12 de novembro de 2009

A História é redonda como uma bola

Os memoráveis acontecimentos de Berlim (do postado em baixo) deram-se na noite de 9 de Novembro de 1989, na qual muitos dos habitantes da cidade e germânicos orientais acompanhavam ansiosos, em directo pela televisão, o clássico da Taça da outra Alemanha, a Federal, numa partida em que o Estugarda cilindrou o Bayern por 3-0.

Treinava a equipa de Munique um tal de Jupp Heynckes, ilustre teutónico que, mais tarde, passou duas épocas no Benfica (entre 1999 e 2001) sem se quedar nos anais do clube, a não ser por sido com ele ao leme que os "encarnados" averbaram a maior derrota de sempre nas competições europeias.

A goleada de 7-0 infligida pelo Celta de Vigo, na Galiza, onde, numa manifestação de claro fervor clubístico, estiveram cerca de dez mil benfiquistas – entre muita gente minha conhecida esteve uma pessoa frequentadora deste e doutros blogues cujo nome me abstenho de divulgar –, deixou mossa e Heynckes saiu pouco tempo depois sem honra nem glória, mas sem necessidade de ser corrido a tiro.

Por incrível que possa ter sido, dados os antecedentes e a sequência de acontecimentos, também nessa gloriosa noite de Berlim que fez ruir todo o regime ditatorial não foi preciso descarregar chumbada. Aliás, assim de repente, situação semelhante a esta, e de importância comparável, apenas me lembro da Revolução de 25 de Abril de 1974, que deitou abaixo 48 anos de ditadura militar em Portugal.

Pouco antes disso, numa domingueira tarde de 31 de Março, Marcello Caetano aparecera de surpresa no Estádio José Alvalade – onde foi efusivamente aplaudido de pé pela turba que enchia o recinto dos "leões" – para assistir ao 5-3 aplicado pelas "águias" ao eterno rival de Lisboa. Em vão para os visitantes, diga-se, pois o Sporting sagrou-se campeão nacional no final dessa época de 1973/74.

O argentino Héctor Yazalde bisou e Nené respondeu na mesma moeda, numa equipa do Benfica onde pontificavam Humberto Coelho, Toni, António Simões, Jordão e Vítor Baptista, entre outros craques de renome. Logo após, a boa campanha europeia do Sporting na Taça das Taças terminou abruptamente nas meias-finais às mãos do Magdeburgo, precisamente da República Democrática da Alemanha.

Os "verde-e-brancos" empataram a um golo a primeira mão, realizada em Lisboa, tendo sucumbido depois por 2-1 na viagem a terras alemãs. Este encontro aconteceu a 24 de Abril de 1974, véspera do Dia da Liberdade, momentos antes de Paulo de Carvalho entoar os versos da canção E Depois do Adeus, a senha da revolução e, quem sabe, algum prenúncio também da eliminação sportinguista.

Na Grande Enciclopédia dos Europeus de Futebol, do Diário de Notícias, obra ímpar na língua de Camões sobre a história do desporto-rei editada em 2004, conta-se um episódio curioso, de como o Sporting falhou, literalmente, o derrube da ditadura pátria: "No regresso de Magdeburgo, com o Aeroporto de Lisboa fechado, o Sporting teve de viajar de autocarro desde Madrid, mas em Badajoz encontrou a fronteira fechada. Só a custo, o presidente leonino, João Rocha, conseguiu que a equipa entrasse finalmente em Portugal, 48 horas depois de ter saído da Alemanha Oriental."

1 comentário:

Tiago disse...

Eu NÃO estava nessa cidade galega cujo nome me esqueci.