30 de dezembro de 2008

A prenda de Natal

Não tenho por hábito oferecer prendas no Natal, mas uns dias antes da data encontrei uma ideal para dar à Mónica, mais pelo divertimento que a situação iria provocar. Mandei embrulhá-la e o bonito, pequeno e leve pacote rectangular deixava, sem dúvida, adivinhar qualquer coisa misteriosa.

Em casa dos meus sogros ainda se vive a noite de abertura das prendas como manda o figurino da época: à meia-noite toca o alarme para a família ir à cozinha, perto da chaminé, ver as oferendas que o Pai Natal deixou no respectivo sapatinho, convocado literalmente para o efeito.

Apesar de me conhecer de gingeira, situação que lhe permite antecipar algumas das minhas jogadas, o dito presente deixou-a intrigada. "O que é que estás para aí a preparar?", perguntava-se ela. Ao abrir a caixa, graciosamente decorada e embrulhada com tanto carinho, desvendando o seu conteúdo, não conseguiu evitar a gargalhada e o progenitor dela, meio no gozo, deixou escapar um desiludido comentário:

— Ah e eu a pensar que era um anel [de noivado]! (Convém explicar: eu e a Mónica não somos casados – nem sequer em união de facto – e vivemos juntos há mais de três anos, mas sobre este assunto, de casamentos, noivados, anéis e afins, talvez um dia, se achar que vale a pena, disserte sobre ele...)

Bom, mas voltando à lembrança, realmente talvez não o recrimine. É que, em vez do anel, saiu à minha amada uma lata de fígados de tamboril – gourmet, alto lá! –, iguaria bastante do seu agrado.

28 de dezembro de 2008

Delicioso

Bem sei que o tinha em casa há algum tempo, mas andava há muito para ver este filme e confirmar a expectativa criada em redor dele. Por isso, nada melhor do que o dia de rescaldo do Natal e de uma malfadada e inoportuna gripe – no quentinho do lar, enfiado no sofá de pantufas, roupão, pijama e mantas – para o fazer.

Excelente história escrita pela jovem Diablo Cody (que inclusive lhe valeu o Óscar para o Melhor Argumento Original), excelente interpretação da protagonista Ellen Page e realização simples do igualmente moço canadiano Jason Reitman.

É o que basta para fazer bons filmes – não é preciso explosões nem espectaculares efeitos especiais! E a banda sonora escolhida é igualmente digna da película...

PS: Ah, e também vi o Mamma Mia! e o Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal!

22 de dezembro de 2008

Boa descoberta

A linguagem do romance, que esta tradução não desmente, é ora um inquietante trabalho de filigrana, ora um fantástico produto do delírio de Donoso [Santiago do Chile, 1924-1996]. (...) Monumental... Romance de mestre... Um livro inesquecível.

Excertos do texto da autoria de Francisco José Viegas (Revista Ler nº 69, Maio de 2008).

Ao chegar ao fim mais um Verão ("aquele que imaginámos como ponto de partida para esta ficção") passado na grande e rica casa familiar de Marulanda, os adultos da poderosa família dos Ventura y Ventura, "donos de uma província inteira", fazem uma excursão de um dia a uma mítica "paragem maravilhosa" das suas terras, deixando sozinhas as 33 crianças e adolescentes do clã.

A primeira parte do livro, A Partida, conta em sete capítulos o que se passou na casa durante esse "dia sem leis". A segunda parte, O Regresso, igualmente com sete capítulos, descreve o "caos" ali instalado e a reposição da "ordem".

[Esta casa] tem quase tudo (podendo o leitor meter lá outro tanto): excesso, ironia, decadência, perversidade, loucura, violência, sumptuosidade, crime, hipocrisia, sexo, fulgor e luxo. E uma biblioteca de livros vazios.

Excertos do texto da autoria de Mário Santos (04/04/2008, in Ípsilon/Público) reproduzido na página da editora na Internet.

19 de dezembro de 2008

Sugestão de Natal

O coro ComSonante, sob a direcção do maestro Luís Pedro Faro, interpreta a Segunda Cantata do Natal, de Fernando Lopes-Graça, este sábado, dia 20 de Dezembro, às 17h30, no Museu da Música Portuguesa (Casa Verdades de Faria), Monte Estoril.

O local não podia ser mais apropriado, pois é precisamente aí que está guardado todo o espólio da riquíssima cultura tradicional lusitana do canto recolhido por Lopes-Graça e Michel Giacometti nas andanças de ambos pelo nosso Portugal profundo.

A obra é constituída por um conjunto de 15 curtas peças que cobrem o período desde a chegada a Belém até à visitação dos Reis Magos. É uma história cantada ao género de Auto de Natal em várias molduras. Todas as peças têm origem na música tradicional portuguesa, oriunda sobretudo da Beira Baixa e do Alentejo, sendo a maioria dos temas de fácil reconhecimento, agradando a eruditos e melómanos.

As harmonizações introduzidas pelo maestro Lopes-Graça, entre 1960 e 1961, revelam não apenas a sua intensa actividade de pesquisa e o profundo respeito pela música do seu país como, e de forma sublime, a sua enorme capacidade para recriar ambientes polifónicos de várias épocas à escala da música europeia.

A sala tem capacidade para 120 pessoas e a actuação, cuja entrada é gratuita, terá cerca de 30 minutos.

Outra coisa: este vosso amigo faz parte do coro!

17 de dezembro de 2008

Desejo de Natal

Tinha prometido a mim mesmo que não falaria mais no assunto, até porque, como escreveu uma amiga num comentário feito neste blogue, também "a minha indignação já está num nível que nem a sinto. Tipo anestesia".

Mas eis que, enquanto o ministro das Finanças ameaça retirar a garantia de 20 mil milhões de euros aos putativos bancos (ui, devem estar cheios de medo!), caso estes persistam em não emprestar dinheiro ao depauperado tecido empresarial, os motoqueiros do Montijo andaram pelo 13º ano consecutivo a distribuir sorrisos, carinhos, brinquedos, roupas e doces por crianças, jovens e idosos carenciados de tudo isto.

A SIC mostrou a reportagem, mas deixo um dos diálogos entre a entrevistadora e um dos beneficiários da iniciativa, neste caso um rapazola:
- O que é que pediste ao Pai Natal?, pergunta a solícita repórter.
O miúdo hesita, talvez sem saber ao certo o que responder. A crise financeira dos milhões passa-lhe ao lado. Para quem tem pouco isso não interessa, por isso preocupa-se com coisas mais que o tocam mais de perto.
- … que o Benfica ganhasse este ano!

Talvez haja ainda alguma esperança...

12 de dezembro de 2008

Porque será?

A insatisfação com a democracia é a mais alta dos últimos 23 anos. Esta é uma das principais conclusões a tirar do estudo sobre a reforma institucional em Portugal, intitulado Os Deputados Portugueses em Perspectiva Comparada: Eleições, Liderança e Representação Política, apresentado na quarta-feira num seminário realizado na Assembleia da República, referia a edição do jornal Público do dia seguinte.

Mais referendos, voto personalizado, mais mulheres e mais formas de participação são alguns dos desejos dos eleitores, enquanto os deputados acham que o sistema eleitoral apenas precisa de alguns ajustes, acrescenta o diário.

