18 de dezembro de 2007

Aconteceu há 86 anos

Difícil reunião

"Estamos no ano de 1921. É Dezembro e pouco falta para o Natal. A Europa tenta recompor-se dos efeitos causados pela I Guerra Mundial (1914-18) e Portugal, a viver os instáveis anos iniciais da Primeira República, saída de Revolução de 5 de Outubro de 1910, não foge à regra.

A intervenção portuguesa no conflito acentua a instabilidade política, agrava a situação económico-financeira e faz aumentar a agitação social. A moeda desvaloriza, a inflação e a dívida pública aumentam. O descrédito interno é geral, o crédito internacional não existe.

É neste contexto histórico que a finalmente recém-formada selecção nacional de futebol parte de comboio para Madrid, a fim de disputar com a Espanha o seu primeiro encontro internacional. Os espanhóis não são pêra doce, pois há pouco mais de um ano alcançaram o segundo lugar nos Jogos Olímpicos de Antuérpia, na Bélgica, onde, entre outros, sobressaíra um jovem guarda-redes de apenas 19 anos, Ricardo Zamora.

À dificuldade em encarar tão valoroso adversário junta-se a complicação da escolha da equipa portuguesa. Devido à elevada preponderância de atletas de Lisboa, jogadores e treinadores do Porto boicotam o encontro marcado para o dia 18 de Dezembro. Artur Augusto, do FC Porto, não acata a decisão e é o único jogador não lisboeta a viajar.

Com Carlos Vilar a liderar a Comissão Técnica e Cândido de Oliveira, do Casa Pia, como capitão de equipa, Portugal não se sai mal na estreia. Perde por 3-1, com o tento lusitano apontado perto do final pelo benfiquista Alberto Augusto de grande penalidade.

O traquejo espanhol vinga sobre a inexperiência dos portugueses, mas ainda assim para a história fica a agradável imagem deixada no maltratado pelado do Atlético de Madrid.

A chegada da comitiva à estação do Rossio, em Lisboa, constitui, por isso, motivo de júbilo e é presenciada por dezenas de pessoas.

Embirrações antigas
As quezílias dos clubes em relação às convocatórias para a selecção nacional são muito antigas. Vêm de longe, mais precisamente desde o primeiro encontro internacional e antes do boicote dos jogadores e treinadores do Porto, já em Lisboa se discutia a justificação da chamada de Francisco Pereira, do Belenenses.

Confrontado pela Imprensa, o jogador preferiu não participar no encontro, o que levou os companheiros de equipa Artur José Pereira – seu irmão e considerado na altura o melhor jogador português – e Alberto Rio a recusarem igualmente o convite, por solidariedade.

Infelizmente, a questão perdurará por muitos e muitos anos, abatendo-se sobre a selecção nacional como uma verdadeira praga."

Nota: Retirado dessa portentosa obra denominada A História dos Campeonatos do Mundo de Futebol, dada à estampa em Março de 2006 pela editora Ideias & Rumos, precisamente antes da demanda lusitana por terras germânicas no Verão desse ano.

17 de dezembro de 2007

MILF

Ontem, a fazer zaping na televisão, enquanto preparava o gravador para fazer aquilo que é suposto fazer, detive-me por momentos perante o seriado emitido pela SIC Mulher de nome As Autênticas Donas de Casa, The Real Housewives of Orange County no original.

O programa mostra o dia-a-dia, conversas, anseios e preocupações de cinco mulheres e das respectivas famílias numa das comunidades mais ricas dos Estados Unidos, concretamente no sul da Califórnia.

No quinteto, que ultrapassou já a ternura dos quarenta, abunda o botox, a silicone, a plástica, o sapato, o vestido, o anel, a pulseira, as unhas de gel, o cabelo, a piscina, o cão, e algumas parecem até Pamelas Andersons.

O tema de conversa num dos irresistíveis diálogos versou sobre os jovens filhos das amigas - alguns não tão petizes quanto isso -, os quais, ao que parece, incluem estas sinistras figuras na categoria das MILF, nova expressão que aprendi e não resisto a partilhar: Mother's I'd Like to F***!

As outras, as verdadeiras Desperate Housewives, que se cuidem, pois esta versão vai na terceira série. Deliciem-se aqui.

Votos para o novo ano

Tido como o paradigma de tudo o que acontece neste mundo novo, pode ser que a greve dos guionistas dos Estados Unidos, cuja paralisação está praticamente a atingir os dois meses e ameaça fortemente em termos económicos as principais cadeias de televisão generalista do país - ABC, CBS, Fox e NBC -, venha a mudar o abuso sem escrúpulos, no que diz respeito aos direitos de autor, reinante na comunicação social e no meio audiovisual.

Como dizia hoje de manhã a escritora Alice Vieira, na habitual revista de imprensa matinal da SIC Notícias, trata-se da «força da palavra». Imaginem o prejuízo que não seria, em termos comerciais, se toda a gente - e falo em termos globais - cujo mester é escrever ou criar conteúdos originais em qualquer suporte decretasse gazeta ao mesmo tempo?

A principal reivindicação prende-se com o facto de os argumentistas quererem receber direitos de autor por conteúdos originais criados para telefones móveis ou para a Internet. Eu sei bem do que eles estão a falar...

Está bem, mas não chega...

«Lisboa terá o único aeroporto sem proibição total de fumar», titula o jornal Público de hoje.

No meio da histeria generalizada e da que por aí vem, primamos pela diferença nalguma coisa. O pior é o resto...

E digo eu que nem fumo e até começo a ter sentida compaixão relativamente aos fumadores.

P.S. Ao contrário do que mentes perversas possam pensar, a última frase não contém pingo de ironia!

13 de dezembro de 2007

Mudança de ramo

Pelo canto do olho, percebi, da janela, a chegada apressada da carrinha de mercadorias.

Estacionou onde havia lugar, em cima do passeio, mas surpreendeu-me a inscrição que tinha pintada: Frida, especialista em massas congeladas.

Não era pintora a defunta senhora? É no que dá confiar o legado aos herdeiros da família - a massa congelada também deve ser uma arte...

12 de dezembro de 2007

Contra a ASAE, marchar, marchar...

O fundamentalismo da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) está a atingir limites intoleráveis e de fazer perder a paciência.

Entre as exigências que ouvi recentemente, ditas pelo meu sogro, dono de um excelente restaurante em Lisboa que emprega 20 pessoas, esta é das melhores:
- Agora proibiram-nos de fazer as sobremesas com ovos frescos, apenas podemos utilizar ovos em pó!

Certamente adeptos da secular e tradicional doçaria portuguesa, os trabalhadores da ASAE vão entrar em greve às horas extraordinárias a partir de dia 20 de Dezembro e por tempo indeterminado, como convém.

Reclamam não ter sido ainda regulamentado o seu horário de laboração e, por isso, passarão apenas a trabucar de segunda a sexta-feira das 9:00 às 12:30 e entre as 14:00 e as 17:30. Mas será que ninguém fiscaliza a ASAE?

Era engraçado ver as musculadas incursões dos coletes azuis escuros pelas próprias instalações a selar e empacotar aquilo tudo, talvez também devido aos seus empregados cuspirem para o chão, falarem com a boca cheia, não lavarem os dentes ou cheirarem mal dos pés...

Pessoal da ASAE, toca a fazer denúncias anónimas às autoridades competentes sobre a vossa entidade patronal para ganharem ordenado sem trabalhar durante alguns meses e deixarem os pequenos prazeres da vida em paz!

Era de letra...

11 de dezembro de 2007

Drawning by Numbers

Nas cantigas de maldizer, segundo nos elucida a Arte de Trovar, incluída no provecto Cancioneiro da Biblioteca Nacional, «entrã palavras que queren dizer mal e nõ aueran outro entendimento senõ aquel que queren dizer chaãmente».

A música, neste caso, é outra, mas lembrei-me disto a propósito da obra escultórica Love & Numbers e dos dez monumentais números feitos em aço, da autoria de Robert Indiana, que agora enfeitam o Rossio, a Avenida da Liberdade e o Marquês de Pombal.

Não discuto os méritos do artista, um dos expoentes da Pop Art americana - certamente os terá. Questiono, a fazer fé no que vi escrito, os 100 mil euros gastos pela Câmara Municipal da minha cidade em tal espalhafato.

A arte pode ser contemplada até final de final de Fevereiro nas ruas de Lisboa. Confesso que só me ocorre sensação semelhante a esta, do tipo náusea, quando ouço falar no bizarro, inenarrável e incompreensível mundo da moda.

Resumindo: merecia uma boa cantiga de maldizer - grosseira mesmo -, pois as de escárnio, por se basearem em trocadilhos e ironias, são menos directas...

Nota: o inspirado título do post, bem a propósito, é o nome de um filme do fantástico Peter Greenaway.

6 de dezembro de 2007

Byblosmania

Era para abrir hoje ao público, mas apenas o fará no dia 14 de Dezembro, sexta-feira. Fica situada no edifício Amoreiras Square e já está disponível na Internet em http://www.byblos.pt/.

Entre as novidades tecnológicas desta nova e imensa casa da cultura, conta-se o facto de todos os livros terem um chip que os localiza rápida é facilmente através do sistema GPS.

Os números e as soluções impressionam:
- 3300 metros quadrados de área comercial;
- 150 mil títulos de fundo editorial, aos quais se juntam um conjunto de CD, DVD e jogos de computador;
- Quiosque com 206 metros quadrados;
- 36 ecrãs tácteis, onde cada utilizador pode pesquisar um título ou autor e descobrir a sua localização exacta;
- Estantes robotizadas com capacidade para 65 mil exemplares;
- 11 montras com plasmas e possibilidade de consulta a partir da rua;
- Auditório com 137 lugares;
- 4 milhões de euros de investimento.

Definitivamente, a merecer visitas regulares em vez das cada vez mais desorganizadas e confusas FNAC's...

5 de dezembro de 2007

Do baú

Chegado a Londres com dois comparsas numa viagem de Interail, logo o meu amigo Kieran, sabendo da minha paranóia pelos extintos Marillion, me avisou que o Fish, vocalista da banda que, entretanto, seguira carreira a solo, ia dar uma série de concertos na Escócia.

Informou-me que o manos Bryan e Paul tinham passado a viver em Edimburgo e, se quisesse, ligava-lhes para lá irmos. Ele ligou, eu falei com eles e, claro, lá fomos, mas éramos para ficar apenas um dia ou dois e abancámos durante uma semana! (Um dia prosarei sobre esta estonteante aventura...)

