Passaram ontem 517 anos sobre a chegada de Cristóvão Colombo às Américas, em 1492, ao serviço dos Reis Católicos de Espanha, Fernando e Isabel, isto depois de ter sido posto a andar por D. João II, O Princípe Perfeito.
O ufano queria alcançar as Índias por Ocidente e estava convencido que aportara à Ásia Oriental. Ainda assim, originou um dia feriado no país vizinho e não foi de estranhar os magotes de espanhóis a vaponearem-se pela Baixa de Lisboa durante o fim-de-semana prolongado.
Em baixo, excerto do excelente livro O Navegador da Passagem, de Deana Barroqueiro, onde a certa altura aparece a manhosa personagem (páginas 34-36):
Findava o ano de mil quatrocentos e oitenta e seis e D. João II exultava com os resultados obtidos pelos seus servidores de confiança – navegadores, aventureiros e espiões – tanto ao leme das caravelas de descobrir como nas surtidas dos navios de corso ou no dorso dos camelos das caravanas dos desertos.
– Fizemos o ninho atrás da orelha aos nossos primos de Castela – gabava-se, cheio de confiança, na reunião dos seus homens do mar com os matemáticos, astrónomos e geógrafos da corte. – A descoberta da passagem para o Índico abriu-nos o caminho para as Índias e deu-nos o trato das especiarias que eles tanto cobiçam. (...)
– Ao dobrar o cabo de África, o vosso escudeiro Diogo Cão causou grande despeito ao fanfarrão Cristóvão Colombo – lembrou ainda Mestre Rodrigo das Pedras Negras, o físico d'el-rei, soltando uma discreta gargalhada. – Ele jura e tresjura que a sua derrota é a mais curta do que a nossa, dizendo ainda que o cosmógrafo Piero Toscanelli o aconselha a alcançar a Índia numa viagem de circum-navegação por Ocidente, em vez de ir por África.
– O rebolão ameaça ir oferecer os seus serviços a Castela, se Vossa Alteza não lhe der aviamento – preveniu o escudeiro Pêro da Covilhã, o mais expedito espião d'el-rei, sempre a par de tudo o que se passava dentro e fora da corte.
– Pois que vá muitieramá! Dizer que as Índias estão mais cerca indo para Ocidente parece-me fantasia tirada do livro de Marco Polo e se lhe dei permissão para falar com os meus astrónomos foi para me livrar dele. Talvez assi esse fumoso deixe de me importunar com a jactância dos seus méritos e perícia de navegar. (...)
– Muito do que Colombo sabe de navegação no Atlântico – insistia [Duarte] Pacheco Pereira – aprendeu-o nos nossos navios da derrota da Mina e da Guiné (...)
– Os seus cálculos estão todos errados – assegurou Mestre Rodrigo, com desprezo. – Desconfio que não sabe sequer usar o astrolábio para tomar a altura do sol e calcular a latitude!
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