(Ou de como, finalmente, já não aparece destacada a fotografia do Jonah Falcon em pelota quando se acede a este blogue!)
Depois de muita persuasão e críticas elogiosas, lá fui experimentar o
caffè latte da Starbucks, no Chiado. Ao contrário de muitos, confesso não sentir especial apreço pela irritante técnica, em voga naquele estabelecimento, segundo a qual se deve tratar os clientes pelo respectivo nome e fazê-lo várias vezes no espaço de
micronanosegundos – antes, durante e depois de estes fazerem os respectivos pedidos.
– Boa noite, o que vai tomar?
– Queria um
latte, por favor.
– E como se chama?
– … [nome].
– Um
latte para o [nome]. Mais alguma coisa [nome]?
– Não!
– Obrigado [nome], volte sempre [nome].
(Momentos depois… quando chega o
latte)
– Um
latte para o [nome].
– Obrigado.
– [nome], se quiser tem ali açúcar e coberturas…
Nem me posso queixar muito. Conheço gente de determinada empresa cujo nome provocaria, certamente, enorme burburinho numa simples ida àquela loja, pois responde por Anatide, Estaline e Querubim, só para citar os nomes mais prosaicos. A estranheza de Possidónio [Cachapa], Desidério [Murcho] e Onésimo [Teotónio de Almeida] não levou estes professores/escritores a optar por encontrar pseudónimo a assinar os seus saborosos textos, mas curiosa é a história relacionada com o apelido de outro português ilustre, José Saramago, contada pelo próprio em
As Pequenas Memórias.
Segundo o Prémio Nobel da Literatura, Saramago não era apelido paterno, mas sim a alcunha por que a família era conhecida na aldeia: “(…) indo o meu pai a declarar no Registo Civil da Golegã o nascimento do seu segundo filho, sucedeu que o funcionário (chamava-se ele Silvino) estava bêbado (por despeito, disso o acusaria sempre meu pai), e que, sob os efeitos do álcool e sem que ninguém se tivesse apercebido da onomástica fraude, decidiu, por sua conta e risco, acrescentar Saramago ao lacónico nome José de Sousa que meu pai pretendia que eu fosse. (…) graças a uma intervenção por todas as mostras divina, refiro-me, claro está, a Baco, deus do vinho e daqueles que se excedem em bebê-lo, não precisei de inventar um pseudónimo para, futuro havendo, assinar os meus livros. Sorte, grande sorte minha, foi não ter nascido em qualquer das famílias da Azinhaga que, naquele tempo e por muitos anos mais, tiveram de arrastar as obscenas alcunhas de Pichatada, Curruto e Caralhana (…)”.
Mas o que é um nome? Para os judeus assunto de enorme importância, sem dúvida, mas também o seria para o emigrante alemão nos Estados Unidos, nascido em 1904, que tem nome de baptismo para cada letra do alfabeto, o último dos quais, impronunciável para nós humildes falantes da língua de Camões, o da família: Adolph Blaine Charles David Earl Frederick Gerald Hubert Irvin John Kenneth Lloyd Martin Nero Oliver Paul Quincy Randolph Sherman Thomas Uncas Victor William Xerxes Yancy Zeus Wolfeschlegelsteinhausenbergerdorff.
E, quanto ao
latte, é bom e reconfortante, nomeadamente nos dias mais frios!