A dupla que me acompanhou desde Portugal era também fã assumida e assim que pusemos o pé na bela capital escocesa, não descansámos enquanto não fomos à industrial e eterna cidade rival de Glasgow comprar os bilhetes para o concerto, num local parecido com o saudoso salão de festas lisboeta Rock Rendez-Vous - a foto que encima o texto é mesmo o papelinho mágico!

Vem isto a propósito do concerto do Fish, hoje, na Aula Magna, integrado na digressão que serve para assinalar os 20 anos passados sobre a edição do álbum Clutching at Straws, de 1987. Escusado será dizer que, tal como os dois cúmplices dessa excitante jornada, estarei a abanar a carola logo à noite no concerto.

P.S. Conforme lembrou o tocante post do w. v. d., a determinda altura da minha humilde existência era conhecido na escola secundária como "o gajo do blusão dos Marillion", devido a um pequeno rectângulo bordado nas costas do dito com o nome do grupo.

30 de novembro de 2007

Adriano, Aqui e Agora - O Tributo

Novas roupagens para poesias e músicas eternas cantadas por Adriano Correia de Oliveira (1942-1982), por ocasião dos 25 anos passados sobre o seu desaparecimento, a 16 de Outubro.

A destacar:

- a sobriedade de Tim, mítico vocalista dos Xutos e Pontapés, em Tejo que Levas as Águas;

- Ana Deus, ex-vocalista dos Ban e outros, e Dead Combo, em Trova do Vento que Passa, embora goste mais do instrumental do que da interpretação dela;

- a surpresa da excelente versão electrónica dos Cindy Kat, composto por Pedro Oliveira e Paulo Abelho, respectivamente cantor e percussionista da extinta Sétima Legião, em E Alegre se Fez Triste. Provavelmente a melhor versão do disco, por ser diferente;

- a voz cristalina e o suave piano de Vicente Palma, filho do mestre Jorge, em Para Rosalía;

- Nuno Prata, ex-baixista dos Ornatos Violeta, uma das melhores bandas portuguesas surgidas nos últimos anos, a cantar em Fala do Homem Nascido.

29 de novembro de 2007

Acabadinha de chegar...

... de Londres, esta caixa de DVD's contém sete documentários de viagens da autoria de Michael Palin (ex-Monty Phyton) e realizados para a BBC, exceptuando a última série, intitulada A Nova Europa, que pode ser vista todos os domingos à noite na RTP 2.

Mais informações no imperdível "site" http://www.palinstravels.co.uk/.

Around the World in 80 Days: Michael Palin takes up the famous challenge. Air travel is forbidden, and wherever possible he uses the same routes and transport as Jules Verne's fictional hero, meeting many interesting characters en route. As he races across continents and against the clock, Michael's charm and ingenuity delights the armchair traveller.

Pole to Pole: Michael Palin's second televised challenge is to travel from the North to the South Pole, by land and sea. The crossing is varied and frequently gruelling, passing through Russia just days before the abortive Gorbachev coup, then on through Turkey, Egypt, Sudan and South Africa, hopefully arriving in time to catch the only ship from Africa to Antarctica!

Full Circle: In Full Circle, Michael Palin sets off from Diomede, in the Bering Strait, and hopes to return there one year later via Russia, Japan, Korea, China, Vietnam, the Philippines, Borneo, Indonesia, Australia, New Zealand and the whole length of the Americas. But right from the start things don't go to plan...

Sahara: Michael Palin's lust for travel is as strong as it was when he went around the world in 80 days, from pole to pole and then full circle. His latest objective is one of the great challenges in world travel: crossing the Sahara Desert...

Himalaya: In his most challenging journey yet, Michael Palin tackles the Himalayas, the greatest mountain range on earth, a virtually unbroken wall of rock stretching 1,800 miles from the borders of Afghanistan to south-west China.

Hemmingway Adventure: Palin journeys to Valencia in Spain, following in the footsteps of his favourite author, Ernest Hemingway.

Great Railway Journey: Derry or Londonderry, depending on religion or which part of Ireland you're from, is the starting point of Michael Palin's great Irish railway journey. A journey which will take him from this ancient walled city to the most Western tip of Ireland.

Nota: retirado da Amazon, onde, durante os últimos meses - ou mesmo anos -, andei a namorar a dita...

27 de novembro de 2007

A dona Balbina de Miranda

Desde há vários anos que, nas deambulações por esta «nesga de terra debruada de mar», como lhe chamou um dia Miguel Torga, levo sempre comigo o guia Boa Cama, Boa Mesa, editado anualmente pelo jornal Expresso.

Uso-o para seguir as sugestões de restaurantes e posso-vos garantir que em nenhuma vez fiquei decepcionado com o resultado da escolha, criteriosa, quer pelo preço quer pela qualidade.

Miranda do Douro não fugiu à regra e, das várias possibilidades, o Restaurante Balbina era o que ficava mais a jeito, tendo em conta que a dormida também se situava no bem tratado centro histórico do burgo.

Depois de alguma hesitação, não resisti a pedir de entrada uma alheira - afinal, só um maluco iniciaria uma dieta para reduzir a matéria gorda quando acabou de ir de férias para Trás-os-Montes e Minho. Em boa hora, pois tratou-se da melhor que alguma vez comi, assada na brasa e nada gordurosa, antes cheia de carne.

Deliciei-me com o repasto e, já no final, não resisti a meter conversa com a dona do estabelecimento. Mais do que o sol e praia, o melhor que Portugal tem para oferecer a quem nos visita - e aos próprios portugueses - é, além da paisagem e do vinho, a comida e as pureza das pessoas.

E cada vez mais me convenço que, muitas vezes, as pessoas querem apenas que lhes concedamos alguma da nossa atenção e estejamos disponíveis para ouvirmos as histórias que têm para contar.

É a dona Balbina que confecciona ou supervisiona toda a comida do restaurante, a maior parte proveniente da quinta que possui nos arredores e onde cria tudo o que ali é vendido: legumes, batatas, galinhas, patos, porcos, frangos, pombos...

Enviuvou há cinco anos. Continua a lutar por aquilo que mais gosta de fazer, apesar de ter sido obrigada a tirar o peito esquerdo e dos insistentes conselhos para se reformar por parte das duas filhas, ambas a viver e a trabalhar no Porto, e com a vida orientada.

A dona Balbina encolhe os ombros e, por detrás do mesmo tímido e ingénuo sorriso, responde sempre igual:
- Mas eu gosto é disto! Gosto é de estar na cozinha e fazer comida!

Ainda bem.

Ah, e tem quartos que aluga mesmo por cima do restaurante, a preços convidativos...

22 de novembro de 2007

Ora toma!

Fiquei contente com o apuramento de Portugal para o próximo Campeonato da Europa, apesar do sofrimento escusado.

Mas, mais do que isso, o que me encheu verdadeiramente as medidas foi mesmo a eliminação da altiva Inglaterra, em pleno Estádio de Wembley, às mãos da Croácia, quando lhes bastava somente um empatezinho.

- Ao meu lado no avião para Londres viajou um tipo escocês, novinho, que meteu conversa durante a viagem. Quando chegámos ao aeroporto, perguntou o resultado às primeiras pessoas que encontrou. Quando lho disseram, desatou aos berros - "Yes! Yes! Yes!" - e aos pulos, tal era o contentamento.

A história, fresquinha, foi-me contada na primeira pessoa ontem à noite. Quem conhece um pouco da história britânica e, como eu, conviveu com todos os lados da barricada (inclusive o irlandês) e esteve nos dois países, sabe do que estou a falar. Por isso, a minha solidariedade, neste momento, vai inteirinha para o povo escocês.

Deixo as palavras sentidas do defesa Vedran Ćorluka, que joga no campeonato inglês ao serviço do Manchester City, actualmente treinado pelo sueco Sven-Göran Eriksson, o primeiro seleccionador estrangeiro de Inglaterra, o tal que não prestava.

"Tiveram o que mereceram, pois não nos respeitaram. Não esperava tanta arrogância dos seus jogadores e da comunicação social. Foi um enorme prazer eliminar a Inglaterra". Não lhe adivinho vida fácil.

Mladen Petrić, autor do golo da vitória de 3-2, não quis ficar atrás: "Foi o golo mais importante da minha carreira. No final do encontro, não quis trocar a camisola com ninguém. Nenhuma camisola inglesa valia mais do que a minha".

Junto ainda a inveja transbordante num mail enviado de trabalho enviado, ontem à noite, por um inglês: "Hi, as your side have gloriously qualified for EURO tonight, (...)". Gosto de os ver sofrer...

Agora, no sorteio de 2 de Dezembro, quero Portugal emparelhado com a Grécia, França e República Checa, pois temos umas contas antigas para ajustar.

O Planeta ao contrário

Depois do último post, leio agora, atrasado, que o domingo passado, em pleno Novembro, bateu o recorde do ano no que diz respeito ao número de incêndios registados em Portugal: 391 fogos ou fogachos.

Aconteceu antes da carga de água que caiu logo na madrugada de segunda-feira, mas isto anda mesmo tudo trocado. Se não fazemos nada, qualquer dia acaba-se.

19 de novembro de 2007

Adivinha quem voltou

Finalmente, o Inverno... Depois de vários dias seguidos de céu azul e Sol imenso, eis que chega o tempo cinzento, a chuva e o frio.

Dormi a noite de sábado no sopé da serra, no centro do País. Às 2h36 da madrugada de domingo, lá estava de nariz no ar pronto para ver a anunciada chuva de estrelas. Durou pouco, pelo menos para mim.

Ainda me deslumbrei com um ou outro risco no firmamento, mas o frio era tanto e os agasalhos tão parcos que voltei presto para o quentinho da casa, onde a chama da lareira e os aquecedores a gás e eléctricos reinavam a seu bel-prazer.

Curioso, fui ao carro ver a temperatura ambiente: -3º! Safa! E parece que a repentina febre gélida vai continuar por mais alguns dias...

Estranho foi voltar ao bólide, no dia seguinte, e ver o termómetro subir até aos 13º, passando pelo... -0º.

Do mesmo género desta do desorientado mostrador electrónico, só me recordo de uma brilhante tirada de um dos comentadores futebolísticos cá da praça durante o Mundial de 1994, disputado nos Estados Unidos, em pleno Verão, debaixo de canícula insuportável apenas para gáudio das audiências televisivas europeias:

- (...) e está uma humidade relativa muito superior a 100 por cento!

Já no domingo, a seguir ao almoço, com o astro maior a aquecer as almas, um dos dois cafés da aldeia encontrava-se repleto de gente - homens, entenda-se, que a mulher é para ficar em casa e aquilo é lá lugar para formosas damas.

