A meio do século XVIII, pouco tempo antes do devastador terramoto de 1755, Lisboa é uma cidade de ruas estreitas e sujas. Há imundices acumuladas por todo o lado e reina a anarquia, com mendigos e vagabundos a deambular pela «rainha do Tejo». Fraca consolação para D. João V,
O Magnânimo, cujo reinado foi inundado pela riqueza do ouro e pedras preciosas vindas do Brasil e que permitiram a construção do Aqueduto das Águas Livres, destinado a abastecer a capital de água potável, e do megalómano Convento de Mafra, com cerca de 4500 portas e janelas e onde chegam a trabalhar cinquenta mil homens. Situado nos arredores de Lisboa e pouco utilizado, apenas a escola de escultura, dirigida inicialmente pelo italiano Alexandre Giusti, mostrou alguma utilidade: foi lá que se formou o talentoso escultor Joaquim Machado de Castro, a quem se deve, entre outras, a estátua equestre de D. José I. Esculpida em bronze, passará a adornar o centro da Praça do Comércio após a reconstrução de Lisboa, impulsionada por Sebastião José de Carvalho e Melo, o marquês de Pombal.
Violentamente destruído pelo sismo, o Terreiro do Paço fica irreconhecível, mas é o palco onde se lamenta o desaparecimento dos entes chegados, pois não há uma única casa em Lisboa que não se chore a morte de um marido, de um pai ou de um irmão. O rei D. José I, cuja fraqueza de carácter era do conhecimento geral, sente-se desamparado. Deixa a capital e só voltará vinte anos mais tarde, para inaugurar a sua estátua, já no final do reinado. Ambicioso, pragmático, autoritário e pouco dado a sentimentalismos, o marquês de Pombal, ministro da Guerra e dos Negócios Estrangeiros, assume então a chefia dos negócios do reino. O primeiro objectivo é «enterrar os mortos e cuidar dos vivos». Oriundo da baixa burguesia, esta constitui a oportunidade da sua vida. E não a desperdiça. Instala no Terreiro do Paço o quartel-general e inicia a árdua tarefa de recuperar a cidade da destruição.
Tal como toda a zona da Baixa, o Terreiro do Paço é reconstruído no mesmo lugar, mas parece ter outra dimensão devido ao desaparecimento dos antigos edifícios que o circundavam. Pombal sonha fazer da Praça Real, para seguir a designação atribuída pelo próprio, o verdadeiro fórum da cidade. É assim que o Palácio Real, a Casa da Índia e o Palácio dos Corte Real são substituídos por compridos edifícios com arcadas, onde ficam sediados ministérios, tribunais, serviços alfandegários, a Bolsa e o Arsenal da Marinha.
Adaptado de
História de Lisboa, de Dejanirah Couto