Cada vez mais me sinto identificado com as personagens do livro Ensaio sobre a Lucidez (2004), de José Saramago – com quem me cruzei, de fugida, na Casa do Alentejo nesse mesmo dia ao final da tarde, numa homenagem aos dez anos passados sobre o Nobel da Literatura e 60 sobre a tão maltratada Declaração Universal dos Direitos do Homem –, cujo fio condutor é a revolta do povo perante o poder político ao votar massivamente em branco em determinadas eleições.

10 de dezembro de 2008

Mais palavras para quê (II)

Ontem ao início da tarde no "site" do jornal Público: Vítor Constâncio: economia não se encontra em recessão técnica

Ontem a meio da tarde no mesmo sítio: Vítor Constâncio admite, afinal, recessão técnica no final deste mês

Enquanto o Banco de Portugal continuar a ser mero (e fiel) despositário estatístico da nação, então estamos conversados.

Enquanto o Governo continuar a governar, nomeadamente na educação e na saúde, apenas para os números e em função deles, então estamos conversados.

Nota: Parece que vem aí o Natal, mas penso que já vos falei de como abomino esta altura do ano, não? Bom, o melhor é mesmo ficar por aqui para não ferir susceptibilidades... (Valha-nos a felicidade da criançada!)

9 de dezembro de 2008

Mais palavras para quê

Segundo o Correio da Manhã de hoje, «nos primeiros seis meses do ano, antes dos efeitos da crise se fazerem sentir de forma severa, os bancos a operar em Portugal lucraram 1,075 mil milhões de euros, de acordo com o boletim da Associação Portuguesa de Bancos. De Janeiro a Junho as instituições ganharam 5,9 milhões de euros por dia.»

O texto deste Bilhete Postal de Leonor Pinhão, pequena crónica diária (excepto aos domingos) – que não perco – da última página do matutino, é do passado dia 21 de Novembro:

«No final do século XIX, Maria Rattazzi, uma irlandesa casada com um italiano, passou dois Invernos em Portugal. Quando regressou à civilização publicou as suas impressões. A nação ficou ofendidíssima com a estrangeira.

Compreendam porquê neste trecho: "Em 1878, o Banco Ultramarino expiou as leviandades de uma péssima administração e o abuso de um guarda-livros e de um exército de directores. No dia imediato ao desastre, o tesouro público punha à disposição do Banco a soma de dois milhões de francos, o dobro dos desvios do fundo.

Porquê? Por que razão? Como é que os dinheiros do Estado têm que ver com um grupo de accionistas? E com que direito aqueles que administram os dinheiros públicos podem aplicá-los a socorrer um banco em falência?" Espectacular!»

Digam lá se não dá vontade de mandar tudo às urtigas e, por exemplo, passar a não pagar a prestação mensal do crédito da compra da casa, ainda o meu único encargo fixo a nível familiar, aliás, escrupulosamente cumprido! Claro que todos temos culpa nisto, pois aceitamos as regras do jogo muitas vezes sem barafustar, mas pode ser que tenha a mesma sorte do filho de Jardim Gonçalves, fundador do BCP, instituição que lhe perdoou uma dívida de 12 milhões de euros, considerados incobráveis pelo banco – o qual logo se prontificou a negar qualquer suspeita de favorecimento.

A notícia veio a público em Outubro de 2007 e, uns dias depois, perante o mal-estar causado, o pai assumiu o calote do descendente e ficou um pouco mais depauperado. Relembro que se tinham passado três anos, uma vez que o caso remontava a 2004. Se a situação não tivesse sido noticiada pela imprensa, mais uma vez, ninguém saberia de nada. E nem quero imaginar as retaliações que eu iria sofrer caso fosse eu a deixar de pagar... E querem que tenhamos contemplações com gente desta!

Nota: Do livro em causa, Portugal de Relance (Le Portugal à Vol d'Oiseau, 1879), editado no nosso país em 2004, deixo a sinopse da editora Antígona: A princesa Rattazzi (1813-1883), como era designada, foi publicista, romancista, poetisa, autora também de textos dramáticos e tradutora, mas não entrou certamente para a galeria dos autores literários de grande, médio ou pequeno relevo. Todavia em 1879, este livro desencadeou uma verdadeira tempestade em Portugal, na qual intervieram, entre muitos outros, Camilo Castelo Branco, Antero de Quental e Ramalho Ortigão. Espelho da sociedade portuguesa do séc. XIX, nele ainda hoje se reflecte arrebatadamente o país.

3 de dezembro de 2008

António

Faria hoje 64 anos se fosse vivo. António de seu nome verdadeiro, Variações de artista. Tinha de partir em data solene, como os grandes, no dia de Santo António de 1984, o padroeiro de Lisboa, a cidade que outrora trocou pela remota aldeia minhota de Lugar de Pilar, ali para os lados de Braga. Homossexual assumido, terá sido a primeira figura pública a morrer infectado pela ainda desconhecida síndrome do HIV/SIDA.

Há precisamente um ano, entrei numa das papelarias do bairro onde costumo comprar os jornais e as revistas. A dona gere sozinha o estabelecimento e tem sempre por companhia um fanhoso rádio de pilhas. Decerto para assinalar o dia, ouvia-se a música dele em fundo.

- Ah o grande António!, disse eu.
- Gosta?, perguntou ela.
- Bastante! Era genial...
Num assomo de cumplicidade e saudade, a senhora sexagenária, nitidamente à espera de dois dedos de conversa para desenferrujar a língua e libertar a dor na alma, contou-me uma história.

- Sabe, era muito chegada ao António, se calhar das únicas amigas que ele tinha aqui no bairro. Ele podia ser o que lá aquilo que era (impecável definição da sua inclinação sexual para o lado masculino), mas era um amor de pessoa. O cabeleireiro dele [chamado "Prá menina e pró menino"] era mesmo aqui ao virar da esquina [ao fundo da minha rua, a escassos metros do local onde vivo, em plena Baixa da capital - onde está hoje uma loja que já foi tudo e agora é mercearia/drogaria]. Ele aqui na zona só frequentava dois ou três sítios: a minha papelaria, a tasca aqui defronte onde almoçava e a farmácia...

O que sempre me fascinou na figura dele, além do talento, foi a autenticidade e pureza naquilo que fazia e cantava. Ali parecia não haver mentiras, rasteiras, truques, parecia ser tal e qual aquilo que transparecia. E fazem falta mais pessoas assim...

21 de novembro de 2008

A casa assombrada

Passa esta noite na RTP 1, ao início da madrugada de sábado (00h45), o filme Coisa Ruim (2005), realizado pela dupla Tiago Guedes e Frederico Serra, cujo argumento é de Rodrigo Guedes de Carvalho, jornalista da SIC, aspirante a escritor de romances e irmão do primeiro.

Com bom argumento e bela fotografia, bem como interpretações a preceito – desde a (ainda) revelação Afonso Pimentel a José Pinto, o atormentado padre Vicente –, a película de abertura da competição oficial do Fantasporto 2006 conta a história de uma família de Lisboa que recebe como herança uma casa numa pequena aldeia do interior do país e para lá se muda. Com ela, diz o povo, vem também uma maldição...