Os habitantes locais, menos boçais do que o especialista da bola em pontapés na inteligência e na gramática, confirmaram a novidade: este sábado e a quarta-feira anterior foram os dias mais frios dos últimos tempos.

12 de novembro de 2007

Portugal, Um Retrato Social

Este é um retrato do nosso país. Um retrato da sociedade contemporânea. É um retrato de grupo: dos portugueses e dos estrangeiros que vivem connosco.

É um retrato de Portugal e dos Portugueses de hoje, que melhor se compreendem se olharmos para o passado, para os últimos trinta ou quarenta anos.

1º Episódio - Gente diferente: Quem somos, quantos somos e onde vivemos.

Os portugueses são hoje muito diferentes do que eram há trinta anos. Vivem e trabalham de outro modo. Mas sentem pertencer ao mesmo país dos nossos avós. É o resultado da história e da memória que cria um património comum. Nascem em melhores condições, mas nascem menos. Vivem mais tempo. Têm famílias mais pequenas. Os idosos vivem cada vez mais sós.

Nota: Da sinopse do documentário, da autoria do sociólogo António Barreto e da realizadora Joana Pontes, cujos sete DVD's podem ser comprados às segundas-feiras com o jornal Público ou por inteiro nas lojas FNAC. Perdi a exibição na RTP, há uns meses, e por isso comprei hoje o primeiro volume da colecção!

9 de novembro de 2007

A lhéngua que resiste

Encostada a Espanha e dividida desta pelo rio que lhe dá o nome, Miranda do Douro vive entre o apelo do país vizinho e o isolamento provocado pela interioridade.

Mesmo assim, persiste em manter e respeitar a tradição da cultura local. Disso são exemplos os Pauliteiros, o grupo de música tradicional Galandum Galundaina e o mirandês, a segunda língua oficial de Portugal, cujo estatuto foi reconhecido em 1999.

Leio no Nordeste, semanário regional de informação - pelo menos assim se apresenta -, que o mirandês ganha adeptos, pois 450 alunos do ensino básico de Miranda do Douro e Sendim escolheram-no como disciplina de opção. O facto levou mesmo a Direcção Regional de Educação Norte (DREN), tão em voga nos últimos tempos pelas razões erradas, a recrutar, pela primeira vez, três professores para leccionarem aquela língua nas escolas da zona.

A Associação da Língua Mirandesa luta por não a deixar morrer. Há algum tempo, os falantes viram coroados os intentos com a edição dos primeiros álbuns de Astérix, l Goulés em lhéngua mirandesa. Não é difícil ouvi-la pelas ruas do centro histórico e as próprias placas com os nomes das ruas estão escritas em mirandês.

Desde há algum tempo, a língua ganhou espaço nobre na imprensa com a crónica que Amadeu Ferreira, homem das Terras de Miranda e actualmente vice-presidente da Comissão dos Mercados e Valores Mobiliários, escreve mensalmente no jornal Público.

Condenado ao desaparecimento está o pólo de Miranda do Douro da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), conta ainda outro pasquim. Como qualquer local que albergue estudantes, a terra viu surgir nos últimos anos inúmeros estabelecimentos – são visíveis vários bares e pontos de acesso à Internet, por exemplo – para satisfazer as exigências das novas gentes que por ali aportam. Mas a situação vai alterar-se nos próximos anos.

Devido a uma decisão tomada em Junho, o Senado da UTAD decidiu acabar com as duas licenciaturas leccionadas naquela extensão universitária – Serviço Social e Antropologia Ligada ao Desenvolvimento –, ficando ambas a definhar enquanto houver alunos a frequentá-las. Como tal, o presente ano lectivo já não estreou qualquer caloiro.

Miranda, outrora rival de Braga, sede de bispado, residência do bispo, cónegos e outras autoridades eclesiásticas, bem como militares e civis, sobreviveu à explosão do paiol do castelo que, a 8 de Maio de 1762, precipitou a decadência do burgo, por isso terá força suficiente para resistir a novas e mais modernas contrariedades.

7 de novembro de 2007

Diva à solta

Rufus Wainwright entrou no palco do Coliseu dos Recreios às 21h15 em ponto, tal como indicava o bilhete, embora ainda com metade da plateia de lugares sentados vazia. Confesso que desde logo me surpreendeu. Normalmente, quem chega a horas vê-se sempre obrigado a esperar pelos retardatários, situação que, no caso do público português, acontece em todo o tipo de eventos e, na maioria das vezes, é abusiva e irritante. Desta vez cheguei bem cedinho.

Falou sempre na sua voz efeminada de homossexual assumido, brincou com o público, contou histórias e piadas, fez jus ao epíteto de verdadeiro entertainer. Mudou de roupa duas vezes durante o show de apresentação do mais recente álbum, Release the Stars. Surgiu de fato cor-de-rosa claro, voltou para a segunda parte vestido de tirolês - meias altas, calções a imitar jardineiras e camisa - e regressou para a ponta final de robe branco vestido, a esconder a curta minissaia preta e os collants negros, ao jeito de diva de cabaret, sapatos de salto alto e tudo.

Acompanhado por uma banda de sete elementos, incluindo um trio de sopros composto por saxofones/flautas, trompete e trompa, o músico canadiano, de 34 anos, ora ao piano, ora na guitarra acústica, desfilou um rol de canções sóbrias e melodiosas numa encenação quase perfeita que durou duas horas e meia - acabou cinco minutos depois da meia-noite e teve 20 de intervalo pelo meio.

Pontos altos da etapa inicial foram Cigarettes and Chocolate Milk e Poses, tocadas a solo ao piano, Malushka, música tradicional irlandesa apenas acompanhada pelos metais e contrabaixo e cantada sem amplificação. Depois, duas canções de Judy Garland - que fez furor na primeira metade do século XX - incluídas num CD e DVD cuja saída está prevista para Dezembro, em que repete o último espectáculo da actriz e cantora, mãe de Liza Minnelli, no Carnegie Hall, de Nova Iorque, em 1961, bem como a teatralidade musicada, cantada e dançada, com os seus próprios músicos, na apoteótica parte final.

Naquele seu timbre característico, um pouco nasalado, a capacidade vocal de Rufus, surpreendentemente límpida e cristalina durante todo o concerto, ecoou sem mácula pelos recantos da mais emblemática sala de espectáculos da capital. Em breve irá descansar do desgaste das digressões e dedicar-se a compor uma ópera em 2008. Só podia.

6 de novembro de 2007

Eu vou!

Rufus Wainwright

World's Greatest Entertainer

In person, Coliseum, Lisbon, 6 November

For lastest details go to rufuswainwright.com or myspace.com/rufuswainwright.

Nota: O álbum cuja capa reproduzo, Poses, de 2001, é um dos melhores discos que já ouvi!

2 de novembro de 2007

Páginas tantas ou tantas páginas?

Caso não tivessem os compradores da edição desta sexta-feira do jornal Público notado logo no peso, o matutino sublinhou a cena com um destaque no cimo da primeira página:

HOJE 236 páginas

O número assusta, mas os meus são outros. Senão vejamos:

Caderno principal, 44
Economia, 24
Inimigo Público, 12
Y, 72
Mundo à Sexta (novo gratuito em colaboração com A Bola), 32
Ranking - Exames do ensino básico e secundário, 64

Se a estes juntamos as 92 do n.º18 da revista País Positivo, encarte distribuído igualmente grátis com o jornal, perfaz a linda soma de 340!

25 de outubro de 2007

No analisar é que está a questão

Entrados em Trancoso pelo Largo das Portas d'El-Rei, seguimos pela velha rua da Corredoura direitos ao pelourinho. Ir ao castelo não tem nada que saber - é subir pelas ruelas do centro histórico e chega-se lá num ápice.

Estávamos parados a contemplar a praça e a mirar o último sol da tarde a amarelar as paredes dos edifícios. Topava-se a milhas que éramos de fora e andávamos a passear. Pensando-nos desorientados, um solícito ancião ainda não tão ancião quanto isso, interpelou-nos:

- "Estão perdidos... Querem ir para onde?"
- "Não, não", respondi eu. "Estamos só a dar uma volta para depois ir até ao castelo."
- "Ah, então é por ali", indicou a personagem e simpaticamente deixou o aviso: "O castelo está fechado para obras, mas vão lá e analisem...".

Em terra alheia, os conselhos dos velhos sábios devem ser respeitados. Por isso, obecemos e lá fomos a analisar rua acima.

24 de outubro de 2007

O padre Costa de Trancoso

Trancoso é cidade apenas desde Dezembro de 2004, mas as suas muralhas graníticas escondem inúmeras lendas e histórias. Uma delas é a de um clérigo que viveu no século XV e terá gerado 299 filhos em 53 mulheres.

O padre Costa de Trancoso, livro da autoria do escritor e investigador Santos Costa, foi lançado no passado dia 1 de Outubro na cidade que viu nascer Gonçalo Anes Bandarra, sapateiro, poeta e profeta do mito sebastiânico.

A notícia é da Lusa, mas encontrei-a uns dias mais tarde no Correio do Minho, de Braga. E merecer ser partilhada.

A obra mistura factos históricos com ficção, aludindo à figura do padre Francisco Costa, personalidade emblemática do burgo onde, em 1288, D. Dinis celebrou o seu casamento com D. Isabel de Aragão - depois de o ter feito por procuração em Barcelona - e que tem sido alvo de zombaria ao longo dos tempos.

De acordo com o autor, uma lenda antiga remete para aquela personagem, que terá vivido no reinado de D. João II (1481-1495) e tido quase três centenas de filhos - 214 do sexo masculino e 85 feminino -, gerados em mais de 50 mulheres, muitas das quais suas familiares directas.

Santos Costa conta que, segundo a lenda, o sacerdote terá dormido com 29 afilhadas, que deram à luz 97 raparigas e 37 rapazes, e não poupou nove comadres, a quem arranjou 38 machos e 18 fêmeas.

Acrescenta ainda que os relatos existentes referem ter feito, entre outras proezas, 29 filhos e cinco filhas a sete amas, somando ao extenso rol mais 28 descendentes (21 homens e sete mulheres) de duas pobres escravas.

A pujança e as aventuras libidinosas terão incluído igualmente uma tia, de quem teve três rebentos, e nem a própria mãe lhe escapou, imagine-se, chocadeira de duas crianças - irmãs de seu próprio pai.

Reza o mito que o prior terá sido julgado em 1487, com 62 anos, e condenado a ser "degredado de suas ordens e arrastado pelas ruas públicas nos rabos dos cavalos, esquartejado o seu corpo e postos os quartos, cabeça e mãos em diferentes distritos, pelo crime que foi arguido e que ele mesmo não contrariou" (a cópia da sentença encontra-se no Arquivo Nacional da Torre do Tombo).

