29 de abril de 2009

Humor negro em dia cinzento

Esta quinta-feira, grátis com O Inimigo Público, «uma máscara para se proteger da gripe suína (e ainda conseguir lugar sentado nos transportes públicos)».

Mais a sério, não tenho dúvidas que, mais cedo ou mais tarde, haverá mesmo um surto de larga escala de uma gripe qualquer, seja das aves, suína ou de outro tipo. A questão é, dentro do possível, estarmos preparados para quando isso acontecer a valer.

Até lá, evitemos os comportamentos de risco, pois a medicina preventiva sempre foi a melhor de todas!

Nota: A brilhante montagem da fotografia que ilustra esta prosa foi feita pela não menos refulgente equipa d'O Inimigo Público e retirada da página do semanário cómico na Internet. Espero que me perdoem a ousadia e não leve com um processo em cima...

28 de abril de 2009

Afinal, o tamanho importa!

Anúncio de página inteira ímpar (as mais importantes) no Público desta terça-feira:

Para algumas pessoas
O TAMANHO É MESMO IMPORTANTE!
Calma! Estamos apenas a falar do pequeníssimo Siemens Pure CR2, "todo no ouvido", como refere a publicidade, aparelho auditivo de "elevado desempenho como nenhum outro!"

É hoje!

27 de abril de 2009

El 2 de Mayo en Madrid

Na puerta del Sol estão reunidas dez mil pessoas e o gentio espalha-se pelas ruas próximas, desde Montera até à rede de San Luis, bem como pelas calles del Arenal, Mayor e Postas, enquanto grupos armados com bacamartes, garrotes e facas patrulham os arredores, alertando para qualquer presença francesa. Da janela de sacada da sua casa, no número 15 da calle de Valverde, na esquina com a calle Desengaño, Francisco Goya e Lucientes, aragonês de sessenta e dois anos de idade, membro da Real Academia de San Fernando e pintor da Casa Real com cinquenta mil reais de renda, olha para tudo com expressão melancólica.

Por duas vezes mandou embora a sua mulher, Josefa Bayeu, quando ela lhe pediu que baixasse a persiana e viesse para dentro. Em colete, com o colarinho da camisa aberta e os braços cruzados sobre o peito, um pouco inclinada a cabeça poderosa, o pintor mais famoso de Espanha permanece assomado, obstinado, contemplando o espectáculo que vê na rua. Dos gritos do gentio e dos disparos isolados, longínquos, chegam apenas aos seus ouvidos – surdos desde que uma doença os deteriorou há anos – alguns ruídos apagados que se confundem com os rumores do seu cérebro, sempre atormentado, tenso e vivo.

Goya está à varanda desde que, há pouco mais de uma hora, o jovem de dezoito anos León Ortega y Villa, seu discípulo, veio da sua casa da calle Cantarranas pedir-lhe licença para não ir ao estúdio. «Se calhar temos de fazer frente aos Franceses», disse ao pintor, aproximando-se do seu ouvido inválido e levantando muito a voz, como de costume, antes de se ir embora com um sorriso juvenil e heróico, próprio dos seus poucos anos, sem ceder aos rogos de Josefa Bayeu, que o recriminava por correr riscos sem se preocupar com a angústia da sua família.
― Tens mãe, León.
― E vergonha na cara, dona Josefa.

Excerto de Um Dia de Cólera, de Arturo Pérez-Reverte (página 84), obra que fala das “vinte e quatro horas que mudaram o destino de Espanha. Heróis e cobardes, vítimas e verdugos, uma imensidão de nomes que a História apagou ou apenas reteve em listas de mortos e feridos ou relatórios militares. Todos esses homens e mulheres são autênticos e revivem nestas páginas o dia em que os seus gestos mudaram para sempre o destino de uma nação.

A 2 de Maio de 1808, Madrid foi cenário de uma revolução espontânea. O ressentimento gerado pela presença francesa intensificou-se e a população reagiu, por fim, aos abusos de que era alvo.

É a essa população que Pérez-Reverte dá voz em Um Dia de Cólera. Um livro que não é ficção. Que não é um documento histórico. É, sim, uma história colectiva feita de pequenos e obscuros casos individuais. Uma história feita de luz e sombra. De pessoas que nada têm a perder e cuja união gera a cólera de que se fez uma revolução.»

Nota: Duzentos e um anos volvidos conto estar em Madrid para assinalar a efeméride e, finalmente, ver os quadros do Goya e de outros, visto tê-los falhado em anteriores visitas, isto exactamente no mesmo dia de outra peleja clássica na capital espanhola, entre Real Madrid e Barcelona, no campo de batalha do Santiago Bernabéu.

