«(...) Devolvam-nos o Terreiro do Paço. Corram com os tapumes dali (...) e voltem lá a pôr o Cais das Colunas. Dez anos depois, é o mínimo exigível». Miguel Sousa Tavares, in Expresso (20/01/2007)
A 20 de Setembro de 1540, no Terreiro do Paço, Lisboa assiste ao primeiro auto-de-fé, autorizado por D. João III. Nesse dia, há vinte acusados, mas somente seis sobem à fogueira: três suspeitos de bruxaria - duas mulheres e um homem - e outros tantos cristãos-novos. Verdadeira expressão da dramaturgia do Barroco, o auto-de-fé torna-se o acontecimento mais grandioso e popular da vida lisboeta. Os cadafalsos, autênticas obras-primas da carpintaria, chegam a atingir quarenta metros de comprimento e vinte de largura.
É daquela bela praça que a multidão se despede de D. Sebastião quando ruma a Marrocos, com escala em Lagos, para a louca demanda africana e é lá que o povo se junta depois para lamentar a morte d'O Desejado e o desaparecimento dos entes chegados, pois não há em Lisboa uma única casa em que não se chore a morte de um marido, de um pai ou de um irmão. É lá, ainda, que a turba se acotovela para saudar o desembarque do rei Filipe III, de Espanha, e na altura também de Portugal.
Reconquistada da independência aos espanhóis - o domínio filipino durou sessenta anos, de 1580 a 1640 -, o Terreiro do Paço recebe os festejos em honra da duquesa de Mântua, Margarida de Sabóia, nomeada para governar Portugal, bem como as festas de casamento da infanta Catarina de Bragança, filha de D. João IV e D. Luís de Gusmão, com Carlos II de Inglaterra (1662) e de D. Pedro II com Maria Sofia de Neuburgo (1687), devidamente assinalados com duas touradas, acontecimentos bem ao gosto dos lisboetas - até à construção da praça da Junqueira, para os lados de Belém, a mando de D. Maria, o Terreiro do Paço será o local privilegiado dos espectáculos tauromáquicos.
Adaptado de História de Lisboa, de Dejanirah Couto
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