No entanto, apesar da violenta condenação, conta-se que D. João II lhe perdoou a morte e o mandou pôr em liberdade aos 17 dias do mês de Março do mesmo ano, com o fundamento de ajudar a povoar aquela região da Beira Alta.

Mais do que os singulares feitos do padre, elogio a capacidade parideira daquelas mulheres. Feitas as contas, passados seis séculos duvido que haja alguma pessoa naquela terra que não seja familiar uma da outra. Está explicada muita da vocação amalucada deste povo.

18 de outubro de 2007

Guia das Pousadas de Juventude, parte 2

(Continuação de Guia das Pousadas de Juventude, parte 1)

Ponte de Lima - Banhada pelo rio que lhe dá o nome, Ponte de Lima dispõe desde Agosto de 2003 de uma moderna e arrojada Pousada de Juventude. De linhas arquitectónicas rectas e construção em betão à vista, digamos assim, situa-se junto à estrada que liga a localidade a Viana do Castelo e foi a primeira a dispor de sala de convívio infantil, com equipamento pedagógico e lúdico - mais uma prova de que o conceito mudou nos últimos anos.

Tem apenas quatro quartos duplos com casa de banho e como cheguei sem reserva estavam todos ocupados. Hesitante, depois da má experiência de Vila Real, o meu receio desvaneceu-se logo a seguir. Os WC comuns são um mimo, amplos e limpinhos, e a excelente vista para a serra de Arga das enormes janelas, a toda a largura do quarto, minimizou o facto de não haver casa de banho.

Vilarinho das Furnas - A paisagem e o silêncio, apenas interrompidos pelos sons da natureza, notam-se logo nos primeiros instantes. Não há dúvida: estamos no meio de uma imensa mancha verde, de montanhas e vales profundos, que assustam os mais afoitos.

Fechada em Setembro de 2006 para receber obras de beneficiação, reabriu em Maio deste ano de cara lavada e decoração sóbria e toda da Area, a loja que tomou o lugar da Habitat. Com quase 200 camas, é a maior da rede de Pousadas da Juventude. Tem 22 quartos duplos com casa de banho, todos situados no edifício central - os múltiplos são isolados.

Quanto aos duplos, existem algumas advertências a fazer para quem os quiser visitar futuramente. Desde logo, o facto de as paredes interiores dos quartos serem em contraplacado faz com que se ouça perfeitamente tudo o que se passa do outro lado. Aviso feito para despudoradas práticas sexuais e flatulentas.

Os quartos estão numerados de 1 a 11 nos dois pisos, mas até ao 6 (inclusive) ficam virados para a parte de trás da pousada, cuja vista é menos simpática, enquanto dos outros vislumbra-se a suave aridez da montanha. Ainda em relação a estes, os primeiros logo à direita no corredor - 11 e 21 - são os únicos cujas camas não ficam paredes meias outro quarto - nos 7/8 e 9/10 dorme-se com a cabeça encostada ao vizinho. De resto, pouco ou nada há a apontar.

Melgaço - A Pousada da Juventude de Melgaço abriu as portas em Abril deste ano e é uma das mais recentes da rede. Fica nos arredores da cidade, mas é um luxo e tem classificação máxima. De traça linear, fica situada no recente Complexo Desportivo do Prado, que inclui estádio, relvado sintético, piscinas, ginásios, hotel, restaurante, tudo isto no meio dum pinhal.

Foi na escassa, mas honesta, biblioteca da sala de convívio que voltei a encontrar o livro Antologia, com extractos do Diário de Miguel Torga relativos a Terras de Bouro. Trata-se de uma edição de autor da Câmara Municipal feita pouco depois da morte do escritor, em 1996, e tinha-o visto a primeira vez na loja do Museu Etnográfico de Vilarinho das Furnas, ou da Furna, melhor dizendo. Para meu desgosto não estava à venda, mas nessa noite dormiu comigo no quarto.

Clicar aqui para saber mais informações sobre as Pousadas da Juventude.

12 de outubro de 2007

Guia das Pousadas de Juventude, parte 1

Longe vão os tempos em que era frequentador das Pousadas de Juventude. Entre essa altura e hoje, fui acompanhando de longe a expansão da rede de turismo juvenil. O facto de saber que a de Lisboa, situada na Rua Andrade Corvo, esteve fechada durante muito tempo, para receber obras de beneficiação, foi talvez um dos poucos pontos de contacto neste interregno.

Findos os trabalhos, o local, sito num prédio antigo, reabriu completamente renovado e passou a ter a classificação de cinco pinheiros, o símbolo que identifica estes poisos para adolescentes. Entretanto, a capital conta com mais uma localizada no Parque das Nações.

Dizia-me a responsável de uma das pousadas visitadas - e que abaixo enumero - que o público-alvo alargou-se, de modo a fazer face à imensa e feroz concorrência. Por isso, as pousadas, além de terem condições de poderem ser utilizadas por pessoas de qualquer idade, já não são apenas dirigidas aos jovens com pouco dinheiro no bolso, ainda que os preços sejam, realmente, bastante convidativos.

Tirando a pensão no centro histórico de Miranda do Douro e uma das casas do Parque Natural de Montesinho, a jornada levou-me a conhecer as Pousadas da Juventude de Foz Côa, Bragança, Vila Real, Guimarães, Ponte de Lima, Vilarinho das Furnas (Gerês) e Melgaço. Segue-se o guia, por ordem de utilização, útil para futuras visitas.

Avisos prévios: em quase todas as cidades existem placas a indicar a direcção das pousadas, os pequenos-almoços são iguais em todas elas e os quartos duplos não têm camas de casal.

Foz Côa - Inaugurada em 1999, fica longe do centro e por isso quem não tiver automóvel fica apeado nos confins do burgo. No entanto, o facto de estar na periferia faz com que tenha soberbas vistas sobre o vale. A merecer nova visita, até porque os planos de visitar o Parque Arqueológico saíram furados - tal como nos museus, segunda-feira é dia sagrado de descanso para olhar de perto as gravuras rupestres.

Bragança - Tal como a de Foz Côa, também esta fica ligeiramente afastada do centro e da bela cidadela. Está incluída numa zona animada durante o dia - ao lado de instituições estudantis e perto do hospital -, mas à noite mergulha na escuridão e obscuridade. É recente e parece um hotel.

Um autêntico luxo, pois das visitadas nesta viagem esta foi a única a disponibilizar televisão no quarto, com Sport TV e tudo. Vi e vibrei com o Portugal-Roménia, do Mundial de râguebi, antes de degustar um saboroso manjar dos deuses n'O Manel: ossinhos de porco à transmontana. Divinal!

Vila Real - Foi difícil dar com a coisa, uma vez que aquilo, o prédio, é tudo menos uma pousada. À chegada, a simpática recepcionista informa que os quartos duplos com casa de banho estão todos ocupados e a única possibilidade é dormir nos sem WC. O local é decrépito, de fugir. As portas dos quartos têm janelas de vidro fosco, o que, como as luzes do corredor ficam sempre acesas, não dá jeito nenhum para dormir às escuras.

Paira um cheiro nauseabundo e abafado por todo o lado. Lavar as mãos e os dentes nas casas de banho comuns foram as minhas únicas ablações nocturnas. Andei a fazer tempo à noite para chegar e ir direitinho para a cama. Na manhã seguinte, emborquei o pequeno-almoço num trago e fugi dali a todo o gás, sem tomar banho nem nada...

Guimarães - Se utilizei termos como hotel e luxo para descrever a pousada de Bragança, que dizer da de Guimarães? Situada na antiga zona industrial de Couros, junto à ribeira com o mesmo nome e pertinho do lindíssimo centro histórico, ocupa um edifício antigo todo em granito e chão de madeira, recuperado a preceito. Tem elevador, mas pouco espaço para estacionamento.

Mal entro no quarto, fico espantado com o facto de a bonita roupa de cama e a cortina do duche trazerem estampadas Agatha Ruiz de la Prada (fotografia que ilustra este texto). Outro nível. E ficar numas águas furtadas no segundo andar tem o seu encanto.

O bom gosto e sobriedade imperam, de facto, em cada recanto deste lugar inaugurado em Junho de 2004, por alturas do saudoso Euro'2004, que também passou pela cidade-berço da nação. Possui uma sala de convívio enorme com ecrã plasma a condizer e Sport TV entre os canais disponíveis.

Foi lá que vi o Benfica-Sporting. Pena os falhanços do Nuno Gomes e Óscar Cardozo que deixaram o resultado num empate sem golos e, muito pior, o facto de a máquina de tirar imperiais estar avariada. É que senão tinha sido mesmo o descalabro.

(Continua...)

10 de outubro de 2007

Um Reino Maravilhoso

Antes de contar alguns episódios da viagem por Trás-os-Montes e Minho, deixo uma advertência. Não vou sozinho. Acompanha-me o escritor Miguel Torga, transmontano de nascimento e minhoto por adopção, vulto maior das letras portugueses e tantas vezes incompreendido.

A primeira prosa é um excerto de Um Reino Maravilhoso (Trás-os-Montes), divulgado pela primeira vez numa conferência em 1941 e publicado nove anos depois num volume a que chamou Portugal, no qual disserta sobre regiões e lugares desta «nesga de terra debruada de mar», como escreveu num poema.

«Vou falar-lhes dum Reino Maravilhoso. Embora muitas pessoas digam que não, sempre houve e haverá reinos maravilhosos neste mundo. O que é preciso, para os ver, é que os olhos não percam a virgindade original diante da realidade e o coração, depois, não hesite. Ora, o que pretendo mostrar, meu e de todos os que queiram merecê-lo, não só existe como é dos mais belos que se possam imaginar.

Começa logo porque fica no cimo de Portugal, como os ninhos ficam no cimo das árvores para que a distância os torne mais impossíveis e apetecidos. E quem namora ninhos cá de baixo, se realmente é rapaz e não tem medo das alturas, depois de trepar e atingir a crista do sonho, contempla a própria bem-aventurança.

Vê-se primeiro um mar de pedras. Vagas e vagas sideradas, hirtas e hostis, contidas na sua força desmedida pela mão inexorável dum Deus criador e dominador. Tudo parado e mudo. Apenas se move e se faz ouvir o coração no peito, inquieto, a anunciar o começo duma grande hora. De repente, rasga a espessura do silêncio uma voz de franqueza desembainhada:
- Para cá do Marão, mandam os que cá estão!...