24 de abril de 2009

Liberdade

Dizia o jornalista Adelino Gomes, um dos fundadores do Público, num apontamento de reportagem exibido pelo Canal de História há uns tempos sobre a Revolução de 25 de Abril de 1974:

«Tinha feito os últimos anos do liceu com um companheiro chamado [Salgueiro] Maia, que tinha ido para a tropa e fui à procura para ver se era esse. E era mesmo. Por isso, a primeira coisa que fiz [quando chegou ao Largo do Carmo, onde estava o Maia numa chaimite] foi perguntar-lhe:
“Ouve lá, tu estás com o [general] Kaúlza [de Arriaga] ou com o movimento dos capitães?”
E ele deu-me aquela que é ainda a melhor resposta, a mais bonita resposta, a mais bonita definição do 25 de Abril.
“Tu não tiveste um problema qualquer com a Censura e tiveste que sair de Portugal?”
Fiquei muito admirado que soubesse isso, pois nós nunca mais tínhamos falado. Disse: “Sim, estive na Alemanha”.
“Então, olha, nós estamos a fazer isto para ninguém mais seja obrigado a sair de Portugal por causa daquilo que diz, escreve ou pensa”.
É uma definição lindíssima de liberdade.»

À memória de Salgueiro Maia, o verdadeiro (e injustiçado) capitão de Abril!

Sugestão: Além das inúmeras peças e documentários na RTP, SIC Notícias, TVI 24 e... Canal de História, aproveitem também para ver ou rever no sábado à tarde, na RTP 1, o filme Capitães de Abril (2000), de Maria de Medeiros, feito em homenagem à figura de Salgueiro Maia. No entanto, é demasiado penoso ver as falas dobradas do protagonista (o italiano Stefano Accorsi) e das outras personagens, pois a película foi originalmente gravada em língua francesa, presumo que por questões ligadas à distribuição internacional e participação em festivais.

22 de abril de 2009

16 de abril de 2009

É a crise

Os tempos parecem não correr de feição, a crise chega a todo o lado e atinge todos sem perdão, até a PSP.

Caminhava eu calmamente ontem à noite pela lateral da Avenida da Liberdade, rumo a casa depois de ter assistido no cinema São Jorge ao espectacular documentário Os Tempos de Harvey Milk, quando, na altura em que me preparava para atravessar a passadeira junto ao cruzamento com a Praça da Alegria, reparei num velhinho carro azul da polícia parado ali mesmo ao pé do semáforo com as duas rodas do lado direito em cima do passeio.

A inusitada situação de transgressão causou estranheza a quem passava na rua, peões ou automobilistas, mas rapidamente passou a hilariante – para não falar humilhante – assim que um herculano agente de autoridade saiu da viatura, reuniu todas as suas forças e meteu-se a empurrar sozinho o veículo avariado em plena via pública, isto perante o olhar incrédulo e o sorriso matreiro dos transeuntes.

Por sorte, aquela parte da rua é ligeiramente a descer e, após ganhar algum balanço, o pobre motor do velho Fiat lá voltou a roncar e a dupla pôde prosseguir viagem no encalço dos ladrões.

15 de abril de 2009

Cenas do fim-de-semana pascal

Neve, só a vi ao longe – e a olhar a serra, como se pode comprovar pela fotografia! Algum frio, vento gélido, silêncio quanto baste e pouco para fazer, a convidar o descanso, a conversa, a música e a leitura. Desta vez, o périplo teve direito a visita e dormida noutra aldeia bem pertinho da “minha” – assim grafada entre aspas porque nasci alfacinha de gema – e também não fica longe da de adopção.

A santa noite de sexta-feira, passada entre amigos e em árdua luta com o entrecosto, terminou no enésimo visionamento do fantástico filme A Vida de Brian (1979), dos Monthy Python.

Dizem que uma das características dos Touros, como eu, é serem teimosos – enfiam uma coisa na cabeça e há-de quem as contradiga! Decidira ver pela primeira vez o Ben-Hur, a épica película de três horas e meia realizada por William Wyler, vencedora de 11 Óscares da Academia em 1959, e, após o momentâneo apagão na fase inicial, lá consegui cumprir a estóica empreitada do serão de sábado. O domingo foi de regresso e por isso não conta!

14 de abril de 2009

Eu vou lá estar para ver...

