27 de novembro de 2007

A dona Balbina de Miranda

Desde há vários anos que, nas deambulações por esta «nesga de terra debruada de mar», como lhe chamou um dia Miguel Torga, levo sempre comigo o guia Boa Cama, Boa Mesa, editado anualmente pelo jornal Expresso.

Uso-o para seguir as sugestões de restaurantes e posso-vos garantir que em nenhuma vez fiquei decepcionado com o resultado da escolha, criteriosa, quer pelo preço quer pela qualidade.

Miranda do Douro não fugiu à regra e, das várias possibilidades, o Restaurante Balbina era o que ficava mais a jeito, tendo em conta que a dormida também se situava no bem tratado centro histórico do burgo.

Depois de alguma hesitação, não resisti a pedir de entrada uma alheira - afinal, só um maluco iniciaria uma dieta para reduzir a matéria gorda quando acabou de ir de férias para Trás-os-Montes e Minho. Em boa hora, pois tratou-se da melhor que alguma vez comi, assada na brasa e nada gordurosa, antes cheia de carne.

Deliciei-me com o repasto e, já no final, não resisti a meter conversa com a dona do estabelecimento. Mais do que o sol e praia, o melhor que Portugal tem para oferecer a quem nos visita - e aos próprios portugueses - é, além da paisagem e do vinho, a comida e as pureza das pessoas.

E cada vez mais me convenço que, muitas vezes, as pessoas querem apenas que lhes concedamos alguma da nossa atenção e estejamos disponíveis para ouvirmos as histórias que têm para contar.

É a dona Balbina que confecciona ou supervisiona toda a comida do restaurante, a maior parte proveniente da quinta que possui nos arredores e onde cria tudo o que ali é vendido: legumes, batatas, galinhas, patos, porcos, frangos, pombos...

Enviuvou há cinco anos. Continua a lutar por aquilo que mais gosta de fazer, apesar de ter sido obrigada a tirar o peito esquerdo e dos insistentes conselhos para se reformar por parte das duas filhas, ambas a viver e a trabalhar no Porto, e com a vida orientada.

A dona Balbina encolhe os ombros e, por detrás do mesmo tímido e ingénuo sorriso, responde sempre igual:
- Mas eu gosto é disto! Gosto é de estar na cozinha e fazer comida!

Ainda bem.

Ah, e tem quartos que aluga mesmo por cima do restaurante, a preços convidativos...

4 comentários:

Tiago disse...

A senhora vai reformar-se à força, por imposição da ASAE. Espero que a Rita não veja o teu blogue, assim sempre dá tempo de eu lá ir...

José Nuno Pimentel disse...

Era para falar da ASAE, mas absti-me de o fazer... Ia desancá-los, mas enfim...

W. V. D. disse...

ia escrever exactamente o mesmo, os produtos da quinta são bons mas não para a ASAE

José Nuno Pimentel disse...

A minha esperança é que Miranda fique tão no fim do mundo que a ASAE se esqueça de lá ir...