A referência e a dica surgem não apenas por realmente ter gostado do filme, mas porque o local onde foi filmada grande parte da acção se situar a escassos metros dos aposentos da minha avó paterna, no pequeno povoado de Torroselo (Seia), sobranceiro à serra da Estrela.

Nos saudosos verões lá passados, a miudagem – os da terra e os da cidade, como éramos chamados – intrigava-se com o mundo de mistério, aventura e medo que estaria por detrás daqueles altos muros, pois a frondosa mansão pouco utilizada pelos donos, emigrados no Brasil, parecia, de facto, assombrada.

Nota: O filme é exibido igualmente no TVC 1, disponível apenas para os assinantes deste canal pago da TV Cabo, a partir das 22h35 de quinta-feira, dia 27 de Novembro.

14 de novembro de 2008

11 de novembro de 2008

A não perder!

Em 1998, estive presente na noite da abertura oficial da primeira loja da FNAC em Portugal, no Centro Comercial Colombo, cujo ponto alto foi a actuação do músico sueco Jay Jay Johanson, então na berra depois de ter lançado dois excelentes discos, Whiskey e Tattoo.

Dez anos passados, no encerramento das iniciativas fotográficas literárias, cinematográficas e musicais que serviram para assinalar o início da aventura lusitana, a cadeia de lojas francesa – onde gastei literalmente alguns milhares de euros durante esta década – junta na sexta-feira, dia 14 de Novembro, os consagrados Xutos & Pontapés e Clã aos fascinantes Rita Red Shoes, Deolinda e Peixe : Avião.

Os bilhetes são gratuitos e para entrar no concerto do Pavilhão Atlântico, em Lisboa, basta levantar o ingresso na mais recente superfície do grupo, ali mesmo ao lado, no Centro Comercial Vasco da Gama.

Ouçam-nos no My Space e aproveitem a boleia para descobrir também o talento, a voz, o piano e a guitarra acústica de Vicente Palma, filho do Jorge!

24 de outubro de 2008

Maradona by Kusturica

O retrato do génio da bola repousa colado ao monitor do meu computador, num postal bem visível aos meus olhos. É da autoria do fotógrafo belga John Vink, da agência Magnum, e foi tirado a 29 de Junho de 1986, na final do Campeonato do Mundo de futebol, no México. (Vale a pena ler a entrevista de Vink à BBC (versão castelhana), por ocasião do Mundial da Alemanha, em 2006.)

Diego Armando Maradona não apontou qualquer tento na vitória da Argentina sobre a República Federal da Alemanha, por 3-2, ocorrida no Estádio Azteca, na Cidade do México, mas liderou a selecção das Pampas rumo ao triunfo na competição.

Galardoado com o troféu de melhor jogador do torneio pela FIFA, entidade tutelar da modalidade a nível mundial, El Pibe apontou cinco golos – menos um do que o inglês Gary Lineker – na 13ª edição da prova mais importante do calendário futebolístico do planeta, um deles num memorável slalon frente à Inglaterra.

Após ter anulado, aos, 51 minutos, a vantagem britânica na partida – com o igualmente célebre tento marcado com «a mão de Deus», como o próprio o qualificou pouco depois da contenda –, Maradona destruiu os sonhos do adversário volvidos três minutos, ao deixar pelo caminho meia equipa contrária antes de driblar o guarda-redes Peter Shilton e colocar a alviceleste nas meias-finais.

Anos mais tarde, a FIFA considerou-o o melhor golo do século XX.

Não vi jogar Garricha, o «anjo das pernas tortas», como carinhosamente lhe chamavam, Pelé ou Eusébio, a Pantera Negra. Dos jogadores que vi actuar, ao vivo ou através da televisão, na maior parte das vezes, nenhum chegou aos calcanhares daquele menino, nascido num bairro pobre de Buenos Aires.

Se a sessão não estiver esgotada podem ir vê-lo no olhar de Emir Kusturica, este sábado, às 21h30, na Culturgest, na sessão de encerramento do DocLisboa, o VI Festival internacional de Cinema Documental. Infelizmente, eu não posso devido a afazeres laborais.

21 de outubro de 2008

Triste fado

Segundo o relatório “Crescimento e Desigualdades”, divulgado esta terça-feira, Portugal é um dos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) com maiores desigualdades na distribuição dos rendimentos dos cidadãos, ao lado dos Estados Unidos e apenas atrás da Turquia e do México.

No documento, a OCDE afirma que o fosso entre ricos e pobres cresceu em todos os países membros nos últimos 20 anos, à excepção da Espanha, França e Irlanda, e traduziu-se num aumento da pobreza infantil.

O panorama não é animador e, para compor o ramalhete, entre Agosto deste ano e o mesmo mês de 2007, o crédito malparado aumentou 26,46% no total, 23,6% na habitação e 70% (!) no consumo. E os dados excluem o período da recente crise dos mercados financeiros.

Sempre que ouço notícias deprimentes sobre o meu pobre país vou a correr saciar-me com umas linhas de um livro de Martin Page, durante algum tempo correspondente em Lisboa do jornal inglês The Guardian e falecido em 2005, três anos depois de ter sido editada prosa e que, após o enorme sucesso, teve direito a versão portuguesa em 2008.

Com o título A Primeira Aldeia Global - Como Portugal Mudou o Mundo (The First Global Village - How Portugal Changed the World), é um tratado histórico de amor ao heróico povo que deu «novos mundos ao Mundo» mas teima em viver acima das suas possibilidades.

20 de outubro de 2008

Deolinda

«O seu nome é Deolinda e tem idade suficiente para saber que a vida não é tão fácil como parece, solteira de amores, casada com desamores, natural de Lisboa, habita um rés-do-chão algures nos subúrbios da capital. Compõe as suas canções a olhar por entre as cortinas da janela, inspirada pelos discos de grafonola da avó e pela vida bizarra dos vizinhos. Vive com dois gatos e um peixinho vermelho...», texto de entrada da página da Internet dos Deolinda (ver e ouvir mais sobre o grupo e no myspace).

«Há uma longa série de clichés associados ao fado. Por exemplo, o fado tem que ter guitarra portuguesa. Os Deolinda não usam guitarra portuguesa. Ou, o fado tem que ser sisudo, sério, compenetrado, fatalista e triste. Os Deolinda não são nada disso. Ou ainda, o fado não pode ser dançado. E dança-se com os Deolinda. Ou, para terminar, a fadista tem que vestir de preto, como se estivesse no seu próprio funeral. Ana Bacalhau, a voz dos Deolinda (a Deolinda, ela própria?), veste roupas garridas, alegres, coloridas.

Mas os Deolinda são... fado, apesar disso tudo, e são muito mais que fado, por causa disso tudo e de tudo o mais que a sua música contém. Uma música que vai à música popular portuguesa - um universo que aqui abarca José Afonso e António Variações, Sérgio Godinho, Madredeus e os «muito mais que fadistas» Amália Rodrigues e Alfredo Marceneiro - e vai ainda à rembetika grega, à música ranchera mexicana, ao samba, à música havaiana, ao jazz e à pop, numa confluência original e rara de músicas-irmãs ou primas umas das outras e que, nos Deolinda, fazem todo o sentido.» – Prosa de António Pires no "site" dos Deolinda.

