Difícil reunião
"Estamos no ano de 1921. É Dezembro e pouco falta para o Natal. A Europa tenta recompor-se dos efeitos causados pela I Guerra Mundial (1914-18) e Portugal, a viver os instáveis anos iniciais da Primeira República, saída de Revolução de 5 de Outubro de 1910, não foge à regra.
A intervenção portuguesa no conflito acentua a instabilidade política, agrava a situação económico-financeira e faz aumentar a agitação social. A moeda desvaloriza, a inflação e a dívida pública aumentam. O descrédito interno é geral, o crédito internacional não existe.
É neste contexto histórico que a finalmente recém-formada selecção nacional de futebol parte de comboio para Madrid, a fim de disputar com a Espanha o seu primeiro encontro internacional. Os espanhóis não são pêra doce, pois há pouco mais de um ano alcançaram o segundo lugar nos Jogos Olímpicos de Antuérpia, na Bélgica, onde, entre outros, sobressaíra um jovem guarda-redes de apenas 19 anos, Ricardo Zamora.
À dificuldade em encarar tão valoroso adversário junta-se a complicação da escolha da equipa portuguesa. Devido à elevada preponderância de atletas de Lisboa, jogadores e treinadores do Porto boicotam o encontro marcado para o dia 18 de Dezembro. Artur Augusto, do FC Porto, não acata a decisão e é o único jogador não lisboeta a viajar.
Com Carlos Vilar a liderar a Comissão Técnica e Cândido de Oliveira, do Casa Pia, como capitão de equipa, Portugal não se sai mal na estreia. Perde por 3-1, com o tento lusitano apontado perto do final pelo benfiquista Alberto Augusto de grande penalidade.
O traquejo espanhol vinga sobre a inexperiência dos portugueses, mas ainda assim para a história fica a agradável imagem deixada no maltratado pelado do Atlético de Madrid.
A chegada da comitiva à estação do Rossio, em Lisboa, constitui, por isso, motivo de júbilo e é presenciada por dezenas de pessoas.
Embirrações antigas
As quezílias dos clubes em relação às convocatórias para a selecção nacional são muito antigas. Vêm de longe, mais precisamente desde o primeiro encontro internacional e antes do boicote dos jogadores e treinadores do Porto, já em Lisboa se discutia a justificação da chamada de Francisco Pereira, do Belenenses.
Confrontado pela Imprensa, o jogador preferiu não participar no encontro, o que levou os companheiros de equipa Artur José Pereira – seu irmão e considerado na altura o melhor jogador português – e Alberto Rio a recusarem igualmente o convite, por solidariedade.
Infelizmente, a questão perdurará por muitos e muitos anos, abatendo-se sobre a selecção nacional como uma verdadeira praga."
Nota: Retirado dessa portentosa obra denominada A História dos Campeonatos do Mundo de Futebol, dada à estampa em Março de 2006 pela editora Ideias & Rumos, precisamente antes da demanda lusitana por terras germânicas no Verão desse ano.
18 de dezembro de 2007
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1 comentário:
Feliz Natal! :)
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