... pois acabo de ganhar um convite duplo na Radar. Aliciante e meio caminho andado para, finalmente, ir ver o filme protagonizado pelo Sean Penn e que lhe valeu o Óscar de Melhor Actor.

"A Midas Filmes vai lançar em DVD o documentário Os Tempos de Harvey Milk, de Rob Epstein e Richard Schmiechen, na quarta-feira, dia 15 de Abril, às 21h30, no Cinema São Jorge (Sala 1), lançamento a que se seguirá uma sessão única do filme premiado com o Óscar de Melhor Documentário em 1984. Esta sessão conta com o apoio do Queer Lisboa – Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa, da Associação Cultural Janela Indiscreta, e da EGEAC, E.E.M.

A seguir à sessão, haverá música no foyer do cinema e serão apresentados alguns excertos dos extras do DVD. A selecção musical, da responsabilidade de Nuno Galopim, vai evocar a contribuição da cidade de São Francisco, em finais dos anos 70, para o desenvolvimento do hi-nrg (ler high energy), uma importante derivação do disco sound que depois ganhou expressão na pop de inícios de 80 e que, na presente década, voltou a cativar a atenção dos entusiastas da música de dança.

Das memórias fundadoras de Patrick Cowley e Sylvester ao presente com Lindstrom, passando por herdeiros vários, dos Pet Shop Boys a Divine, dos Dead Or Alive aos Bronski Beat, dos New Order a Evelyn Thomas."

Texto retirado do Queer Lisboa. Mais informação também em: Ípsilon, Sound + Vision, DN e EGEAC.

Cenas da vida na aldeia

Sou avesso às debandadas cíclicas das multidões nas férias ou em fins-de-semana prolongados, mas existem algumas excepções e uma delas aconteceu precisamente nesta Páscoa. Por força de ainda não ter saído de Lisboa desde o início de Dezembro do ano passado, e devido ao facto de ter tido quatro dias de folga seguidos, decidi sem tormento rumar à Beira Alta nesta apinhada época em que os cristãos celebram a morte e ressurreição do seu salvador, Jesus Cristo.

Por circunstâncias várias, que não vêm agora ao caso, o poiso habitual deixou de ser a terra dos meus egrégios avós e mudou-se de armas e bagagens para território do sogro, igualmente beirão. Desses memoráveis dias guardo religiosamente as festas em honra de São Bento, durante as quais os olhos dos mirones da povoação se viravam para essa excentricidade chamada “menino da cidade”, a azáfama dos preparativos para celebrar todas as ocorrências da quadra, bem como a grandiosa procissão em honra do padroeiro da aldeia, para não falar das concorridas missas, dos galantes bailes e das estrondosas actuações da banda filarmónica.

O auge dava-se quando me escondia do padre benzedeiro que invadia os lares alheios para os abençoar e obrigar os crentes a beijar cruz sagrada, isto perante a acção reprovadora da beata mãe do meu pai.

Dona Aninhas, como era conhecida, ficou viúva tinha eu apenas seis anos e andava na primeira classe, pelo que, sendo o primo mais velho de entre os netos, fui o único a não estar presente no funeral do meu avô Joaquim, de quem ainda guardo lembranças, mesmo que vagas – dizem que herdei muito dele, aliás tal como do do lado materno, embora não o tenha sequer conhecido.

Habituada a estar ainda mais sozinha depois da morte do marido, Dona Aninhas passava grande parte da vida caseira na ampla cozinha, o centro do seu mundo, onde reinava e estava tudo o que precisava. Na fase terminal da vida, tinha por companhia a televisão, o fanhoso rádio de pilhas sintonizado impreterivelmente na onda média da Rádio Renascença – autoentitulada de Emissora Católica Portuguesa – e um dicionário de português, de onde todos os dias retirava uma palavra para acrescentar ao seu léxico, aproveitando sempre a melhor ocasião e qualquer deixa para a exibir orgulhosamente perante os presentes.

E, no meio de tudo isto, apenas há pouco tempo me apercebi da razão por que a naturalidade que está no BI do meu progenitor é Lisboa e não a da dita terreola: Dona Aninhas casou prenha em Agosto dos idos de 1941, uns três meses antes de dar à luz o primeiro dos seus quatro rebentos. A escandaleira que deve ter sido!

1 de abril de 2009

Vício

Banana, laranja e bolacha... Faz-me lembrar a meninice, quando partia as bolachas Maria em pedaços e os atirava para dentro dos iogurtes. Os tempos mudaram e nesta versão apenas sentimos o sabor delas. É como comer delícias do mar em vez de marisco. Mas é a minha perdição!