Sente-se um calafrio. A vista alarga-se de ânsia e de assombro. Que penedo falou? Que terror respeitoso se apodera de nós?
Mas de nada vale interrogar o grande oceano megalítico, porque o nume invisível ordena:
- Entre!
A gente entra, e já está no Reino Maravilhoso. (...)»

9 de outubro de 2007

O Che passou por Ponte de Lima

Não sou muito dado a assinalar datas, mas de vez em quando abro uma excepção.

Passam hoje 40 anos sobre a morte do revolucionário cubano - mas argentino de nascimento - Ernesto Che Guevara, El Comandante, e vem bem a propósito a fotografia que ilustra este texto, tirada à porta de um bar, em Ponte de Lima, durante o recente périplo por Trás-os-Montes e Minho.

Li há uns tempos uma entrevista do escritor Baptista Bastos, por ocasião do lançamento do seu mais recente livro, As Bicicletas em Setembro, na qual dizia, algo desencantado, que «as pessoas viajam para tirar fotografias. A esmagadora maioria não viaja para ver como são as outras».

Em certa medida concordo com ele, embora seja preciso encontrar o equilíbrio, como em tudo nesta vida. Há que ver com o coração, sentir com os olhos, ir ao encontro das pessoas, meter conversa. É precisamente de gentes, lugares e sabores minhoto e do nordeste que vos vou falar nos próximos tempos.

21 de setembro de 2007

Vou ali acima e já venho

Lembro-me deste cartão quando era mais novo, numa altura em que a idade ainda me permitia tê-lo com desconto, por causa de usufruir do famigerado Cartão Jovem.

Groucho Marx afirmava que nunca entraria para um clube que aceitasse como sócios pessoas como ele. Não vou tão longe. Trata-se apenas de um regresso ao passado, ao tempo em que, ainda na escola secundária, calcorreava Portugal de lés-a-lés com os amigos da turma.

Vou de viagem por Trás-os-Montes e Minho, durante as próximas duas semanas, sempre que possível com pernoita nas Pousadas da Juventude. Fiz tudo comodamente através da Internet e o Cartão de Alberguista chegou-me às mãos poucos dias depois, juntamente com uma carta a tratar-me por tu e cujo texto continha uma ordem:

«Pira-te e escolhe o teu pouso!!!». Assim seja!

12 de setembro de 2007

Tortellini de domenica matina

Depois de largo tempo de ausência retomo a partilha das aventuras da viagem com a Mónica a Itália - afinal, o propósito inicial da existência deste blogue -, realizada no ano passado mais ou menos por esta altura.

Para conhecer melhor a região toscana alugámos um carro e deixámos para trás Florença, destino seguinte após uns dias em Veneza. Não levámos qualquer CD de música, por isso tratámos rapidamente de sintonizar o auto-rádio para nos servir de companhia pela estrada fora.

Numa das primeiras tentativas, encalhámos num indivíduo a pronunciar vezes sem conta, aos altos berros, a seguinte frase: «tortellini de domenica matina». Rimos a bandeiras despregadas (ainda estou para saber o real significado desta expressão) e escusado será dizer que ela ficou a nossa private joke durante o périplo transalpino.

O episódio foi reavivado várias vezes no passeio e, sempre que a situação se proporcionava, juntávamos as pontas dos cinco dedos das nossas mãos, abanávamo-las exageradamente diante da nossa fronha, imitando os nativos, e gritávamos: Tortellini de domenica matina!

Tentar sintonizar rádios italianas é matéria ingrata e indescritível. Falam muito e alto a língua de Dante, além de a música ser quase toda pavorosa. Presumo que haja excepções, como em tudo, mas no final deixámos os megahertz repousarem tranquilos na Rete Toscana Classica.

11 de setembro de 2007

A não perder!

Estreia hoje à noite, às 22h25, no AXN, o canal 34 da TV Cabo, a 7ª temporada de CSI (Crime Scene Investigation, em português Crime Sob Investigação).

Passam dois episódios seguidos mas quem falhar pode vê-los noutra altura, pois o AXN repete a dupla jornada na madrugada e tarde (17h00) desta quarta-feira.

No sábado, dão o 1º episódio às 21h30 e o 2º na madrugada de domingo, voltando a repetir o 1º a horas impróprias na segunda-feira.

Nos Estados Unidos, a 8ª série tem estreia marcada para 27 de Setembro, na CBS.

10 de setembro de 2007

Blasted Mechanism

São originários da pátria de Camões mas, tal como os Wraygunn, preferem o inglês para se expressarem através da música - além de também o fazerem, pontualmente, numa língua por eles inventada, à maneira dos islandeses Sigur Rós.

Deram mais um excelente concerto, ontem, no encerramento da Festa do Avante e quem nunca os viu ao vivo e (ou)viu o Nadabrovitchka, aliás, Karkov (nome original), verdadeiro hino da banda, não sabe o que perde. Há muito tempo que não saltava tanto e via magotes de gente aos pulos numa música.

A Mónica tinha ido vê-los em Março à Aula Magna, no espectáculo de apresentação do novo disco, Sound in Light. Por isso, como tinha mais ou menos presente o alinhamento desse concerto, disse-me a certa altura.

- Acho que devíamos começar a pensar em ir mais para trás, antes do Nadabrovitchka. Da maneira que isto está vai ser a loucura...
- Nããããã, devem tocar essa no encore, respondi confiante.
- Olhe que não..., replicou bem a propósito, ou não estivéssemos em terreno comunista.

Nem chegou a terminou a frase, pois logo o vocalista, o grande Karkov, gritou Nadabrovitchkaaaaaaaaaaaaa e foi a histeria colectiva.
- Ai, é agora...!

Só tive tempo de a agarrar, para não ma levarem, e ir na onda. Saltámos juntinhos e, quando acabou a música, roucos, suados, sufocados com a onda de poeira que se levantou e a arfar, olhámos um para o outro e quase sobrepusemos as palavras:
- Bom, é melhor irmos mesmo lá para trás!

Clicar aqui para saber mais informações sobre os Blasted Mechanism.

5 de setembro de 2007

É rock n' roll,

são portugueses (embora cantem em inglês) e muito bons...

Wraygunn, Shangri-La, 2007

4 de setembro de 2007

Terror na Auto-Estrada

Ontem de manhã, o quadro de informação da A5, na zona de Linda-a-Velha/Carnaxide, direcção Lisboa-Cascais, avisava: Animal a 2 km, Seja prudente.

Não era preciso ir tão longe. Na maior parte das vezes, basta olharmos à volta do carro onde circulamos para encontrar, logo ali, várias espécies do género.

Ao volante, nas estradas, damos azo ao que de pior há em nós, humanos e portugueses. Não há quem nos pare. Somos os melhores do mundo.

O coitado do cão visado na advertência, que andava a deambular meio zonzo pela auto-estrada, não merecia ser assim equiparado.

3 de setembro de 2007

Ecos de Siboney

Há algum tempo que a Mónica queria lá ir. Depois de várias ameaças, rumámos na sexta-feira, ao final da tarde, à loja VGM Música, representante de pequenas e desconhecidas editoras. Conhecemo-la por ser uma das bancas de venda de CD's habitualmente presentes no saudoso Festival África, em Lisboa.

Tentei saber o horário de expediente e por isso auxiliei-me da Internet, mas a maior parte das referências devolvidas na pesquisa dizia respeito ao escritor, poeta e tradutor Vasco Graça Moura. Como não era esse o VGM pretendido, metemo-nos a caminho da rua Viriato, ali a Picoas.

A loja é ampla, não tem quase ninguém e é especializada em música clássica, étnica, jazz e outros géneros fora do mainstream. Um cartaz anunciava alguns CD's em saldo, a metade do preço. Tentei a sorte e, entre o lote, encontrei a cinco euros um disco dos Ecos de Siboney, de Cuba, intitulado Saludo Compay, editado em 2003.

Na passagem do milénio, de 1999 para 2000, estive dez dias em Havana, para onde viajei, tal como o meu amigo David, incluído na bagagem da família angolana Simaria da Silva, amiga de longa data de ambos e cujo patriarca tinha negócios na "perla sureña".

Muito de Cuba, para não dizer do mundo, respira África por todos os poros e, para os negros, família e amigos fundem-se numa unidade. O pai da minha (nossa) amiga Wladimira Gueva, em homenagem ao El Comandante, é feito do que melhor de se pode encontrar na nossa espécie em termos humanos. E, claro está, não foi preciso muito para confirmar isso mesmo num curto passeio pelas ruas de Havana, vieja ou nueva.

Como bom anfitrião, convidou para animar o almoço de Ano Novo uns músicos seus amigos. Chamavam-se precisamente Ecos de Siboney. Eram, e continuam a ser, os netos e demais família do grande Compay Segundo. Lembro-me de, a seguir ao repasto, os meus amigos terem ido buscar caixas de charutos Cohiba desviadas directamente da fábrica cubana por mão amiga.

Mas eu, em vez de ir ao bairro onde viviam encaixotadas milhares de almas, situado nos arredores de Havana, preferi ficar à conversa com duas personalidades fascinantes - o Carlos, da viola, economista, e o Ernesto, contrabaixista, igualmente formado noutra ciência igualmente pouco exacta e cérebro daquilo tudo.

No final, ofereceram-me até um cartão com a morada e o telefone e uma vetusta cassete com várias músicas, pois gravar um disco em CD naquele local era privilégio de alguns, como os ligados ao projecto Buena Vista Social Club. Guardo, ainda hoje, religiosamente a fita e o bilhete de visita:

Agrupación "Ecos de Siboney"
Sexteto de Música Tradicional Cubana
Director: Ernesto Morales Repilado
Representante: José A. Morales C.

P.S. Ordenados por estilos ou editoras, pequenas e desconhecidas, a certa altura desatei-me a rir quando vi no escaparate o separador Eufoda (editora holandesa, penso eu). A língua portuguesa é, de facto, muito traiçoeira!

29 de agosto de 2007

Voos abençoados

Certamente impulsionado pelo facto de estar a perder cada vez mais adeptos e com olho para o negócio, o Vaticano apostou na comercialização de viagens de baixo custo entre vários pontos de fervor religioso do mundo católico. A abençoada viagem inaugural, entre Roma e Lurdes, em França, decorreu na passada segunda-feira e contou com a presença do Cardeal Camillo Ruini, vigário do Papa na Diocese da capital de Itália.

No entanto, nem isso evitou as autoridades aeroportuárias francesas de, no regresso, confiscarem a miraculosa água do santuário mariano gaulês, devido às normas que interditam o transporte de líquidos em embalagens com mais de 100 mililitros. Além de Fátima, os romeiros poderão venerar in loco, em 2008, locais como Santiago de Compostela (Espanha), Czestochowa (Polónia), Terra Santa (Israel e arredores), ao Monte Sinai (Egipto) e à Virgem de Guadalupe (México).

