3 de setembro de 2007

Ecos de Siboney

Há algum tempo que a Mónica queria lá ir. Depois de várias ameaças, rumámos na sexta-feira, ao final da tarde, à loja VGM Música, representante de pequenas e desconhecidas editoras. Conhecemo-la por ser uma das bancas de venda de CD's habitualmente presentes no saudoso Festival África, em Lisboa.

Tentei saber o horário de expediente e por isso auxiliei-me da Internet, mas a maior parte das referências devolvidas na pesquisa dizia respeito ao escritor, poeta e tradutor Vasco Graça Moura. Como não era esse o VGM pretendido, metemo-nos a caminho da rua Viriato, ali a Picoas.

A loja é ampla, não tem quase ninguém e é especializada em música clássica, étnica, jazz e outros géneros fora do mainstream. Um cartaz anunciava alguns CD's em saldo, a metade do preço. Tentei a sorte e, entre o lote, encontrei a cinco euros um disco dos Ecos de Siboney, de Cuba, intitulado Saludo Compay, editado em 2003.

Na passagem do milénio, de 1999 para 2000, estive dez dias em Havana, para onde viajei, tal como o meu amigo David, incluído na bagagem da família angolana Simaria da Silva, amiga de longa data de ambos e cujo patriarca tinha negócios na "perla sureña".

Muito de Cuba, para não dizer do mundo, respira África por todos os poros e, para os negros, família e amigos fundem-se numa unidade. O pai da minha (nossa) amiga Wladimira Gueva, em homenagem ao El Comandante, é feito do que melhor de se pode encontrar na nossa espécie em termos humanos. E, claro está, não foi preciso muito para confirmar isso mesmo num curto passeio pelas ruas de Havana, vieja ou nueva.

Como bom anfitrião, convidou para animar o almoço de Ano Novo uns músicos seus amigos. Chamavam-se precisamente Ecos de Siboney. Eram, e continuam a ser, os netos e demais família do grande Compay Segundo. Lembro-me de, a seguir ao repasto, os meus amigos terem ido buscar caixas de charutos Cohiba desviadas directamente da fábrica cubana por mão amiga.

Mas eu, em vez de ir ao bairro onde viviam encaixotadas milhares de almas, situado nos arredores de Havana, preferi ficar à conversa com duas personalidades fascinantes - o Carlos, da viola, economista, e o Ernesto, contrabaixista, igualmente formado noutra ciência igualmente pouco exacta e cérebro daquilo tudo.

No final, ofereceram-me até um cartão com a morada e o telefone e uma vetusta cassete com várias músicas, pois gravar um disco em CD naquele local era privilégio de alguns, como os ligados ao projecto Buena Vista Social Club. Guardo, ainda hoje, religiosamente a fita e o bilhete de visita:

Agrupación "Ecos de Siboney"
Sexteto de Música Tradicional Cubana
Director: Ernesto Morales Repilado
Representante: José A. Morales C.

P.S. Ordenados por estilos ou editoras, pequenas e desconhecidas, a certa altura desatei-me a rir quando vi no escaparate o separador Eufoda (editora holandesa, penso eu). A língua portuguesa é, de facto, muito traiçoeira!

3 comentários:

Tiago disse...

Nã sejas tã azedo, home... nessa loja encontram-se raridades, volta lá, q eu também. O empregado é um imbecil, mas se não fosse ele eu já não me lembrava das tuas histórias havaneras.

Catarina Delduque disse...

uma vez levei lá uma seca de um fulano... foi obra!

Bolacha Maria disse...

Pois a loja não conheço, mas o episódio em Cuba é uma delícia!!

Comentário : que invejinha tu tens de não teres nascido em áfrica, hein? E mais, em Março vou por lá andar, novamente, privilégios de quem se juntou a outro Africano!!)