1 de dezembro de 2009

O feriado religioso

Como acontecia de quando em vez naquela empresa, Javier, responsável ibérico da organização e natural de Madrid, telefonou a pedir tudo-e-mais-alguma-coisa completamente a despropósito. Lá fora, as nuvens carregadas do céu irromperam num pranto pardacento como o Outono invernal.

– Nunca mais é feriado, lamentou ela num grito mudo, bufando por cima da mão que tapava o bocal do aparelho para não ser ouvida. Do lado de cá da linha, o rosto da interlocutora, cujo carácter primava pela serenidade e discrição, exasperava num desatino de fazer dó, a tentar explicar que as coisas não podiam, nem deviam, ser feitas assim.

– Então envia-me isso amanhã logo cedo!, exigiu ele lá do meio da península.
– Amanhã é feriado aqui em Portugal, por isso só na quarta-feira.
Conformado, quis saber mais e peguntou:
– Ai sim? E o que é se festeja?

Após alguns segundos de hesitação, preferiu não lançar mais achas naquela fogueira e, lembrando-se do imberbe mimado que, séculos atrás, os tinha colocado naquela embaraçosa situação, arremessou:
– Acho que é religioso…

A mão apaziguadora da igreja calou o outro lado e, vencido, desligou.

2 comentários:

Anónimo disse...

Onde é que já ouvi isto!? :-)

Mónica P

José Nuno Pimentel disse...

Ah pois Mónica P...