Melodias simples e despretensiosas, tocadas por instrumentos acústicos sem grande alarido, letras trocistas cantadas com sentimento barrista por excelente voz!

Saber mais do autor das ilustrações, o não menos fascinante João Fazenda, autor, por exemplo, dos desenhos que acompanham as crónicas semanais, igualmente fantásticas, de Ricardo Araújo Pereira na revista Visão.

17 de outubro de 2008

O Navegador da Passagem

Dois anos depois da publicação do fascinante livro D. Sebastião e o Vidente – vencedor do Prémio Máxima de Literatura 2007, Prémio Especial do Júri –, a escritora Deana Barroqueiro está de regresso ao convívio com os leitores.

Já disponível nas lojas, o romance histórico O Navegador da Passagem, cuja apresentação decorre esta sexta-feira, no Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa, tem como personagem principal o «muito injustiçado» e «quase desconhecido» Bartolomeu Dias, nas palavras da autora.

A escritora surpreendeu-me via e-mail depois de ter lido o post que coloquei neste blogue, em Julho de 2007, sobre certo livro que andava a devorar no momento, D. Sebastião e o Vidente. Desde então, temos trocado missivas, numa ligação singular entre leitor e autor.

Gosto de me perder no meio das estantes e bancas de livros, de desfolhar as suas páginas com os meu próprios dedos, sentir-lhes o cheiro, mirar as capas. No entanto, foi precisamente através do frio e distante mundo do ciberespaço que tive o primeiro contacto íntimo com o dito título, quando andava a navegar e me deparei com as passagens iniciais, disponibilizadas em ficheiro PDF.

Mais informação sobre Deana Barroqueiro
Mais informação sobre O Navegador da Passagem na página da Porto Editora na Internet, onde se pode ler as primeiras páginas da obra, ver um vídeo em que a autora fala do livro e ouvir um excerto do mesmo lido por Luís Gaspar

8 de outubro de 2008

De volta ao rebuliço

Depois da fantástica caixa das sete séries de viagens do Michael Palin produzidas para a BBC, trazida algures de Londres, em Novembro do ano passado, reconheço que o apelo consumista em época de crise revelou-se mais forte do que a minha (fraca) consciência.

Pouco antes do regresso à pátria mãe, sem aparente resistência, meto no bornal duas preciosidades há muito debaixo de olho. Não satisfeito de ter comprado, dias antes, o DVD da última série dos périplos, intitulada "New Europe (Nova Europa)", desbarato alguns dos preciosos euros na correspondente edição de bolso inglesa do livro.

Há dois anos, após alguma insistência alheia e renitência da minha parte, abri as hostilidades deste blogue para contar peripécias da viagem a Veneza e a deambulação pelos belos campos vinhateiros e castanhos da Toscânia. O desfiar das aventuras ficou-se pela metade, antes até.

Estas últimas férias estrangeiras a casa da cunhada na também europeia Holanda, nação pertencente à velha Europa - com um fugaz pulinho à vizinha Bélgica -, não tiveram tantos episódios engraçados e estórias deliciosas para contar como as passadas em solo transalpino, mas espero ter motivação suficiente para o fazer.

12 de setembro de 2008

Admirável mundo novo

Era sexta-feira, dia de arrepiar caminho ao merecido descanso do fim-de-semana. Com todas as colegas de trabalho de férias - numa secção sem qualquer elemento masculino -, não teve outro remédio senão almoçar sozinha. Para obviar à situação, resolveu passar pela banca de jornais e revistas para ter alguma companhia durante o repasto.

Passeou distraidamente os olhos cansados pelas capas e deteve-se numa delas. Tinha uma foto da Madonna e versava sobre os 50 anos da cantora, uma das favoritas da heroína desta história.

O nome da publicação não lhe era estranho. Qualquer coisa "Out" lembrava-lhe aquela-revista-que-saiu-há-uns-meses-plena-de-sugestões-para-ocupar-os-tempos-livre-em-Lisboa. Absorta, lá comprou a dita e arrastou-se vagarosamente até à comezaina.

Sentou-se e, enquanto esperava, folheou a revista mas surpreendeu-a desde logo o destaque ao lado do título: tolerância, igualdade, atitude. Apercebeu-se do sucedido. Tratava-se da Com'Out - jogo de palavras que remete para sair do armário, onde escondemos e guardamos os esqueletos das nossas outras vidas -, revista mensal da comunidade lésbica, homossexual, bissexual e transsexual, cujo primeiro número saiu em Julho passado.

Lá dentro, existe um admirável mundo novo, mesmo para quem é só simpatizante ou joga noutros campeonatos e noutras divisões. Como convém, a publicidade é praticamente toda referente somente ao tema em questão e o interior contém também um útil guia prático para manobrar na capital portuguesa.

Ficou então esclarecido o sorriso tímido e matreiro da vendedora perante o alheamento despreocupado da freguesa, convencida que estava a levar a Time Out. Mas posso dizer que ela não ficou arrependida - o magazine está bem conseguido! Querem melhor elogio do que este?

28 de agosto de 2008

"I have a dream"

Faz hoje precisamente 45 anos que Martin Luther King (MLK) discursou perante as cerca de 200 mil pessoas presentes no Memorial Lincoln, em Washington DC, a capital dos Estados Unidos, no culminar da marcha a favor dos direitos humanos e contra a discriminação racial.

No dia em que o negro Barack Obama é oficialmente nomeado como candidato do Partido Democrático à presidência da nação, eu também tenho o meu sonho americano, depois de oito anos do burro e boçal George W. Bush à frente dos destinos daquele país.

Contudo, espero estar enganado nas previsões e que a outrora terra das oportunidades ainda possa trazer alguma esperança a todos. Algo me diz que, na hora da verdade, os eleitores irão preferir a segurança oferecida pelo ancião branco republicano à mudança para um moço preto desconhecido.

Bono e os U2 dedicaram uma música a MLK, por sinal uma das melhores do grupo. Ver e ouvir aqui.

PS: Já perceberam que pendo para o lado dos democratas. Nem desgosto dela (até porque seria a primeira mulher no cargo) mas já pensaram que, se a Hillary Clinton tivesse mesmo concorrido e ganho as presidenciais, os últimos 24 anos de poder nos Estados Unidos ficariam nas mãos de apenas duas famílias?

23 de agosto de 2008

"Di María rima con categoría"

O relato estonteante do comentador argentino é... "bárbaro", o adjectivo que ele usa para descrever o golo do Angel Di María!

Esta é dedicada ao "Angelito". Deliciem-se!

20 de agosto de 2008

Meio da Praça

"Mais do que uma mercearia, o Meio da Praça é um estilo de vida", lê-se no blogue. Fica no final da Rua de São José, a dois passos do Largo da Anunciada e do mítico Elevador do Lavra.

O local até está classificado pelo IPPAR como exemplo da arquitectura portuguesa da década de 1970. Merece uma visita. Palavra de lisboeta!

12 de agosto de 2008

A saga continua...