A iniciativa, que prevê o movimento anual de cerca de 150 mil passageiros, é da responsabilidade da Obra Romana de Peregrinações, organismo da Santa Sé cuja tarefa consiste, conforme nos conta a Ecclesia, agência de notícias da Igreja Católica em Portugal, em "promover a pessoa e a sua evangelização através da pastoral do turismo e do ministério da peregrinação".

Os aviões são fretados à Mistral Air, companhia aérea propriedade do correios transalpinos e fundada pelo actor Bud Spencer, guarda pretoriano em Quo Vadis mas mais famoso pela participação em western spaghettis. Nascido em Nápoles como Carlo Pedersoli, há 78 anos, mudou de nome a partir de 1967, numa sentida homenagem a Spencer Tracy e à cerveja americana Budweiser.

Segundo informou a ANSA, correspondente à Lusa cá do burgo, o pessoal de bordo será "especializado em viagens de carácter religioso". Por isso, é de esperar que, a partir de agora, passe a haver padres pilotos e freiras hospedeiras, devidamente vestidos a rigor para a ocasião. Se dúvidas houvesse, ficaram desfeitas: viajar de avião é cada vez mais seguro!

24 de agosto de 2007

A Amélie caiu!

Nunca gostei de casas com paredes completamente despidas e, por isso, nos tempos em que vivia sozinho emparedado de branco tratei de decorar a sala, a divisão mais agradável do aposento, com posters e postais de cinema e música, além de outros objectos.

Hoje, o escritório do apartamento que habito com a Mónica guarda algumas das memórias dessa altura. Um dos posters, o que acompanha esta prosa, está colocado mesmo por cima da secretária onde temos o computador.

Trata-se do cartaz do filme Le Fabuleux Destin de Amélie Poulain, de Jean-Pierre Jeunet, preso por aquelas borrachas amarelas auto-colantes que fazem lembrar a infantil plasticina. Volta e meia, lá despegam da parede.

Ainda ontem constatara que estava perto de baquear, mas nada fizera para o evitar. Hoje de manhã, tinha eu acabado de despertar, grita a Mónica mesmo antes de sair porta fora para o trabalho:
- A Amélie caiu!

Pobre criatura que não merecia ser assim tratada.

21 de agosto de 2007

Operação mãos limpas

Conheci a Isabel quando andávamos na escola secundária, eu na área de Humanísticas, ela na de Ciências. Depois de ambos termos feito parte da Associação de Estudantes, ficámos amigos para sempre, embora as vicissitudes das vidas de cada um nos mantenham, nos dias de hoje, algo afastados.

Certo dia, vivia ela ainda em casa dos progenitores, viu-me passar as mãos por água e sabonete, e disse-me mais ou menos assim:
- Pareces o meu pai. Esfregas bem entre os dedos, lavas os pulsos e dás voltas e mais voltas...

Não me lembro da minha resposta, mas o que interessa nesta história é o facto de a pessoa a quem ela se referia ser, actualmente, ministro da Saúde.

Lembrei-me disto ao ler uma notícia, da semana passada, a qual contava que o facto de "ter as mãos desinfectadas conseguiu reduzir as infecções no Hospital de São João, no Porto, de 19% em 2005 para 12,5% este ano".

Para tal, "bastou avançar com uma medida já aplicada em várias unidades pelo mundo fora: colocou dispensadores de solução alcoólica desinfectante ao pé de cada cama e apostou na formação dos funcionários" no que diz respeito às normas básicas de higiene.

Às vezes, as medidas mais insignificantes - ou que assim nos parecem - têm resultados espantosos. E algumas são tão fáceis de tomar.

20 de agosto de 2007

Arte quê?

Aproveitando o domingo solarengo, rumei ontem à tarde a Belém para tentar ver a exposição da World Press Photo, no Museu da Electricidade. Como havia fila para entrar - e todas as que tenham mais do que duas pessoas à porta fazem-me logo perder a vontade - orientei a bússola noutra direcção.

Encaminhei-me então para o Centro Cultural de Belém, onde está patente a mostra de arte moderna e contemporânea da colecção do magnata madeirense José Berardo. Conclusão: por mais voltas que dê continuo a ter bastantes dificuldades em considerar objectos artísticos muitas das instalações, esculturas e pinturas expostas.

Mas o problema dever ser meu.

17 de agosto de 2007

Adivinha quem voltou

Começa hoje mais uma edição do campeonato português. Mesmo a propósito, ontem, à hora de jantar, ligo a televisão e está a dar um documentário sobre Pinto da Costa, o eterno presidente do FC Porto, com o sugestivo título de O Bom, o Mau e o Vilão.

A peça conta a história do responsável máximo do clube da «Antiga, Mui Nobre, Sempre Leal e Invicta Cidade do Porto» há 25 anos, intercalada por curtos apontamentos de entrevista a várias personagens, queridas ou não gratas do comandante da nação portista, cujo percurso de vida, pessoal, íntimo ou desportivo, se cruzou com o visado.

O rol é imenso mas retenho apenas uma das passagens, esta dita por Fernando Madureira, líder da claque Super Dragões.
- O que estava disposto a fazer pelo presidente do seu clube?
- Matar ou morrer (risos). Mas em sentido figurado...

A emoção do futebol lusitano está volta. Em sentido figurado.

13 de agosto de 2007

Melomania

Chegados de constantes viagens de carro e estadias mais ou menos prolongadas fora do lar, invariavelmente acompanhadas por muita música, resolvemos meter mãos à obra na catalogação da imensidade de CD's que abundam no hulmide aposento, de modo a evitar a aparente desordem em que andam.

Aparente porque os chatos círculos com buraco no meio estão devidamente organizados, em estantes, por estilo (Independente/Pop/Rock, Portugal, Espanha, Brasil, PALOP's, África, América do Sul e Central - Argentina, Cuba, Peru, etc. - Jazz, Soul, Celta, Clássica e Bandas Sonoras) e ordem alfabética de artista - e, dentro desta, pelo ano de edição do disco.

Só assim é possível saber onde está o quê. Mas a tarefa afigura-se morosa e complicada. É que, para além do pó em que navegam as caixas, e muito dificulta a empresa, a coisa ainda vai a meio da letra F da secção Independente/Pop/Rock, a primeira contemplada da aventura, e a conta já chegou a 150.

O espaço para aconchegar estes objectos preciosos em peças apropriadas começa a escassear. Na minha casa ideal, haverá sempre uma divisão para guardar estes prazeres ou outros, como livros e filmes, mas confesso que ainda não perdi a esperança de ver as ditas embutidas na parede.

Igual à que está, por trás do "disk jockey", no Incógnito, esse antro benigno das noites musicais e dançantes de Lisboa, que, por sinal, costuma sempre fechar para férias no mês de Agosto.

8 de agosto de 2007

Tou xim? É o Reininho!

As minhas férias de Verão incluem normalmente alguns dias, ainda que poucos, passados com a Mónica, sogros, cunhada e sobrinho numa praia do Algarve. Este não fugiu à regra.

- Aquele ali não é o Rui Reininho?, pergunta ela.
- Parece, mas não sei...
Sem a ajuda dos óculos não consigo enxergar quase nada, apenas vultos. Mas, realmente, o ar efeminado e a figura esguia e meio desengonçada, por causa dos mais de 1,90m de altura, pareciam denunciá-lo.

O homem estava à beira-mar e tomava conta de dois irrequietos miúdos que teimavam em não sair da água, apesar do estado agreste do mar, bandeira vermelha, coisa rara por aquelas bandas. A dada altura foram banhar-se para outro lado e passaram mesmo em frente a nós. As dúvidas ficaram desfeitas. Tratava-se mesmo do Reininho.

- Telefona ao Tiago a dar-lhe os parabéns e diz-lhe que vimos o Reininho aqui na praia.
O meu amigo festejava o aniversário nesse dia e tinha como um dos ídolos da juventude precisamente a personagem e o grupo de que ainda é vocalista, os GNR. Por isso, respondi de pronto:
- Não, vou fazer melhor. Quando o Reininho voltar vou pedir para ser ele a dar-lhe os parabéns...
- Estás a falar a sério?
- Claro!, lancei eu confiante do alto da minha timidez.

Sempre de olho nele, interpelei-o finalmente, cara a cara e com a mão estendida para um aperto de mão caloroso.
- Olá Rui! Chamo-me Zé Nuno e tenho um amigo que faz anos hoje e é um grande fã teu e dos GNR. Vou tentar telefonar-lhe daqui a pouco para lhe dares os parabéns. Pode ser? Ele ia gostar... (Assim mesmo, a tratá-lo por tu...)
- Força! Traga lá isso, disse o cantor da Invicta, com pronúncia do Norte, surpreendido mas sorridente. (Assim mesmo, a tratar-me por você...)

Uns minutos depois, fiz a ligação.
- ... encontrei aqui na praia uma pessoa conhecida que te quer falar...
E passei prestes o telemóvel ao mestre.
- Estou, Tiago? É o Reininho... Rui... Reininho! 'Tou?... Muitos anos de vida!
- ...

O vento forte e o barulho das ondas do mar quase deitavam tudo a perder, mas a prenda, original, estava dada. E eu que até nem sou de dar presentes em dias de aniversário.

20 de julho de 2007

Até já!

O autor deste blogue foi de férias e só regressa depois do primeiro fim-de-semana de Agosto. Na bagagem estival leva livros, música, filmes, máquina fotográfica, alguma roupa de Verão e muita vontade de namorar, passear e descansar.

Leva também telemóvel, ainda o mesmo pequeno e leve modelo que o acompanha há pelo menos seis anos e que apenas dá, imagine-se, para telefonar e mandar umas SMS's. Não leva computador e por isso nem quer ouvir falar de Internet e blogosfera.

19 de julho de 2007

And the winner is...

... Citizen Kane, ou O Mundo a seus Pés, de Orson Welles, segundo a lista dos 100 melhores filmes americanos de todos os tempos divulgada a meio de Junho pelo American Film Institute.

Inspirado na vida do magnata da comunicação social William Randolph Hearst, a película conta a história de Charles Foster Kane, menino pobre que se torna num dos homens mais ricos do mundo. Antes de morrer, o protagonista pronuncia a palavra «Rosebud» e leva um jornalista a iniciar uma investigação à procura do significado daquele enigmático termo.

Deixo o Top 10 do rol e, se puderem, aproveitem para ver alguns em tempo de férias. Além disso, estamos na silly season e os bons filmes começam a rarear nas salas de cinema.

