23 de janeiro de 2008

As Pequenas Memórias

Lêem-se quase de uma assentada estas fascinantes «memórias pequenas de quando fui pequeno», segundo refere o próprio José Saramago, a dada altura, no livro.

Pesquiso nos meus imensos arquivos e encontro perspectivas pertinentes sobre o assunto, muitos pontos para reflexão, como na crítica de Maria Alzira Seixo, no Jornal de Letras, aquando da publicação da obra, em 2006: «Quem ler As Pequenas Memórias vê satisfeita a curiosidade de saber como viveu e cresceu este vulto das Letras, e será surpreendido pela lição de briosa humildade que elas contêm, assim como pelo exemplo de trabalho e estudo que fazem, do menino rústico e sem condições, a culta e interventiva personalidade que é Saramago no mundo de hoje. Este exemplo não pode ser entendido como expoente de regra, pois é excepção, mas permite ponderar os resultados do facilitismo no ensino actual, assim como condições que, proporcionadas sem sentido moral e afectivo, não dão frutos».

Noutro local, num artigo publicado no El Pais, algures no Verão passado e a propósito do ponto de situação feito pela ministra da Educação sobre o ensino e o programa Novas Oportunidades, Miguel Mora, correspondente daquele jornal espanhol em Portugal, acrescentou: «Ao ver a precária educação recebida, nos anos de 1930, por aquele menino magro do Ribatejo que o seu pai polícia transplantou para Lisboa, parece quase um milagre (ateu e comunista, claro) que Saramago tenha acabado por ganhar o Nobel da Literatura [em 1998]».

Citando apenas alguns exemplos, Eça de Queirós foi diplomata, homem de Leis e pertencia a famílias aristocratas, Miguel Torga e António Lobo Antunes formaram-se em Medicina e mesmo os mais recentes best sellers Miguel Sousa Tavares e José Rodrigues dos Santos possuem distintos passados (e presentes) académicos e profissionais.

Para os interessados, aconselho igualmente uma vista de olhos no texto da escritora americana Fernanda Eberstadt sobre o visado, nascido na Azinhaga, em 1922, no The New York Times, e que a edição portuguesa do Courrier Internacional deu à estampa em Setembro do ano passado.

3 comentários:

Tiago disse...

E já terminaste a hercúlea saga dos pesados e numerosos volumes do Torga?

SC disse...

Olha, tenho-o lá. Comprei-o há tempos, mas depois esqueci-me dele, entre outras leituras. Vou tirá-lo da estante para que seja o próximo!

Anónimo disse...

Obrigado por Blog intiresny