"[Maria Alice] embrenhada nestes tristes pensamentos, e sem saber que rumo dar à vida, nem se apercebeu que um indivíduo com todo o aspecto de marginal se sentara no mesmo banco que ela ocupava e a mirava, descaradamente. Receosa, olhou de soslaio tentando descortinar as intenções do homem; este, como se lesse o seu pensamento, logo lhe tirou qualquer dúvida com as palavras que lhe dirigiu:

- Olá, pombinha! Esperavas alguém que te fizesse companhia? Tens sorte, já que eu ando à procura duma chavala que queira curtir comigo. Manjei logo que és boazona e se quiseres alinhar numas curvas não te arrependerás porque eu sou capaz de dar a volta ao capacete à mais pintada - falando assim o tunante foi-se aproximando até se encostar a ela.

A rapariga, cheia de medo por aquilo que escutara e pelo mau aspecto do rapaz, fez menção de levantar-se suplicando:

- Por favor, deixe-me em paz. Engana-se no que pensa de mim. Sou uma moça séria a quem a desgraça bateu à porta.

- Ora, minha linda, sem tangas; dizeis sempre isso, mas andais sempre todas ao mesmo; eu já topo o vosso paleio - e o vadiola pôs-lhe um braço pelos ombros.

Revoltada, ela pregou-lhe um safanão e aproveitando o seu desequilíbrio correu para fora do jardim. Olhou para trás, e vendo que ele não desistia de a perseguir, na ânsia de lhe escapar, imprudentemente, tentou atravessar a rua. Em tão má hora que foi colhida por um automóvel que circulava a grande velocidade. Ouviu-se uma travagem brusca acompanhada de estridente chiadeira de pneus. Tudo em vão e num ápice, já que o condutor não conseguiu evitar o acidente. O choque deu-se com muita violência. O corpo da desditosa criatura, projectado alguns metros pelo ar, estatelou-se no outro lado da larga via..."

Nota: Excerto de Casei com a Minha Irmã, à venda nas melhores livrarias por €7,58.

4 de agosto de 2008

Palavras mágicas

O texto anterior não fazia sentido sem um exemplo da fina pena de Eurico A. Cebolo. Agradeço à comunidade cibernética as informações e o facto de disponibilizar alguns excertos dos referidos pedaços de prosa.

Eça, Garrett, Pessoa e outros imortais da cultura e das letras portuguesas... Temei!

Sem bem que careça de confirmação, parece que o autor tem uma forma bastante original de terminar os seus romances: com o título da obra em letras maiúsculas!

Cá vai alho!:

- Eu sou freira!, respondeu Maria Teresa, espantada.
- Não!, contrapôs Edmundo. Agora, tu não vestes hábito e a freira morreu quando entrou para o caixão. Deus ressuscitou-te como Maria Teresa, a mãe dos nossos dois filhos!
- Eu dei à luz apenas uma menina, a Adriana, por isso não existe mais nenhum!, rectificou ela.
- E se houvesse também um filho casavas com o pai dele?, indagou Edmundo, esperançado em convencê-la a aceitá-lo.
- Ora, que pergunta!, exclamou Maria Teresa, pensando que ele brincava Se eu tivesse um filho só poderia ser do homem que amasse e, portanto, do meu marido!
- Então, eis o teu filho!
Samuel abraçou-se a ela e, por entre lágrimas, exclamou:
- Mãe! Eu também sou seu filho e de Edmundo. Do seu parto nasceu um casal de gémeos! Aceite o meu pai! Ele ama-a verdadeiramente! Sempre a amou!
Às súplicas de Samuel juntaram-se as de Adriana e, sentindo-se contagiadas, as restantes pessoas que assistiam à cena começaram a pedir alto e com voz ritmada:
- CASA! CASA! CASA! CASA! CASA!...

(...)

Até o Malhado, que salvara Adriana do atentado que Verónica e Marilú lhe haviam preparado e encontrara naquela casa carinho e um abrigo acolhedor, ladrava e abanava a cauda como se quisesse mostrar que concordava com os presentes.
E aquela mulher, a freira mais bonita de sempre do Convento das Cristianas, desejava compartilhar com todos a sua felicidade. Assim, com alguma surpresa para os circunstantes, a sua voz elevou-se como se entoasse uma prece:
- Oh, meu Deus! Eu não mereço tanta ventura! Cumpra-se a Tua vontade!
Seguiu-se uma estrondosa salva de palmas que ecoou pela grande sala.

(...)

Uma nova vida ia começar para aquela que pela sua imensa bondade alcunharam de "santa" e tanto sofrera, mas que por milagre divino se salvara de ser sepultada no cemitério do Convento das Cristianas onde "MATAVAM AS FREIRAS GRÁVIDAS".

31 de julho de 2008

Fina literatura

Quem, como eu, se iniciou nas aventuras musicais da adolescência como autodidacta da viola, decerto tropeçou em alguma ocasião nos livros de solfejo do fascinante Eurico A. Cebolo.

Num tempo em que a Internet era ainda uma miragem e frequentar uma escola de música um luxo, os populares e didácticos manuais deste transmontano nascido em 1938 garantiam a qualquer jovem o primeiro contacto com a clave de Sol, as mínimas, breves e semibreves.

Vem isto a propósito de uma reportagem que vi há dias no sociológico, instrutivo e hilariante programa Liga dos Últimos, da RTP N, que versa sobre o futebol distrital e o Portugal profundo, espalhado pelo Mundo. A dada altura, um casal de emigrantes na Holanda que se dedica a propagandear o desporto-rei lusitano, folheava os livros da sua biblioteca quando alguns deles me despertaram a atenção.

O autor era precisamente o dito senhor Cebolo que, pelos vistos, entretanto enveredara também pela carreira de escritor. Além dos títulos e das curtas sinopses, deixo as sugestivas e coloridas capas dos livros, todos eles edições de autor, tais como, aliás, os manuais de música.

E pensar que comecei a aprender o que era a pauta pela cartilha do Cebolo!

O padre Januário é acusado de ter uma filha, Isabel, e de roubar as jóias dos Mendonça que valiam uma fortuna.

Natália foi difamada publicamente e o seu pai, acusado pela morte do sogro, morre assassinado à sacholada.

Duas crianças, trocadas ao nascer, vivem no mesmo palacete onde a rica ocupou a posição da pobre, de quem passa a ser criada, enquanto a pobre tomou o lugar da rica que odeia e maltrata.

Miriam, uma cristã a quem os romanos cegaram e escravizaram, é condenada a morrer queimada, mas uma poderosa força a protege.

Carmencita, a cigana sedutora, lia a sina nas palmas da mão que lhe estendiam, mas não via nelas o segredo do seu nascimento.

A irmã Teresa, a freira mais linda do Convento das Cristianas, descobriu que ali havia um terrível mistério.

Miguel e Damião amavam-se como irmãos e cresceram juntos numa quinta onde um criado os levou a práticas sexuais aberrantes.

O amor de um cego por uma jovem desfigurada. Um cemitério onde um necrófilo profanava os túmulos para violar as mortas.

Maria Alice é dada como morta no desatre ferroviário de Alcafache. O homem que antes a desonrou casa com a própria irmã.

30 de julho de 2008

O susto

E se, de repente, em pleno Verão, um intrigante barulho interrompesse a tranquilidade da leitura do excelente As Mulheres do Meu Pai, de José Eduardo Agualusa, na apetecível esplanada do café da Praia Fluvial da Peneda, sobranceira ao rio Ceira, na pacata vila de Góis?

