28 de janeiro de 2008

À volta dos Radiohead

Não me recordo bem da primeira passagem dos Radiohead por terras lusitanas, em 1993, quando fizeram a primeira parte do concerto dos consagrados James no Pavilhão do Restelo, em Lisboa, mas das duas seguintes lembro-me bem delas.

Na última, em Julho de 2002, o grupo inglês proporcionou ao público ibérico uma mini-digressão por Lisboa, Porto, San Sebastian, Valência e Salamanca. Apesar de tocarem na Cidade Invicta, resolvi também comprar bilhetes para dois amigos do Porto, de modo a obrigá-los a passarem uns dias de convívio na capital e ajudar a acabar com o preconceito portuense em relação à minha cidade.

Como era de prever, o concerto do Coliseu estava apinhado de gente. A dada altura, apareceu à frente da nossa trupe um tipo aos tombos, a tentar enrolar um charro. Cambaleou mais um pouco, fez um compasso de espera, olhou para nós e, de entre todos, escolheu-me a mim como sendo o tipo que o ia safar:
- Ó pá, tens mortalhas?, atirou ele.

Quem me conhece sabe que seria a derradeira pessoa a conseguir satisfazer tal desejo. Não fumo, nunca fumei, mas o alucinado embicou comigo, vá lá saber-se a razão. Desatou tudo a rir, claro está, principalmente os meus dois amigos nortenhos que, ainda hoje, quando me cumprimentam, não resistem a fazê-lo utilizando uma das seguintes expressões: «Grande Zé das Mortalhas...»; «Olhó mortalhóides...»; ou tão simplesmente «O Mortalhas».

Antes desta ocasião, na segunda aparição da banda em Portugal, no mês de Maio de 1997, os Radioehad resolveram brindar o público português com a primeira apresentação mundial do álbum OK Computer, editado nesse ano e, na minha humilde opinião, um dos mais marcantes discos da história recente da música popular.

Tinha bilhete para ir vê-los ao exíguo Paradise Garage, mas, infelizmente, a minha avó paterna, já acamada em Coimbra com uma daquelas doenças inclementes, viria a falecer na madrugada do dia do concerto, de modo que a família rumou à Beira Alta para as exéquias.

A história terminava aqui, não fora o facto de ter disponibilizado o papelinho mágico a um dos meus amigos, para tal bastando apenas que algum deles contactasse o Nuno U. - ainda não o conheciam, mas era a pessoa que estava na posse do dito. No entanto, mesmo tendo ele deixado o bilhete à porta do local da festança, ninguém apareceu.

Não bastava já o duplo desgosto, como também, por causa deles, não pude reaver o dinheiro do ingresso quando havia muita gente interessada em viver aquele momento mágico. Por razões de segurança e para evitar o enxovalho público, omito os nomes dos comodistas.

4 comentários:

Tiago disse...

Dá-se pérolas a porcos. Uma história assim cheira-me a mano...

José Nuno Pimentel disse...

E cheira bem... Uns anos mais tarde, diz que a personagem falhou um certo concerto dos Police, mais a sua mais-que-tudo e amiga desta, por haver filas enormes de trânsito e não ter encontrado lugar de estacionamento perto do local do dito...

E o comprador dos ingressos ainda deve estar à espera de ser ressarcido das dezenas de euros que adiantou, para nada... :)

SC disse...

O Ok computer é de facto um álbum marcante, se bem que eu gosto deles todos.

Doeu-me o resto da história...

Tiago disse...

Na mouche, caro JNP... A nós doeu-nos mais, cara SC...