Os comentários ao texto Onde é que isto vai parar? fizeram-me lembrar algumas palavras do escritor António Lobo Antunes, completamente avesso às novas tecnologias, por alturas do lançamento do seu último livro, Ontem Não te Vi em Babilónia, em Novembro de 2006. «Não tenho cartão multibanco, não sei abrir um computador ou um DVD... Sou uma criatura completamente inútil. Só sirvo para escrever livros».
Uns fazem-no directamente no computador, outros ditam simplesmente o texto a outra pessoa para esta o teclar, poucos usam ainda a máquina de escrever e alguns rabiscam palavras com a sua própria letra, quase ilegível, em folhas de papel. É o caso de Lobo Antunes, autor de As Naus, livro onde coabita «gente conhecida de há muitos séculos, personagens distantes das aventuras históricas, marítimas e muitas vezes trágicas, e que por artes literárias acabam na dimensão de humanos que um dia lhes pertenceu», conforme se lê na lombada. Deixo um pequeno excerto para abrir o apetite...
«(...) Era uma vez um homem de nome Luís a quem faltava a vista esquerda, que permaneceu no Cais de Alcântara três ou quatro semanas pelo menos, sentado em cima do caixão do pai, à espera que o resto da bagagem aportasse no navio seguinte. (...)»
«(...) Ao segundo almoço conheceu (...) um maneta espanhol que vendia cautelas em Moçambique chamado Dom Miguel de Cervantes Saavedra, antigo soldado sempre a escrever em folhas soltas de agenda e papéis desprezados um romance intitulado, não se entendia porquê, de Quixote (...).»
NAVEGADOR DA PASSAGEM - OS CAURIS
Há 3 meses
5 comentários:
É uma falha no meu "curriculo" mas nunca li nada do Lobo Antunes. Gosto, no entanto, (da maioria) das crónicas dele na Visão.
Recomendas, então, As Naus. Ou haverá outro em particular que recomendes mais?
Essa frase é típica do Lobo Antunes, e o excerto que deixaste delicioso. Um dos meus escritores favoritos:-)
SC, confesso que a partir de certa altura desliguei-me do senhor, não conhecendo os best sellers dos últimos anos. Apenas fiquei ligado às crónicas... Mas experimenta Memória de Elefante, livro de estreia, ou um qualquer contemporâneo de As Naus.
Triss, muito mesmo...
Obrigada. Ontem estive na livraria a ver os livros dele, a senti-los para ver qual deles seria o eleito! Tentei-me a comprar as crónicas, mas ainda não decidi.
As crónicas são mesmo uma tentação! :)
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