Pois é, não fora a mudança de local, por causa do sol abrasador, e não sei o que poderia ter acontecido quando, lá do alto, se desprenderam vários ramos de uma das árvores, arrastando outros na queda e desabando todos, com estrondo, sobre mesas, cadeiras e estrado de madeira.

Refeito do susto, pude depois completar 15 dias de autêntico retiro na serra com a degustação - a conselho de muito boa gente - do imperdível A Sombra do Vento, de Carlos Ruiz Záfon e Aos Olhos de Deus, de José Manuel Saraiva, romance histórico que relata a espampanante embaixada portuguesa enviada por D. Manuel I ao Papa Leão X (Giovanni di Medici), livro de leitura fácil, simples e honesto.

Depois de um período intenso de trabalho, estava mesmo a precisar de paz e descanso, físico e mental.

Nota: A fotografia, tirada da Ponte Real, mandada construir em 1533 por D. João III, é do site do Góis Moto Clube, responsável pela realização num dos fins-de-semana de Agosto da famosa concentração de amantes das duas rodas.

6 de maio de 2008

O raio do careca

Ontem à noite, ao ver mais um episódio do estonteante seriado Californication (não confundir com o excelente álbum dos Red Hot Chili Peppers) - que versa sobre a fascinante vida do escritor Hank Moody, interpretada por David Duchovny (o Mulder dos Ficheiros Secretos) -, houve uma frase no diálogo que teve o condão de me despertar.

Sem publicar uma linha há cinco anos, depois de ter lançado o primeiro livro, o bonzão do Mulder - sim, para mim será sempre o Mulder -, cuja vida na solarenga Los Angeles gira à volta da relação com a filha, a ex-mulher e inúmeras outras mulheres, aceitou o desafio do seu empresário, Evan Handler no original, e começou a escrever crónicas num blogue da sua autoria, local que, segundo o careca judeu e marido da Charlotte em O Sexo e a Cidade, apenas sobrevive se mantiver carácter regular.

Lembrei-me logo do estado do meu blogue, pelo que aqui estou, embora não saiba quando volte e por quanto tempo.

28 de abril de 2008

Regresso adiado

Afinal, ainda não foi desta que regressei a casa - é o que dá ter paredes com três metros de pé direito e pó incrustrado em todo o lado!

Depois do fim-de-semana prolongado passado em limpezas, por causa de obras em casa e no exterior do prédio, pode ser que no dia 1 de Maio - Dia do Trabalhador - seja mesmo de vez.

P.S.: A vontade de blogar ou ler blogues não tem sido muita, para não dizer nenhuma...

17 de abril de 2008

Abaixo alguns rumores

Ouvi uns rumores sobre a possibilidade de o programa das Festas de Lisboa 2008 não incluir este ano o Festival África. Será mesmo assim?

É que, em três anos - um em Monsanto e dois nos relvados da Torre de Belém -, pudemos ouvir, à borla, nomes tão bons e importantes do panorama musical e da cultura do continente negro como Ali Farka Touré, Baaba Maal, Bassekou Kouyaté, Bonga, Cheikh Lô, Lura, Mayra Andrade, Músicos do Nilo, Nancy Vieira, Oumou Sangaré, Sally Nyolo, Tinariwen, Tito Paris, Toumani Diabaté ou Zap Mama.

16 de abril de 2008

O nosso fascinante cérebro...

De aorcdo com uma pqsieusa de uma uinrvesriddae ignlsea, nao ipomtra a odrem plea qaul etãso as lrteas de uma plravaa, a úncia csioa iprotmatne é que as piremria e útmlia lrteas etejasm no lgaur crteo. O rseto pdoe ser uma ttaol cofnsuão que vcoe pdoe anida ler sem gnderas problmeas. Itso aconcete poqrue nós nao lmeos cdaa lrtea isladoa, mas a plravaa cmoo um tdoo.

2 de abril de 2008

Valha-me o Brad

O que fazer quando o afagamento e envernizamento do chão de um simples corredor da casa se transformam numa odisseia de três semanas?

Certamente tentar não stressar - coisa difícil nesta altura, mesmo para mim, o Mr. Cool -, enfiar os auriculares nos ouvidos e ouvir exceltente música.

Como o disco Brad Mehldau Trio Live, recentemente editado pelo meu pianista de jazz favorito - a par do lisboeta Bernardo Sassetti, claro.

17 de março de 2008

Rita Redshoes

«Let's dance, put on your red shoes and dance the blues», canta o David Bowie. A Rita seguiu o conselho e o resultado é o magnífico disco de estreia, Golden Era.

Fiquei com o apetite aguçado ao vê-la actuar no passado mês de Fevereiro, em Torres Vedras, na primeira parte do intimista e excelente concerto do David Fonseca, de quem é teclista residente e para o qual me desloquei propositadamente de Lisboa.

Anunciado para estar à venda a partir de hoje, a FNAC do Chiado já o tinha disponível na sexta-feira.

Canções melodiosas, simples e despretensiosas, voz límpida e cristalina, cara e figura bonitas.

Ouvir o disco todo em http://www.myspace.com/ritaredshoes e mais informações em http://rainbowmaker.blogspot.com/

Proximamente, podem vê-la a fazer as primeiras partes dos concertos dos Shout Out Louds - os tais da música do anúncio da Optimus e que parece o Robert Smith, dos The Cure, a cantar - na Aula Magna, dia 26 de Março, e do David Fonseca, no Coliseu, a 12 de Abril.

7 de março de 2008

22 de fevereiro de 2008

A luz ao fundo do túnel

Quatro dias depois ter sido reaberto, utilizei primeira vez na quarta-feira o túnel do Rossio. Muitas foras as vezes que entrei de comboio pelo buraco que desagua na Baixa de Lisboa, desde a extinta estação de Santa Cruz de Benfica.

A escuridão deu agora lugar à farta iluminação, os carris já não seguem apoiados em toros de madeira e estes na pedra tão característica das linhas ferroviárias - o chão é agora feito do incaracterístico betão e cimento.

Antigamente, os vidros fronteiros da carruagem eram repartidas entre o habitáculo do condutor da máquina e os passageiros. Em petiz, uma das minha predilecções era atravessar o canal na dianteira e ver os dois buracos de luz ficarem cada vez maiores, até se perderem na imensidão da Estação Central.

Mas hoje, em vez do passo lento, a viagem de Campolide ao Rossio demora apenas quatro minutos e à entrada do derradeiro poiso já não se ouve a chiadeira de outrora, quando as duas linhas se multiplicavam no cais.

O trajecto de Benfica ao centro da capital leva apenas sete minutos, mas há que aproveitar cada um deles, pois o bilhete custa €1,15.

13 de fevereiro de 2008

Levantar a mira

Há uns anos, passeava com uma amiga pela Baixa de Lisboa quando nos detivemos a ver postais da capital num pequeno quiosque da Praça D. João da Câmara - o pequeno largo situado entre o Teatro Nacional D. Maria II e a Estação do Rossio.

Resolvi testá-la e peguei numa das imagens que reproduzia a fachada do terminal dos caminhos-de-ferro, agora reluzente:
- Lisboa é uma cidade muito bonita, não é? E tem edifícios espectaculares, não tem? Olha-me só este...
- É lindo! Onde fica?
- Estás a brincar...
- Não...
- Experimenta levantar a cabeça.