Citizen Kane (O Mundo a seus Pés), Orson Welles, 1941
The Godfather ( O Padrinho), Francis Ford Coppola, 1972
Casablanca, Michael Curtiz, 1942
Raging Bull (Touro Enraivecido), Martin Scorsese, 1980
Singin' in The Rain (Serenata à Chuva), Gene Kelley e Stanley Donen, 1952
Gone with the Wind (E Tudo o Vento Levou), Victor Flemming, 1939
Lawrence of Arabia (Lawrence da Arábia), David Lean, 1962
Schindler's List (A Lista de Schindler), Steven Spielberg, 1993
Vertigo, Alfred Hitchcock, 1958
10º The Wizard of Oz (O Feiticeiro de Oz), Victor Flemming, 1939

18 de julho de 2007

Rescaldo

Quase três dias passaram sobre as eleições autárquicas intercalares para a Câmara Municipal de Lisboa, marcadas, segundo voz corrente, para um dia "incómodo" e "mal escolhido".

Fiz 250 quilómetros e cheguei propositadamente mais cedo à capital, no domingo, para votar. Retenho o facto de ter sido dos 37,39 por cento, pouco mais de um terço dos inscritos, que se dignaram a tal.

Como já alguém escreveu antes de mim, «em democracia todos os dias são bons para exercer o direito de voto». O descontentamento não deve conduzir ao absentismo. Temos memória curta é o que é.

17 de julho de 2007

Exemplar

Da Terra de Vera Cruz chega-nos mais um episódio fascinante. Reza a história que um professor de inglês meteu mãos à obra na tarefa de ensinar a língua de William Shakespeare aos mais necessitados e acabou a dar aulas a prostitutas brasileiras na Vila Mimosa, a mais antiga zona de meretrícia do Rio de Janeiro.

"Depois de dois anos a bater, sem sucesso, à porta de instituições públicas e igrejas com um projecto de dar aulas a pessoas desfavorecidas, estas mulheres receberam-me de braços abertos. Estou a adorar", afirmou o professor Mariano Capote, moço no esplendor dos 24 anos.

Pelo menos uma vintena de profissionais do mister mais antigo do mundo tem agora três horas semanais de lições na zona norte da Cidade Maravilhosa. O êxito é tal que a Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia revelou que vai abrir mais inscrições e acrescentar o castelhano aos próximos idiomas a leccionar.

13 de julho de 2007

O meu primeiro festival

Live Aid, 13 de Julho de 1985. Catorze aninhos feitos há pouco mais de dois meses. Estava de férias com a minha mãe e irmã na praia da Consolação, perto de Peniche.

Devidamente autorizado pela mulher que me deu à luz, cuja paciência de santa ainda hoje é lembrada, chamei todos os meus amigos e amigas de Verão lá a casa para vermos os concertos.

A maratona musical de combate à fome em África começou no velhinho Estádio de Wembley, em Londres, e seguiu noite dentro com a transmissão do evento de Filadélfia, no Estádio JFK.

A progenitora dormia o sono dos justos mesmo ali ao lado e talvez nem imagine a algazarra de gente a entrar e a sair daquela casa. Ou, se imagina, fez de conta que não (ou)viu nada.

Poupo-vos os fascinantes pormenores do espontâneo ajuntamento adolescente daquele que foi o meu primeiro festival. Nem à cama fui...

Limpeza total

Os Jogos Pan-Americanos, uma espécie de Olimpíadas da América Latina, Central e Caraíbas, que este ano decorrem no Rio de Janeiro, Brasil, vivem os primeiros momentos, mas o ambiente já aqueceu.

Num evento desta envergadura, onde são esperadas milhares de pessoas, tenta-se sempre receber da melhor forma possível os visitantes. Foi o que tentou fazer uma carioca, empregada de limpeza do local onde estão instalados os atletas, espécie de Aldeia Olímpica.

O lugar fervilha de gente e, já se sabe, a carne é fraca e a tentação enorme. Parece que a pobre coitada foi apanhada pelas colegas do turno que entrava de manhã a dormir no quarto de um competidor cubano. Resultado: não mais limpou nada por aquelas paragens.

12 de julho de 2007

Vontade zero

Reparei no desolador aspecto do menu Fascínios anteriores que está no lado direito da página principal do meu blogue. Estamos quase a meio de Julho e ainda só lá estão dois. Que miséria!

Há a tolerância zero, a gravidade zero, o ano zero, o zero à esquerda, o 0-0, a Sagres zero, a Coca-Cola zero, os Blind Zero (ler em inglês), os Zero 7 (idem), a Zero em Comportamento. Eu estou numa de vontade zero. Devem ser as férias a chamar por mim...

No trabalho é a mesma coisa. Felizmente estamos no defeso da silly season. (Bem, agora estão lá três.)

11 de julho de 2007

A ler... e a gostar

Estava destinado a ser um dos livros para ler a partir de dia 20, em dias divididos entre a tranquilidade da serra e umas horas na praia, mas um fim-de-semana de repouso no campo, que soube realmente a férias, antecipou o mergulho nas mais de 600 páginas deste fascinante calhamaço.

Da contracapa de D. Sebastião e o Vidente, de Deana Barroqueiro, escritora nascida nos Estados Unidos, em 1945, mas que cedo rumou a Portugal:

«As vidas de el-rei D. Sebastião e Miguel Leitão de Andrada entrelaçam-se desde o nascimento até ao desastre de Alcácer-Quibir. O rei-menino, corajoso mas ingénuo, e o leal fidalgote de Pedrógão Grande, reconhecido na região como vidente e protegido de Nossa Senhora da Luz, vêem-se implicados numa secreta e perigosa intriga de espionagem, com contornos sexuais.

Os caminhos sinuosos deste quixotesco binómio Cavaleiro/Escudeiro, tão comum na época, revelam-nos, em pormenor, a vida da segunda metade do século XVI, com os seus prazeres e as suas misérias, as cerimónias de festa e de morte, na capital mas também no Portugal rural.

Vida transposta para um romance fascinante, construído a partir de rigorosa investigação de fontes históricas documentais - portuguesas, espanholas, italianas, francesas e holandesas - e condimentado pela exuberante imaginação de Deana Barroqueiro.

O rei mais desejado de toda a nossa história é, apesar de todas as esperanças da nação, um órfão falto de afectos, criado e educado por velhos, como a avó sedenta de poder ou o cardeal regente, tornando-se por fim em joguete involutário dos desígnios imperialistas do seu tio, o implacável Filipe II de Espanha.

Caprichoso e insolente, D. Sebastião cresce atormentado pelos seus traumas e fantasmas da sua adolescência, sublimados nos sonhos de glória de mancebo visionário, senhor de um poder absoluto que o arrasta ao desastre, profetizado pelas dolorosas visões de Miguel Leitão de Andrada.»

5 de julho de 2007

Sonhos cor-de-rosa

Eloquente como sempre, o 24 Horas traz na primeira página de hoje que a escultural morena "Jennifer López vai ocupar todo o balneário do Benfica". Temo pela próxima época, ainda para mais porque o equipamento alternativo do Glorioso é agora em tons de rosa.

Postas à venda na segunda-feira passada, leio na edição de A Bola que as ditas camisolas - cujo alvo do marketing é o sector feminino, "um mercado pouco explorado pelos clubes" - "estão a superar todas as expectativas, vendendo mais do que a encarnada".

A breve d'A Bíblia do Desporto termina em grande: "Ontem, a espreitar o treino da tarde, no Seixal, uma adepta (Lili) ostentava a maglia rosa, com o 21 de Nuno Gomes." Bem a propósito, aliás, tendo em conta o bem-parecido jogador da bandolete que não se cansa de compor o cabelo.

Não se trata de preconceito. É que sou dos antigos e as "papoilas saltitantes", assim reza o histórico hino, deviam sempre equipar de vermelho ou de branco, nunca de rosa, cinza ou preto. Resta sonhar, de preferência cor-de-rosinha. Definitivamente, estamos na fascinante silly season.

29 de junho de 2007

Silly season

O meu primeiro período de férias só chega daqui a três semanas, mas confesso que já estou a laborar a velocidade de cruzeiro. Fruto daquilo a que os britânicos adequadamente apelidaram de "silly season", a minha produtividade anda bastante fraca.

Dou por mim apenas a pensar nos livros e filmes de DVD para colocar no bornal do ócio, a magicar colectâneas de CD's de música e a inventar outros tipos devaneios que normalmente se praticam nestas alturas.

Fazendo jus à expressão, em que não é para levar a sério aquilo que se diz ou faz, deixo duas pérolas dadas à estampa na última edição da revista Visão: «A presença dos media britânicos abalou o secretismo da polícia portuguesa, herança do regime comunista que perdurou até à revolução de 1974», citando um artigo do jornal inglês The Independent sobre o caso do desaparecimento de Madeleine McCann.

Sexo ou telemóvel? A pergunta foi colocada a 1256 britânicos, com idades entre os 16 e os 64 anos, e as respostas não deixaram margens para dúvidas: um em cada três abdicaria mais facilmente do sexo do que do telemóvel. Mas 40 por cento dos inquiridos com mais de 45 anos trocariam de bom grado o telemóvel pela sua bebida quente favorita.

Eu e a minha eterna aversão a esse fleumático e esquisito povo que a falar não mexe o lábio superior...

22 de junho de 2007

Mona Lisa

Na Secundária de Benfica, provavelmente os meus melhores tempos de estudante, tive um colega de turma a quem todos tratavam pela alcunha, bastante a preceito, de Mona Lisa.

O motivo não tinha outra relação com o enigmático e minúsculo retrato pintado por Leonardo que não fosse o nome, pois mesmo antes dos 20 anos pêlo era coisa que não abundava no cimo da mona do Nuno, precocemente lisa.

Aproveitando a chegada do Verão resolvi dar uma tosquia radical, pente três a toda a largura. Agora, além de pés e orelhas e das partes habituais do corpo mais expostas do Sol, vou também ter que besuntar o alto da minha mona com creme protector.

É que, salvo as devidas diferenças, os cabelos também já são escassos por estas paragens e aproximam-se dois dias solarengos na Zambujeira do Mar. Mas que sinto cá um fresquinho ai isso sinto!

Bom fim-de-semana! (Espero que esta maldita dor de garganta, que me provoca um mau estar danado, e este fungar do nariz me larguem de vez!)

21 de junho de 2007

Chegou o Verão!

Para quem não deu conta, pois surgiu de mansinho, tímido e sem alarido.

