22 de fevereiro de 2008

A luz ao fundo do túnel

Quatro dias depois ter sido reaberto, utilizei primeira vez na quarta-feira o túnel do Rossio. Muitas foras as vezes que entrei de comboio pelo buraco que desagua na Baixa de Lisboa, desde a extinta estação de Santa Cruz de Benfica.

A escuridão deu agora lugar à farta iluminação, os carris já não seguem apoiados em toros de madeira e estes na pedra tão característica das linhas ferroviárias - o chão é agora feito do incaracterístico betão e cimento.

Antigamente, os vidros fronteiros da carruagem eram repartidas entre o habitáculo do condutor da máquina e os passageiros. Em petiz, uma das minha predilecções era atravessar o canal na dianteira e ver os dois buracos de luz ficarem cada vez maiores, até se perderem na imensidão da Estação Central.

Mas hoje, em vez do passo lento, a viagem de Campolide ao Rossio demora apenas quatro minutos e à entrada do derradeiro poiso já não se ouve a chiadeira de outrora, quando as duas linhas se multiplicavam no cais.

O trajecto de Benfica ao centro da capital leva apenas sete minutos, mas há que aproveitar cada um deles, pois o bilhete custa €1,15.

13 de fevereiro de 2008

Levantar a mira

Há uns anos, passeava com uma amiga pela Baixa de Lisboa quando nos detivemos a ver postais da capital num pequeno quiosque da Praça D. João da Câmara - o pequeno largo situado entre o Teatro Nacional D. Maria II e a Estação do Rossio.

Resolvi testá-la e peguei numa das imagens que reproduzia a fachada do terminal dos caminhos-de-ferro, agora reluzente:
- Lisboa é uma cidade muito bonita, não é? E tem edifícios espectaculares, não tem? Olha-me só este...
- É lindo! Onde fica?
- Estás a brincar...
- Não...
- Experimenta levantar a cabeça.

Às vezes, em vez de andarmos cabisbaixos, de olhar preso ao chão, num autismo absoluto, bastava levantar um pouco mais a mira para enxergar melhor a beleza que nos rodeia.

Nota: Agradecimentos ao Fred Lopes pela possibilidade de ilustrar esta prosa com a sua bela fotografia.

11 de fevereiro de 2008

Últimos dias

(Coroação do Imperador Nicolau II e da Imperatriz Alexandra Fiodorovna, da autoria do dinamarquês Tuxen Laurits. Óleo sobre tela, 66x87,5 cm, 1898)


(Coroação do Imperador Alexandre III e da Imperatriz Maria Fiodorovna, da autoria do francês Georges Becker. Óleo sobre tela, 108x156 cm, 1888)

Quem ainda não viu vai ter que se apressar, pois a exposição "Arte e Cultura do Império Russo nas Colecções do Hermitage - De Pedro o Grande, a Nicolau II" termina no final desta semana. Os retratos gigantescos e outras pinturas são o principal atractivo, como os dois quadros que acima divulgo e cujas reproduções podem ser descarregadas aqui.

O pormenor quase fotográfico das telas deixam qualquer alma estarrecida, mas por entre o mobiliário, a ourivesaria, os trajes imperiais, baixelas de prata e ouro e serviços de jantar em porcelana, há uma peça assustadoramente inesquecível, incluída na pomposa mala de farmácia ambulante de Pedro I, O Grande - o dilatador anal do Imperador.

A mostra está patente ao público até 17 de Fevereiro, no Palácio da Ajuda, e tem o seguinte horário:
Domingo a quinta-feira: das 11h00 às 19h00 (última entrada às 18h15);
Sexta-feira e sábado: das 11h00 às 22h00 (última entrada às 21h15).
Fecha à quarta-feira.

4 de fevereiro de 2008

A perereca da Amazónia

Durante muito tempo, desde 1898, o imaginário da criançada e dos graúdos sobre a fauna e flora marítimas foi satisfeito ao vivo apenas pelo Aquário Vasco da Gama.

Cem anos volvidos, a pretexto da Exposição Mundial que decorreu em Lisboa, construiu-se o Oceanário.

Agora, desde Março de 2007, existe o Fluviário de Mora, situado no Parque Ecológico do Gameiro daquela terra do Alto Alentejo - sobranceira ao Ribatejo - e que nos permite observar as espécies animais e vegetais que vivem nos rios, desde a nascente ate à foz.

Não tendo a grandiosidade e o fascínio dos outros dois, merece a pena ser visitado, nomeadamente pelo público mais jovem que vive na capital, da qual dista somente hora e meia e pouco mais de uma centena de quilómetros. Mesmo ao lado fica a praia fluvial, igualmente bem arranjada.

As principais atracções do Fluviário são o irrequieto casal de lontras, baptizadas de Mariza e Cristiano Ronaldo (os nomes Amália e Eusébio já estavam tomados pelas do Oceanário), bem como as carnívoras piranhas e a exótica anaconda.

No entanto, o prémio principal ganhou-o a perereca-não-me-lembro-do-resto-do-nome, minúscula e colorida rã venenosa, cujas patas terminam em ventosas, que habita para os lados da Amazónia.

Mais informação aqui.

Post-scriptum: Pode-se almoçar no próprio Fluviário, num restaurante com vista para as lontras, mas O Afonso, no centro da vila, é de passagem obrigatória para quem quer provar as melhores iguarias da região. (A fotografia do bicharoco é do "site" do Fluviário.)