Às vezes, em vez de andarmos cabisbaixos, de olhar preso ao chão, num autismo absoluto, bastava levantar um pouco mais a mira para enxergar melhor a beleza que nos rodeia.

Nota: Agradecimentos ao Fred Lopes pela possibilidade de ilustrar esta prosa com a sua bela fotografia.

11 de fevereiro de 2008

Últimos dias

(Coroação do Imperador Nicolau II e da Imperatriz Alexandra Fiodorovna, da autoria do dinamarquês Tuxen Laurits. Óleo sobre tela, 66x87,5 cm, 1898)


(Coroação do Imperador Alexandre III e da Imperatriz Maria Fiodorovna, da autoria do francês Georges Becker. Óleo sobre tela, 108x156 cm, 1888)

Quem ainda não viu vai ter que se apressar, pois a exposição "Arte e Cultura do Império Russo nas Colecções do Hermitage - De Pedro o Grande, a Nicolau II" termina no final desta semana. Os retratos gigantescos e outras pinturas são o principal atractivo, como os dois quadros que acima divulgo e cujas reproduções podem ser descarregadas aqui.

O pormenor quase fotográfico das telas deixam qualquer alma estarrecida, mas por entre o mobiliário, a ourivesaria, os trajes imperiais, baixelas de prata e ouro e serviços de jantar em porcelana, há uma peça assustadoramente inesquecível, incluída na pomposa mala de farmácia ambulante de Pedro I, O Grande - o dilatador anal do Imperador.

A mostra está patente ao público até 17 de Fevereiro, no Palácio da Ajuda, e tem o seguinte horário:
Domingo a quinta-feira: das 11h00 às 19h00 (última entrada às 18h15);
Sexta-feira e sábado: das 11h00 às 22h00 (última entrada às 21h15).
Fecha à quarta-feira.

4 de fevereiro de 2008

A perereca da Amazónia

Durante muito tempo, desde 1898, o imaginário da criançada e dos graúdos sobre a fauna e flora marítimas foi satisfeito ao vivo apenas pelo Aquário Vasco da Gama.

Cem anos volvidos, a pretexto da Exposição Mundial que decorreu em Lisboa, construiu-se o Oceanário.

Agora, desde Março de 2007, existe o Fluviário de Mora, situado no Parque Ecológico do Gameiro daquela terra do Alto Alentejo - sobranceira ao Ribatejo - e que nos permite observar as espécies animais e vegetais que vivem nos rios, desde a nascente ate à foz.

Não tendo a grandiosidade e o fascínio dos outros dois, merece a pena ser visitado, nomeadamente pelo público mais jovem que vive na capital, da qual dista somente hora e meia e pouco mais de uma centena de quilómetros. Mesmo ao lado fica a praia fluvial, igualmente bem arranjada.

As principais atracções do Fluviário são o irrequieto casal de lontras, baptizadas de Mariza e Cristiano Ronaldo (os nomes Amália e Eusébio já estavam tomados pelas do Oceanário), bem como as carnívoras piranhas e a exótica anaconda.

No entanto, o prémio principal ganhou-o a perereca-não-me-lembro-do-resto-do-nome, minúscula e colorida rã venenosa, cujas patas terminam em ventosas, que habita para os lados da Amazónia.

Mais informação aqui.

Post-scriptum: Pode-se almoçar no próprio Fluviário, num restaurante com vista para as lontras, mas O Afonso, no centro da vila, é de passagem obrigatória para quem quer provar as melhores iguarias da região. (A fotografia do bicharoco é do "site" do Fluviário.)

30 de janeiro de 2008

Fiu-fiuu

A iniciativa tem tanto de inovadora e bem conseguida como de irritante. Os cartazes de publicidade da nova campanha da Sagres - o assobio, ou "fiu-fiuu" -, em pleno cais de embarque das estações do Metropolitano de Lisboa, têm por cima uma pequena caixa com um sensor que emite o som do silvo sempre que alguém passa em frente.

Podem imaginar a chinfrineira daquilo nas paragens mais movimentadas. Noutro dia, enquanto aguardava pacientemente pelo comboio, estive a ponto de despir este meu ar tranquilo e pacifista para, num instante acesso de loucura, dar cabo da maquineta.

Felizmente, acabei por ficar quieto e fui despertado pela chegada das ansiadas carruagens, a deslizarem pelos carris subterrâneos todas presas umas às outras em deprimente filinha indiana, mas que me levariam ao destino.

Não haverá por aí um movimento que poupe os nossos frágeis ouvidos da música natalícia no Chiado, das baladas nos elevadores, das canções nos telefones em espera, dos decibéis altíssimos nas lojas e da televisão ligada aos altos berros nos cafés?

29 de janeiro de 2008

O truque da água na boca

Os meus dotes culinários são bastante limitados, mas farto de verter lágrimas a descascar cebolas, resolvi ontem, enquanto preparava a salada para a janta, experimentar um truque ensinado pelo cozinheiro Chacal.

Enchi a boca com água e, depois de sentidas e vigorosas facadas no bolbo de bochechas inchadas, nada de irritação na vista e nem uma pinga vertida dos meus pequeninos olhos. O fenómeno deve ter explicação plausível...

28 de janeiro de 2008

À volta dos Radiohead

Não me recordo bem da primeira passagem dos Radiohead por terras lusitanas, em 1993, quando fizeram a primeira parte do concerto dos consagrados James no Pavilhão do Restelo, em Lisboa, mas das duas seguintes lembro-me bem delas.

Na última, em Julho de 2002, o grupo inglês proporcionou ao público ibérico uma mini-digressão por Lisboa, Porto, San Sebastian, Valência e Salamanca. Apesar de tocarem na Cidade Invicta, resolvi também comprar bilhetes para dois amigos do Porto, de modo a obrigá-los a passarem uns dias de convívio na capital e ajudar a acabar com o preconceito portuense em relação à minha cidade.

Como era de prever, o concerto do Coliseu estava apinhado de gente. A dada altura, apareceu à frente da nossa trupe um tipo aos tombos, a tentar enrolar um charro. Cambaleou mais um pouco, fez um compasso de espera, olhou para nós e, de entre todos, escolheu-me a mim como sendo o tipo que o ia safar:
- Ó pá, tens mortalhas?, atirou ele.

Quem me conhece sabe que seria a derradeira pessoa a conseguir satisfazer tal desejo. Não fumo, nunca fumei, mas o alucinado embicou comigo, vá lá saber-se a razão. Desatou tudo a rir, claro está, principalmente os meus dois amigos nortenhos que, ainda hoje, quando me cumprimentam, não resistem a fazê-lo utilizando uma das seguintes expressões: «Grande Zé das Mortalhas...»; «Olhó mortalhóides...»; ou tão simplesmente «O Mortalhas».

Antes desta ocasião, na segunda aparição da banda em Portugal, no mês de Maio de 1997, os Radioehad resolveram brindar o público português com a primeira apresentação mundial do álbum OK Computer, editado nesse ano e, na minha humilde opinião, um dos mais marcantes discos da história recente da música popular.

