17 de novembro de 2006

«Non c'è il motorista!»

Após dois dias na Rainha do Adriático, eis-nos a caminho de Florença, a jóia da Renascença. Vamos de comboio, o Eurostar da Trenitalia (intercidades), mas temos de o apanhar em Mestre, povoação onde pululam hotéis, residenciais, pensões e outros sítios para dormir, situada nos arredores de Veneza, apenas a dez minutos de distância. Ir de Mestre a Veneza, e vice-versa, não constitui problema, pois as ligações ferroviárias entre ambas as estações são espaçadas por poucos minutos. Bom, nem sempre.

Tomámos assento no primeiro comboio que, supostamente, saía da estação - um edifício austero, a fazer lembrar os tempos da II Guerra Mundial -, mas à hora marcada o veículo permaneceu imóvel. Dispúnhamos de alguma margem de segurança relativamente ao horário e por isso ficámos sentados. Os poucos passageiros entreolhavam-se. Ao nosso lado víamos sair outras composições. Começámos a ficar impacientes e preocupados, uma vez que o tempo corria e nós quietos. Resolvi sair para ver o que se passava e quando interpelei uma senhora dos caminhos-de-ferro italianos, que andava pela plataforma de walkie-talkie na mão, ouvi dela uma explicação perfeitamente plausível para o mistério:
- Non c'è il motorista!, disse.

«Elementar, meu caro Watson», como dizia o outro, sem condutor a máquina não anda. O sucedido fez-me recordar a nota de abertura do livro À Noite Logo se Vê, do escritor Mário Zambujal: «Todo o mistério tem explicação. A explicação é que pode ser inexplicável». Voilà!
Por fim, muito a custo, lá seguimos caminho noutro trem, não sem antes termos primeiro visto partir aquele que acabáramos de abandonar. Percebemos depois o que se passara - havia greve de comboios nesse dia. E foi o que nos valeu, porque em Mestre o Intercidades atrasou mais de meia-hora, chegando a Florença muito depois do previsto.

De tal forma que, para minimizar o transtorno causado, a própria companhia informou os passageiros que podiam solicitar a restituição de metade do preço dos bilhetes. Preenchida a papelada, pode ser que daqui a algum tempo haja, algures em Lisboa, um repasto guloso com o alto patrocínio da Trenitalia.

2 comentários:

triss disse...

gosto muito das tua "literatura de viagem" :-)

triss disse...

Zé Nuno... non c'è :-\