20 de junho de 2007

A lenta agonia da Baixa

De um jornalista à moda antiga só podia sair um brilhante escritor.

Não passo sem ler as fascinantes crónicas do Baptista-Bastos, todas as quartas-feiras, no Diário de Notícias.

Esta, sobre o encerramento da centenária Loja das Meias, no Rossio, que se segue a tantos outros tristes episódios ocorridos no coração de Lisboa, é mais uma.

Sou um eleitor-fantasma

Segundo um estudo realizado para o Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, o concelho da cidade capital do país, cujo universo de votantes é 537 456, tem 90 101 eleitores-fantasma.

De acordo com o autor, "são pessoas que já morreram e continuam a constar dos cadernos eleitorais, mas também muitas maiores de 18 anos que nunca se recensearam ou que mudam de residência e não actualizam o registo, nem vão à sua terra votar".

Não fazendo parte da primeira leva, pois estou vivinho da silva, encaixo que nem uma luva na parte que diz: "mudam de residência e não actualizam o registo". A morada onde vivo actualmente é já a quinta depois de ter saído de casa dos meus pais, há uns anitos, pela qual me estreei nesta aventura de emitir opinião através do voto.

Mas será que se estavam a referir a mim? É que, provavelmente, vou continuar a constar por mais algum tempo daqueles que "não actualizam o endereço", mas pelo menos não sou dos que "nem vão à sua terra votar". Tenho voltado sempre às origens, embora elas se situem bem pertinho, para exercer o meu direito.

E conheço muita gente na mesma situação do que eu.

19 de junho de 2007

Pagar impostos dá prazer?

Pagar impostos pode ser fonte de prazer, diz o Público numa pequena chamada de primeira página na edição de domingo, citando o resultado de um estudo publicado na sexta-feira passada pela revista norte-americana Science.

Para determinar qual a importância das motivações - se por altruísmo puro ou por aquilo que os economistas designam por warm glow giving, no qual os doadores obtêm uma satisfação do mero gesto voluntário de dar, independentemente do bem que resulta dessa dádiva -, os cientistas entregaram 100 dólares a 19 mulheres.

Depois visualizaram a sua actividade cerebral em tempo real, entre outras situações, enquanto elas viam a respectiva conta bancária ser debitada para pagar um imposto a favor de um banco alimentar e viram que as áreas do cérebro activadas são precisamente as mesmas duas, muito antigas e primitivas em termos evolutivos, que entram em acção quando comemos doces ou convivemos com amigos.

Por outras palavras, dar dinheiro a outrem parece ser tão gratificante, recompensador e gerador de prazer no cérebro como saciar a fome com manjares açucarados e passar um bom bocado com algumas das pessoas de que gostamos. No entanto, os investigadores não se pronunciaram sobre o que aconteceria se os contribuintes soubessem que os impostos eram injustos.

18 de junho de 2007

A pedido de várias famílias...

... aqui fica a classificação geral da edição 2007 das marchas populares de Lisboa, bem como a das restantes categorias:

1º Alfama
2º Marvila
3º Campolide
4º Castelo e Mouraria
5º Alcântara
6º Lumiar
7º Bica
8º São Vicente
9º Madragoa
10º Olivais, Bairro Alto
11º Alto do Pina
12º Graça
13º Carnide
14º Bela Flor
15º Santa Engrácia
16º Beato
17º Ajuda
18º Benfica

Coreografia - Alfama
Figurino - Alfama e Marvila
Musicalidade - Alfama, Marvila, Bairro Alto e Campolide
Cenografia - Marvila
Cavalinho - Campolide
Melhor letra e música original - Bica

15 de junho de 2007

Alfama é tetra

O bairro onde o poeta José Carlos Ary dos Santos descansou o olhar venceu pela quarta vez consecutiva o concurso das marchas populares de Lisboa.

A situação, obviamente, está a criar mau ambiente entre os perdedores e até há quem sugira que a tetravencedora deixe de fazer parte do evento no próximo ano.

Outros interrogam-se se não existirá algum Apito Dourado em relação a esta competição, uma vez que aquela sinuosa zona onde outrora pululavam varinas a apregoar peixe fresco tem vindo a ser beneficiada constantemente pelo júri, que tem de abrir os olhos, dizem.

O bairrismo levado ao rubro. Temo pela minha amiga Catarina, uma das mais recentes moradoras de Alfama.

Terreiro do Paço, a mais bela praça da Europa (V e último)

A 1 de Fevereiro de 1908, uma carruagem descoberta onde viajam o rei D. Carlos, a rainha D. Amélia e os dois príncipes, atravessa o Terreiro do Paço. A família real regressa de Vila Viçosa, no Alentejo, e sofre um atentado que viria a precipitar a queda da monarquia e a instauração da República. Morre o rei, morre o príncipe Luís Filipe e fica ferido o irmão D. Manuel.

O duplo assassínio põe Lisboa em estado de choque. Quando o jovem rei D. Manuel (II) sobe ao trono, a monarquia está desacreditada e o país à beira da bancarrota, devido aos empréstimos acumulados. A principal praça lisboeta será, então, palco de confrontos entre monárquicos e republicanos.

Voltará à baila quase seis décadas depois, em 25 de Abril de 1974, quando os militares revoltosos estacionam os tanques no local, prenunciando a queda da Ditadura de António de Oliveira Salazar, que durou desde 1926, embora ele apenas tenha chegado ao poder dois anos mais tarde.

Adaptado de História de Lisboa, de Dejanirah Couto

12 de junho de 2007

Dúvida existencial

"Abstenção é alta entre os eleitores bem informados de Lisboa", titula uma das notícias do Público de hoje (página 8).

Considero-me razoavelmente bem informado e, por isso, no dia 15 de Julho, talvez possa vir a ser um dos representantes da matilha. Se tal acontecer, asseguro que será apenas como forma pontual de protesto pelo desvario reinante, mesmo tendo em conta que "O Zé faz falta!" e o movimento cívico de cidadãos liderado pela Helena Roseta.

Mas será que vou realmente conseguir abster-me? Seria a primeira vez, confesso. Lembro-me, aqui há uns anos, de ter levado comigo o cartão de eleitor e vir a correr de Salamanca só para chegar a Lisboa antes das 19 horas e poder votar, salvo erro, num plebiscito imbecil para o Parlamento Europeu. Consegui, e quem já passou por esta...

No entanto, continuo bastante inclinado para levar até às últimas consequências a tirada que, há tempos, ouvi alguém dizer: a política, ainda que cheia de boas intenções, implica fazer um pacto com o diabo.

Neste dia, há três anos,

estava eu no Porto, por ocasião do jogo de abertura do Euro'2004, Portugal-Grécia, às 19:45. Saímos derrotados, o que não impediu um repasto a condizer na Cidade Invicta. Assim que pude, zarpei para Lisboa, Alfama, mais precisamente, onde apesar do desaire da selecção das quinas se festejava ruidosamente a noite de Santo António.

Em jeito de antecipação do mês de folia que se lhe seguiu. Cometi a loucura de meter férias nessa altura, de modo a poder acompanhar ainda mais de perto a prova, de norte a sul, como simples espectador. Ah, que saudades!

Passadas três semanas, a 4 de Julho, reencontrei novamente as mesmas equipas na final do Estádio da Luz. Saímos novamente derrotados. Não me falem em gregos - ainda os tenho atravessados! (As fotografias foram tiradas dos lugares onde me sentei para assitir aos desafios.)

8 de junho de 2007

Eu quero spaghetti!

Quarta-feira, 18:30, estação dos Correios, Restauradores, Lisboa. O local repousa numa calmaria que contrasta com o rebuliço habitual. Definitivamente, a cidade prepara-se para fazer ponte e ir de férias.

Desloquei-me ali porque, oito meses após o sucedido, deixaram-me na caixa do correio o aviso para ir levantar uma carta registada. A enigmática missiva foi enviada pelo Banco Popolare di Sondrio, online, italiano - mas com sede na neutral Suíça -, com selo de Praga (República Checa) e um cheque de €26,60 lá dentro.

O assunto tem a ver com a atribulada viagem de comboio entre Veneza e Florença, efectuada no final de Setembro, e versada em "Non c'è il motorista!". De modo sucinto, devido ao atraso, a Trenitalia informou os passageiros que podiam solicitar a restituição de metade do valor dos bilhetes, como forma de minimizar o transtorno.

Assim fiz. Veio agora a resposta. Moral da história - nunca deixem de reclamar, pelo menos em terras transalpinas. Espero é poder mesmo gastar o dinheiro num spaghetti alla bolognese e não tenha de o utilizar noutra viagem em terras transalpinas. Quero spaghetti, e não quero andar de trenzinho!

6 de junho de 2007

Não os separes?

Junho é sinónimo de Verão, Santos Populares, sardinhas. Também por isso, ontem foi dia de jantarada na velha Alfama, local onde despertei os sentidos para esta bela Lisboa.

Numa noite amena ao ar livre, a venerada espécie aquática embarcou em festa no ritual sagrado regado a sangria fresca e alguma cerveja, e acompanhada de pão, queijinhos secos, alface, tomate e do inseparável pimento.

Isto leva-me à seguinte pergunta: que raio terá passado pelo iluminado cérebro dos publicitários da Mccann-Erickson Madrid para quererem juntar a Coca-Cola à manjua, imagem de marca da nossa época estival? Nem queria acreditar quando vi na televisão a nova campanha propagandista da empresa de refrigerantes para Portugal.

«Nunca os separes» é o nome desta história de amor e sedução que jamais devia ter acontecido. Há coisas que, definitivamente, não ligam.

Elusive...

... by Scott Matthews. Esta canção não me sai da cabeça! Coincidências. Mesmo agora liguei a Radar online e a rádio estava a passar a dita. Não descanso enquanto não ouvir o ábum!

Entretanto, vejam (e ouçam) o vídeo no You Tube. Mais informação no My Space do Scott.

4 de junho de 2007

Risada geral

Domingo, início da tarde, sol, calor, algum vento, almoço ao ar livre com um grupo de amigos. Os dois lado a lado tocam-se, entrelaçam as mãos.

Ela faz um ar enfastiado e passa a mão pela pança, meia inchada.
Ele, em tom de brincadeira mas ternurento, pergunta:
"É meu não é?"
"Não...", responde ela tristonha. "Estou cheia de gazes!"

Lá se foi o romantismo...

1 de junho de 2007

Quarentão

Tenho andado pouco virado para o admirável mundo da blogosfera, mas numa fugaz passagem não quero deixar de assinalar, hoje, os 40 anos passados sobre a edição de Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, o oitavo álbum dos The Beatles e um dos melhores de sempre da música.