Tinha bilhete para ir vê-los ao exíguo Paradise Garage, mas, infelizmente, a minha avó paterna, já acamada em Coimbra com uma daquelas doenças inclementes, viria a falecer na madrugada do dia do concerto, de modo que a família rumou à Beira Alta para as exéquias.

A história terminava aqui, não fora o facto de ter disponibilizado o papelinho mágico a um dos meus amigos, para tal bastando apenas que algum deles contactasse o Nuno U. - ainda não o conheciam, mas era a pessoa que estava na posse do dito. No entanto, mesmo tendo ele deixado o bilhete à porta do local da festança, ninguém apareceu.

Não bastava já o duplo desgosto, como também, por causa deles, não pude reaver o dinheiro do ingresso quando havia muita gente interessada em viver aquele momento mágico. Por razões de segurança e para evitar o enxovalho público, omito os nomes dos comodistas.

25 de janeiro de 2008

Arco-irís sonoro

Brilhante é o mínimo que se pode dizer do disco de regresso dos Radiohead, In Rainbows.

23 de janeiro de 2008

As Pequenas Memórias

Lêem-se quase de uma assentada estas fascinantes «memórias pequenas de quando fui pequeno», segundo refere o próprio José Saramago, a dada altura, no livro.

Pesquiso nos meus imensos arquivos e encontro perspectivas pertinentes sobre o assunto, muitos pontos para reflexão, como na crítica de Maria Alzira Seixo, no Jornal de Letras, aquando da publicação da obra, em 2006: «Quem ler As Pequenas Memórias vê satisfeita a curiosidade de saber como viveu e cresceu este vulto das Letras, e será surpreendido pela lição de briosa humildade que elas contêm, assim como pelo exemplo de trabalho e estudo que fazem, do menino rústico e sem condições, a culta e interventiva personalidade que é Saramago no mundo de hoje. Este exemplo não pode ser entendido como expoente de regra, pois é excepção, mas permite ponderar os resultados do facilitismo no ensino actual, assim como condições que, proporcionadas sem sentido moral e afectivo, não dão frutos».

Noutro local, num artigo publicado no El Pais, algures no Verão passado e a propósito do ponto de situação feito pela ministra da Educação sobre o ensino e o programa Novas Oportunidades, Miguel Mora, correspondente daquele jornal espanhol em Portugal, acrescentou: «Ao ver a precária educação recebida, nos anos de 1930, por aquele menino magro do Ribatejo que o seu pai polícia transplantou para Lisboa, parece quase um milagre (ateu e comunista, claro) que Saramago tenha acabado por ganhar o Nobel da Literatura [em 1998]».

Citando apenas alguns exemplos, Eça de Queirós foi diplomata, homem de Leis e pertencia a famílias aristocratas, Miguel Torga e António Lobo Antunes formaram-se em Medicina e mesmo os mais recentes best sellers Miguel Sousa Tavares e José Rodrigues dos Santos possuem distintos passados (e presentes) académicos e profissionais.

Para os interessados, aconselho igualmente uma vista de olhos no texto da escritora americana Fernanda Eberstadt sobre o visado, nascido na Azinhaga, em 1922, no The New York Times, e que a edição portuguesa do Courrier Internacional deu à estampa em Setembro do ano passado.

10 de janeiro de 2008

A minha Lisboa de outros tempos

Hoje, ao final da manhã, passou por mim um amolador, o afia-facas, a assoprar na sua inconfundível gaita. Diz o povo que apito assim chama a chuva, talvez porque o pobre coitado também trate da saúde aos resguardos da água que cai do céu. Mas os tempos mudaram muito e já nem os guarda-chuvas são os mesmos de antigamente. Nem as profissões. Algumas, pelo menos.

O chichorrobio transportou-me para a minha Lisboa de outrora. Ainda a dos calceteiros e engraxadores. Do padeiro, senhor José, que deixava o pão à porta de casa dos meus pais, apesar de eu morar num prédio de nove andares e três apartamentos por piso.

Do enorme letreiro da farmácia do meu bairro escrito ainda com ph. Dos autocarros verdes de dois andares da Carris, cuja entrada e saída se fazia apenas pela escancarada porta traseira. Do 16C e do 15. Dos eléctricos, agora resumidos praticamente à mítica carreira 28.

Embalou-me também na memória dos lugares perdidos. Do Esboço, em Alfama, o meu primeiro poiso das «noites brancas». Do Chiado, com lojas a sério. Do Éden, do Teatro Monumental, onde eu e a minha irmã vencemos o terceiro prémio num concurso de Carnaval, mascarados a rigor de Pedro e Heidi - eu com a inválida Clarinha, sentada numa cadeira às minhas costas, tipo mochila, e ela com a carneirinho ao colo.

7 de janeiro de 2008

Six Degrees

Para quem a perdeu no AXN, a RTP 2 vai estrear hoje a série Seis Graus, baseada na teoria de que qualquer um de nós está relacionado com outro através de uma cadeia de seis pessoas.

Por coincidência, ou talvez não, deixo uma passagem do livro que acabei de ler, O Vendedor de Passados, de José Eduardo Agualusa, numa carta que José Buchmann escreve ao dito quando está à procura da sua própria mãe, uma tal de Eva Miller.

«Não sei se conhece a Teoria do Mundo Pequeno, também chamada dos Seis Graus de Separação. Em mil novecentos e sessenta e sete um sociólogo americano, Stanley Milgram, da Universidade de Harvard, propôs um curioso desafio a trezentas pessoas, residentes nos estados do Kansas e Nebraska. Esperava-se que estas pessoas conseguissem, recorrendo unicamente a informações de amigos e conhecidos, obtidas através de cartas (isto passou-se num tempo em que ainda se escreviam cartas), contactar dois sujeitos, em Boston, dos quais só sabiam o nome a profissão. Setenta pessoas aceitaram participar no projecto. Três tiveram êxito. Ao analisar os resultados, Milgram percebeu que, em média, havia somente seis contactos entre remetente e destinatário. (...)».

Tem início marcado para as 22h45. Já tinha falado disto aqui.

4 de janeiro de 2008

Saudades

Na languidez do lento e custoso regresso à labuta, ainda não refeito do abuso das saborosas iguarias da quadra natalícia, aguça-me o repentino desejo de voltar a Trás-os-Montes, ao Douro, ao Parque Natural de Montesinho, ao magnífico Gerês, locais do périplo de Outono.

E mergulhar a fundo no imortal Miguel Torga, agora que o Pai Natal me ofertou - certamente porque me portei bem durante o ano velho - as quase 1800 páginas dos 16 volumes do Diário do escritor transmontano, editadas pela D. Quixote em dois calhamaços.

2 de janeiro de 2008

Promessas

Todos os anos dizemos a mesma coisa: esta foi a última vez em que embandeirámos na histeria das compras de Natal. No entanto, os factos e a vivência diária da época festiva desmentem logo tudo.

Em tempos de crise acentuada, nos quais as taxas dos juros do crédito à habitação e do desemprego não param de subir, as compras efectuadas de 1 a 25 de Dezembro e pagas através dos cartões de débito e crédito atingiram o valor máximo de 15820 por minuto entre as 18 e as 19 horas do dia 21.

No total, as transacções electrónicas realizadas em Portugal no mesmo período ascenderam a 2,268 milhões de euros, mais 5,6% do que no ano passado.