanha, concretamente em Barcelona, no dia 27 de Setembro.

Para os interessados, ficam as datas europeias: Estocolmo, Suécia (29 de Agosto), Birmingham, Inglaterra (4 de Setembro) Londres, Inglaterra (8), Hamburgo, Alemanha (11), Amesterdão, Holanda (13), Praga, República Checa (16), Viena, Áustria (19), Munique, Alemanha (22), Paris, França (29), Düsseldorf, Alemanha (13 de Outubro), Manchester, Inglaterra (15) e Cardiff, País de Gales (19).

7 de março de 2007

Filmes mais vistos em 2006

Tinha prometido voltar ao assunto num texto anterior e cá está! O ICAM, Instituto do Audiovisual, Cinema e Multimédia, divulgou finalmente, na segunda-feira passada, os dados relativos à exibição cinematográfica em Portugal no período de 2005/06.

Com mais de 750 mil espectadores, O Código Da Vinci terminou 2006 como o filme mais visto nas salas de cinema lusitanas, num ano que registou assistências superiores a 16 milhões de pessoas (total de 16.367.429), um aumento de 613.318 e 3,89 por cento relativamente a 2005. Estes números proporcionaram uma receita bruta de 68.320.825,97 euros e significaram uma subida de 2,99 por cento nas receitas, equivalente a 1.983.449 euros.

Destaque igualmente para o português Filme da Treta, no décimo lugar, o único exclusivamente europeu a intrometer-se na hegemonia americana, presente nas outras 19 películas.

Os dez mais vistos (lista dos 20)
1. O Código Da Vinci, 756.770 espectadores
2. Piratas das Caraíbas - O Cofre do Homem Morto, 638.114
3. Idade do Gelo 2 - Descongelados, 493.374
4. Pular a Cerca, 422.251
5. 007 - Casino Royale, 375.162
6. Miami Vice, 307.788
7. Missão Impossível 3, 298.428
8. Eu, Tu e o Emplastro, 289.038
9. Infiltrado, 279.424
10. Filme da Treta, 278.421

6 de março de 2007

O prometido é devido

Ascensor do Lavra. Final da manhã de terça-feira, 6 de Março de 2007, antes de o tímido céu azul-claro passar a cinzento-escuro e começar a chorar, substituindo os risonhos raios de Sol...

2 de março de 2007

Pertinho de casa

Depois de cinco meses parado devido à derrocada de um prédio devoluto, voltou esta sexta-feira a funcionar o Ascensor do Lavra, situado na calçada com o mesmo nome, que liga o Largo da Anunciada à Travessa do Forno do Torel.

Classificado de Monumento Nacional desde 2002, é o mais antigo meio de transporte do género de Lisboa, tendo sido inaugurado a 19 de Abril de 1884. Prometo em breve tirar uma fotografia para a colocar no blogue, pois o dito fica situado bem pertinho de casa.

E porque não aproveitar os dias calmos de sábado e domingo, longe do bulício semanal, para passear pela cidade branca? Bom fim-de-semana!

1 de março de 2007

Filme com final feliz

Levado pela curiosidade dos Óscares, decidi ir ver ontem à noite ao saudoso Quarteto, onde não entrava há vários anos, o filme Entre Inimigos (The Departed), de Martin Scorsese. Tratou-se de um regresso às origens. Antes de mais, pelo despertar proporcionado pelo animatógrafo da Rua Flores do Lima para o fascinante mundo da sétima arte.

Memoráveis ficaram as maratonas ali passadas no aniversário do cinema, algures no Outono, em que cada sala, apinhada de gente, exibia vários filmes seguidos a preços reduzidíssimos. Numa dessas vezes, consegui mesmo cometer o feito de assistir à última sessão e abandonar o escurinho do cinema à luz do meio-dia.

O Quarteto abriu portas em 21 de Novembro de 1975, tendo sido gerido até 1999 pelo apaixonado Pedro Bandeira Freire, cinéfilo inveterado. Actualmente, a gestão do cinema está a cargo da empresa Carvalho & Pagará, Lda., conforme está escrito nos ingressos, cujo preço num dia normal é de quatro euros. Outrora local de frequência obrigatória, o primeiro multiplex do país sofreu as agruras da proliferação de mais e melhor oferta, e não acompanhou a exigência da procura quanto a assistir à projecção de um filme com condições técnicas superiores e numa sala a condizer.

O progresso parece não ter passado por ali, mas no ar sente-se a magia nostálgica e cheira-se a decadência do local, de tal modo que até chega a ser tocante. O mesmo símbolo: o nome grafado num pequeno pedaço de fita. "Quatro salas, quatro filmes" é ainda a frase que se lê no enorme letreiro que encima a cobertura das largas portas de entrada. Mantém-se o familiar café e esplanada no hall.


Anunciada às 21:45, a senhora da bilheteira apressa-se a comunicar que a sessão começa 15 minutos mais tarde. Expostas em vitrinas, as sinopses dos filmes em exibição são desbotadas folhas A4 imprimidas da Internet. Os próprios cartazes a anunciar as películas, estão encaixados toscamente à pressão, de modo a caberem naquele exíguo espaço que também informa os horários.

Electrónica para anunciar a sala e o título dos filmes é coisa que não existe. Por baixo do Entre Inimigos, a lembrar as distinções, há quatro estatuetas que parecem recortadas de revistas por crianças. Perto da hora, soa o gongo e a luz vermelha pisca a dar o toque a reunir para entrar no respectivo compartimento. Não há muita gente e talvez por isso ninguém aparece à porta para recolher os bilhetes. Apenas a empregada do bar deita o olho por detrás do balcão a controlar a cena.

Lá dentro, depois de subir os degraus, a cortina marca a ténue divisão entre a escada e a sala propriamente dita, ainda forrada por paredes de alcatifa, ou coisa parecida, e onde se mantêm as avermelhadas poltronas almofadadas de outros tempos, imunes às vertiginosas tendências actuais da arquitectura de interiores.


O filme começa. O barulho das bobinas é ensurdecedor e o som parece tirado de um disco de vinil mal tratado. Horizontalmente, a imagem não está centrada e um bocado da parte de cima aparece em baixo. Mas alguém, certamente habituado a estes filmes, levanta-se prontamente para avisar o projectista, cuja salinha situa-se logo ali ao lado, e o problema fica resolvido.

Às 23:20 (confirmei a hora a seguir), o filme pára, acendem-se as luzes e na tela as imagens do cada vez mais convincente Leonardo DiCaprio ou do sempre fabuloso Jack Nicholson são substituídas pela enigmática palavra intervalo em letras garrafais. Saem os viciados do fumo e os incontinentes do mictório. Quinze minutos volvidos, de novo o mergulho escuro. Já passa da meia-noite e meia quando tudo acaba.

Há lugares, como o Quarteto, com alma dentro. Que nunca mudam, ou mudam pouco, e nem por isso perdem o encanto próprio. Ainda bem. Possivelmente vou lá voltar. E sobre o filme, afinal o motivo que deu origem a esta prosa, considero exagerada a atribuição do título de melhor filme do ano.